Opinião GP: brilhante em Xangai, Alonso indica que finalmente pode colocar fim à dinastia de Vettel na F1

Com um carro muito bem acertado para corrida, Fernando Alonso venceu ao melhor estilo Michael Schumacher. Dominante do início ao fim de um GP marcado pela tática e a degradação enorme dos pneus, o espanhol já se credencia favoritíssimo ao título de 2013

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EM 2012, QUANDO TEVE NAS MÃOS um carro que beirava o pífio, Fernando Alonso mostrava ao mundo porque é um dos grandes da F1: brigou de igual para igual uma luta desigual com Sebastian Vettel e sua Red Bull bem acertada e, por muito pouco, não ficou com o tricampeonato. Tricampeonato que, a julgar pela sua performance maiúscula no GP da China, no último domingo (14), poderá vir nesta temporada. Fernando destruiu a concorrência e venceu com um pé nas costas em Xangai, lembrando um certo Michael Schumacher, que só faltava fazer chover correndo nos seus áureos tempos pela Ferrari. 

Com o resultado, Alonso subiu para terceiro no Mundial, atrás de Vettel e do consistente Kimi Räikkönen. Mas poderia ser líder, não fosse a vacilada na Malásia há três semanas.

Diante de uma Red Bull tomada pela discórdia e pelo péssimo clima interno com a briga entre Vettel e Mark Webber, Alonso pode tirar proveito disso e, cerebral que é, disparar no campeonato, ainda mais porque os taurinos aparentam não ter um carro tão eficiente em ritmo de corrida quanto a Ferrari de Fernando. Isso ficou evidente na Austrália e também na China. Tendo completado apenas duas voltas em Sepang, Alonso, que parecia o único credenciado a lutar contra a dupla da Red Bull pela vitória, ficou pelo caminho.

Mas independente do que poderia ter acontecido ou não, fato é que Alonso e a Ferrari finalmente têm um conjunto piloto-carro que poderá quebrar essa dinastia Vettel-Red Bull, que já perdura desde 2010. Maranello não construiu um carro forte em classificação, mas como as corridas estão cada vez mais táticas e complexas, muito por conta desses pneus que se esfarelam em poucas voltas, o que importa mesmo é o ritmo de corrida. E é aí que a Ferrari começa a deixar a concorrência no chinelo, sobretudo com o espanhol. 
 
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Alonso provou na pista que finalmente pode colocar fim ao domínio da Red Bull na F1 (Foto: Getty Images)

Felipe Massa, por outro lado, melhorou consideravelmente, é outro piloto em relação àquele opaco que guiava o carro vermelho em 2012, é verdade. Mas falta ter a mesma consistência de Fernando em ritmo de corrida, talvez porque não esteja conseguindo ter a mesma desenvoltura do companheiro de equipe para lidar com esses pneus ‘quebra-cabeça’ desenvolvidos pela Pirelli.

Além de Alonso, que brilhou mais do que ninguém no domingo, a corrida chamou a atenção pelas variadas táticas de pit-stop por conta dos pneus autodestrutíveis, que aguentaram apenas poucas voltas em Xangai. E aí, o que acabou acontecendo foi uma inversão completa de tudo o que se entende por automobilismo: ao invés de acelerar e buscar o limite até o fim, o piloto é obrigado a poupar equipamento, até mesmo abrir mão de lutar por posição, pensando no fim da corrida, lá na frente. Uma vergonha.

No Opinião GP desta segunda-feira pós-GP da China, os jornalistas do Grande Prêmio comentam suas impressões a respeito da corrida em Xangai, que deixou o Mundial ainda mais equilibrado, mas que começa a se desenhar tendo um favorito mais destacado ao título, ainda que este favorito, Alonso, no caso, entenda que é muito cedo para afirmar isso.
 

“Três provas, três vencedores diferentes de três equipes diferentes. Como se previa, o campeonato começa mais ou menos como o do ano passado. Com um detalhe nada desprezível: Alonso teve um início de temporada bem pior em 2012, com um carro lamentável. E ainda assim lutou pelo título até o fim. Agora, tem uma caranga bem mais que razoável. Pode não ser um foguete em classificação, mas é honestíssima em ritmo de corrida. E, nessas condições, ele sabe o caminho das pedras”, escreveu Flavio Gomes, diretor da Agência Warm Up.

O jornalista destacou a performance do vencedor do domingo e avaliou a corrida: “Mais interessante do que boa. Alonso nunca teve a vitória ameaçada. O que é uma ótima notícia para ele e para a Ferrari. Num determinado momento, o rádio disse que ele não precisava ir tão rápido, que podia dar uma segurada. A resposta do espanhol foi na algo na linha ‘e quem disse que estou indo rápido?’”. Definitivamente, Fernando sobrou em Xangai.

Victor Martins, editor-executivo do Grande Prêmio e da Revista Warm Up, também elogiou o trabalho do espanhol e o coloca como grande adversário da Red Bull nesta temporada. “Fez uma prova à parte, tranquila e soberba, e até parecia que poderia andar mais forte. A Ferrari tem um carro muito bem acertado para corridas. E pensando além, Vettel vai ter uma dificuldade imensa neste ano para conquistar o tetra. Os italianos acharam o caminho, a verdade, a vida”.
 
Os pneus foram o grande problema de Massa em Xangai (Foto: Getty Images)

Martins também escreveu a respeito de Massa, que soma 30 pontos após três corridas. Desempenho maiúsculo em comparação ao começo do Mundial de 2012, quando zerou entre os GPs da Austrália e da China, mas é preciso melhorar alguns pontos. “Massa só foi bem na primeira parte, depois sumiu. Alegou que os pneus estavam dando sinal de arrego. Ora, o pneu é o mesmo para todos, e os de Alonso estavam bem, obrigado. A não ser que o acerto do carro não fosse dos melhores, o que se pode entender é que Felipe não trata os Pirelli da forma correta.”

Quanto à performance dos pneus em Xangai, Ivan Capelli, blogueiro e colaborador do GP e da Revista Warm Up, criticou a influência dos compostos nas corridas, algo que acaba ocultando o verdadeiro potencial de alguns pilotos do grid. “É compreensível que a FIA tenha buscado criar mais variáveis nas corridas com pneus com características diferentes, mas os pneus macios e supermacios desenvolvidos pela Pirelli são um absurdo completo”.

“São bons por duas voltas, depois se degradam e viram um peso que o piloto deve carregar. Dessa forma, o regulamento que obriga o uso de tipos de pneus torna inútil um stint de cada piloto. A situação é tão esdrúxula quanto forçar Usain Bolt a correr a primeira metade dos 100 m rasos equilibrando um ovo numa colher. É preciso mudar. Para uma categoria que se adora definir como o ‘ápice da tecnologia no automobilismo’, a situação é vergonhosa”, acrescentou Capelli.

Embora sem o mesmo brilho supremo de Alonso, outros pilotos se destacaram positivamente: caso de Kimi Räikkönen, que mesmo com a dianteira do seu carro avariada por conta de um toque no irregular Sergio Pérez — aliás, o que se passa com os mexicanos da F1? —, venceu o duelo com Lewis Hamilton, que tem um foguete em classificações, mas apenas um carro mediano em corridas. Ainda assim, Lewis fez boa corrida e já fez bem mais em três corridas do que Schumacher em três anos pela equipe alemã.
 
O sétimo lugar de Daniel em Xangai foi seu melhor resultado na carreira (Foto: Getty Images)

Quem também merece menção honrosa é Jenson Button. Que grande piloto é o britânico, que vem tirando leite de pedra de um carro mal nascido e conquistou seu melhor resultado na temporada. Claro que o quinto lugar não representa muito para uma equipe com a história gigantesca da McLaren, mas é o que tem para hoje. Pérez, por sua vez, nem isso consegue: já são duas corridas sem pontuar, enquanto Button vai somando pontos importantes aqui e ali ao passo que espera por dias melhores — e por um carro melhor. 

E para fechar a lista dos destaques positivos em Xangai, eis que Daniel Ricciardo, que surpreendeu Button por estar no rol dos dez primeiros do grid no sábado, surpreendeu não só o britânico, mas praticamente a todos com um ritmo bastante consistente. Não foi à toa que ele conquistou seu melhor resultado, não só na temporada, como na carreira. O sétimo lugar no GP da China foi muito comemorado por uma Toro Rosso sofrida e combalida com os fracos resultados dos últimos anos.

Dentre os novatos, porém, só Jules Bianchi, 15º na China, tem se salvado. “Valtteri Bottas caiu numa barca furada na Williams. Esteban Gutiérrez tem sido deprimente. Encheu a traseira de Adrian Sutil no final da reta numa manobra que lembrou Satoru Nakajima em seus bons tempos. Max Chilton apanha de Bianchi na Marussia e consegue ficar atrás até de Charles Pic, um piloto muito do mequetrefe, com uma péssima Caterham. Aliás, Giedo van der Garde, outro estreante, apanha feio do mesmo Pic. Tomou um minuto, com carros iguais, em Xangai. Aí se vê que a geração tem muito dinheiro no bolso para pouco braço ao volante. Enquanto isso, Kamui Kobayashi não tem cockpit pra correr. Tá tudo errado.”
 
Gutiérrez deu vexame e segue sem convencer na F1 (Foto: Twitter/XPB Images)

No domingo que vem, a F1 encerra sua primeira fase oceânico-asiática com a realização do GP do Bahrein. A título de comparação, em 2012 Vettel deixou Sakhir na liderança do Mundial depois de lá vencer, sendo um indicativo do potencial que ainda estava por vir no restante da temporada. Potencial que, em 2013, parece estar do lado vermelho da força, com Alonso.

Opinião GP é o editorial semanal do GRANDE PRÊMIO que expressa a visão dos jornalistas do site sobre um assunto de destaque, uma corrida específica ou o apanhado do fim de semana de automobilismo.

 
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