Diante de escolha difícil, Mercedes trava negociações do mercado de pilotos da F1

A Fórmula 1 vive uma das mais estranhas temporadas de especulações dos últimos anos. Mesmo com os grandes nomes assegurados, há vagas interessantes ainda no grid, mas parece que, neste momento, a Mercedes guarda a chave para o desenrolar das negociações. A principal equipe do campeonato tem um dilema a resolver: ficar com a opção mais segura ou apostar em uma promessa? Até a decisão, todo o resto permanece esperando

Fosse uma janela de transferência como acontece no mundo do futebol, a Fórmula 1 estaria em plena fase de negociações, mas uma decisão trava todo o mercado. A Mercedes, neste momento, retém a chave para destrancar as demais conversas e assinaturas de novos contratos e renovações. A principal equipe do campeonato tem uma escolha difícil a fazer para a temporada 2020 e, a partir do que ela optar, o restante do grid – e até mesmo quem está fora – será capaz também de tomar um rumo para o futuro.
 
Como aconteceu com a Ferrari no ano passado – quando tinha de resolver o dilema entre ficar com o experiente Kimi Räikkönen ou promover o novato Charles Leclerc –, a esquadra chefiada por Toto Wolff precisa escolher quem será o companheiro de Lewis Hamilton no ano que vem. Depois de muitas especulações, que envolveram até mesmo o nome de Max Verstappen, o dirigente austríaco deixou claro que está dividido entre dois pilotos apenas: o atual titular, Valtteri Bottas, e o jovem talento, Esteban Ocon, oriundo do programa da marca alemã e que ficou sem cockpit em 2019, tendo de assumir o cargo de piloto reserva e de desenvolvimento dos prateados. Portanto, é uma decisão complicada e que pode comprometer também o futuro da equipe na F1.
 
Antes de falar a razão pela qual o grid espera a Mercedes, é bom entender o que está em jogo para os pentacampeões. Bottas foi e continua sendo a opção mais segura para Wolff. O dócil finlandês foi chamado às pressas pela estrela de três pontas quando Nico Rosberg decidiu abandonar a F1, depois do título conquistado em 2016. Sem muito tempo, a cúpula prateada preferiu o certo ao duvidoso.
Valtteri Bottas ou Esteban Ocon? A difícil escolha da Mercedes (Arte: Rodrigo Berton)

E de fato, Bottas fez o que se esperava dele. Não incomodou Hamilton e trouxe um ambiente harmonioso e de paz para dentro das garagens prata. Além disso, e mais importante, ajudou a equipe a conquistar o Mundial de Construtores. Por isso, o acordo foi renovado para 2018. Na temporada passada, no entanto, Valtteri viveu um ano complexo: perdeu oportunidades de vencer, com situações fora de seu controle, mas também sofreu uma queda de rendimento. Não obteve vitórias, mas, ainda assim, auxiliou o companheiro inglês e a própria equipe. Talvez por isso tenha tido uma nova chance. Wolff também possuía a opção de Ocon e até mesmo de Daniel Ricciardo, que estava insatisfeito na Red Bull. Não saiu atrás de nenhuma delas e, de novo, preferiu um porto seguro.

 
Já em 2019, o finlandês vem também cumprindo sua missão, ainda que com ressalvas. É verdade, o nórdico venceu duas vezes – as duas surpreendendo Hamilton e mostrando força –, foi pole em quatro oportunidades, inclusive na Inglaterra. É o vice-líder do Mundial, embora com poucas chances de oferecer resistência ao líder. Mas o que pega mesmo é que o #77 ainda tem performances muito irregulares, como ficar por voltas e voltas atrás de Lance Stroll na pista molhada. A seu favor está a convivência pacífica e sem ameaças com Hamilton, além dos pontos que vai captando para a equipe.
 
Mas talvez as duas últimas atuações antes do início da pausa das férias possam arruiná-lo, uma vez que o chefe prometeu uma decisão para esse intervalo de descanso. Bottas errou feio na Alemanha e perdeu uma chance até de vencer. Na Hungria, largou mal, caiu lá para o fundo do grid e chegou apenas em oitavo, depois que a equipe projetou um sexto lugar. São imagens nebulosas.
 
A outra opção de Wolff é Ocon. O rápido e ambicioso francês já mostrou que pode incomodar. É um futuro rival para Verstappen e Charles Leclerc, por exemplo. Precisa ser lapidado, mas tem brio e a força mental necessária para guiar um carro prateado. Quer dizer, para a Fórmula 1, seria espetacular a promoção de Esteban. Mas para a Mercedes talvez nem tanto. Com fome de mostrar a que veio, a chance do jovem de alterar o ambiente dentro das garagens é enorme, além de uma possível concorrência mais dura com Hamilton, que já terá enorme resistência fora, com o amadurecimento de Leclerc e o fortalecimento de Verstappen. É algo que faz pensar.
Lewis Hamilton terá poder de opinar sobre o companheiro de equipe (Foto: AFP)

O pentacampeão, claro, já disse não se importar com quem vai dividir a equipe, mas ele é o grande trunfo da Mercedes, por isso, terá peso na decisão que a Mercedes vai tomar, como assegurou Toto Wolff. "Em primeiro lugar, esse tipo de decisão é tomada exclusivamente em função do interesse da equipe, mas Lewis está com a gente há muito tempo, por isso apresentei a ele uma lista curta para saber sua opinião. Ele pensa como nós, que ambos merecem um lugar na equipe", disse o austríaco ao ‘La Gazzetta dello Sport’, acrescentando que “uma escolha será feita nas próximas semanas”.

 
Wolff também já havia garantido que, uma vez que a escolha tenha sido feita, o derrotado vai receber ajuda para se recolocar no grid. E é aí que o mercado pode comçar a destravar o mercado. Para onde vai o piloto que sobrar? E como? “Há ofertas para ambos”, disse ainda o chefão da Mercedes.
 
Até onde se sabe, a Ferrari está fechada, com ambos os pilotos assegurados até o fim do ano que vem. Sem chance. O mesmo pode-se dizer da McLaren, que ressurge a olhos vistos e já tratou de tirar do mercado seus dois talentos. 
 
Mas a Red Bull, que já se movimentou com a troca entre Pierre Gasly e Alexander Albon, é um lugar incerto para 2020: falou-se muito sobre uma surpreendente contratação de Nico Hülkenberg, mas, certamente, um eventual Ocon seria impossível, dado o histórico com Verstappen – a grande estrela da equipe. De qualquer forma, parece pouco provável que os energéticos apostem em alguém de fora das fileiras do programa. Por essa razão também a Toro Rosso estaria fora de cogitação. 
 
Só que tudo pode acontecer. Afinal, Daniil Kvyat está aí e não deixa mentir. 
Nico Hülkenberg também é destaque do mercado de pilotos (Foto: Renault)
A Renault, por outro lado, chama a atenção. Não é segredo que Hülkenberg está insatisfeito com os franceses. Já bateu boca pelo rádio e admitiu incômodo com ordens de equipe. Sem a valiosa opção da Red Bull, a Haas pode ser um caminho para o alemão. Para o seu lugar, Ocon seria uma boa pedida, resgatando o acordo quase firmado no ano passado – a esquadra de Cyril Abiteboul escolheu Ricciardo no último instante. E o francês agrada muito a equipe do losango, até por questões comerciais. 
 
Mas se Esteban for promovido pelos prateados, também não representa uma vaga ruim para Bottas se realmente ficar disponível. Será um retrocesso – muito embora a saída da Mercedes por si só já configure uma derrota. 
 
Já a Haas é um território esquisito. Apesar de Günther Steiner passar pano para a terrível dupla Romain Grosjean e Kevin Magnussen, alguém ali não vai seguir com os americanos por mais uma temporada. E mesmo que seja uma garagem das mais excêntricas, há potencial de crescimento. Só que, por conta da parceria com a Ferrari, Bottas ou Ocon terão de se desligar da nave mãe. O mesmo pode-se dizer da Alfa Romeo – que ainda não confirmou se vai ou não seguir com o inconstante Antonio Giovinazzi. É claro que aí há outras opções: no time de Gene Haas, Pietro Fittipaldi é o reserva, enquanto na equipe da marca italiana, Mick Schumacher pode até ser cogitado, ou mesmo Pascal Wehrlein, hoje ligado à fábrica de Maranello. 
 
A Racing Point poderia ser um caminho natural, dada a parceria técnica com a Mercedes. Porém, a vaga que resta por lá deve ser ocupada mesmo por Sergio Pérez. Então, a Williams é quem surge no horizonte. George Russell, também piloto prateado, vai muito provavelmente seguir com os ingleses mais um ano. O lugar que deve se abrir é exatamente o de Robert Kubica. Assim, ali há uma chance e que faria sentido, especialmente tratando-se de uma equipe que está desesperada por desenvolvimento e grana.
 
É claro que o grid não se resume aos dois comandados de Wolff, mas não se pode negar o peso das negociações que envolvem a Mercedes e as consequências para a formação de 2020. E tanto é verdade que o mercado segue parado, aguardando os próximos passos dos alemães. 
 

A Fórmula 1 atravessa um momento de pausa para as férias de verão na Europa, e volta às pistas somente em setembro, com o GP da Bélgica, em Spa-Francorchamps. O GRANDE PRÊMIO acompanha tudo AO VIVO e em TEMPO REAL.

 

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