Coluna Parabólica, por Rodrigo Mattar: Cheiro de decadência no ar

É sem dúvida uma novidade de peso, mas – repito – é puro desespero de causa. Perder Edwards foi um duro golpe nas pretensões de uma escuderia que se apega ao passado para poder olhar para o futuro sem olhar apenas para glórias pregressas. Vamos ver se em 2015 a Roush conseguirá se reerguer dos escombros...

Quando comecei a comentar as corridas da Nascar, quando a divisão principal ainda se chamava Winston Cup Series, há mais de uma década atrás, uma equipe fazia história nas pistas estadunidenses. A Roush Racing chegava ao seu primeiro título com Matt Kenseth, bisando o feito com Kurt Busch no ano seguinte. Parecia que começava, ali, uma era de dominação e títulos dos carros com o oval azul da Ford. Só parecia…

A Roush Racing, através da figura do seu fundador Jack Roush, sempre foi uma das organizações automobilísticas mais respeitadas dos EUA. Esmerada na preparação de motores, a Roush era uma das principais griffes da Ford, assim como a Yates – que também era representada nas pistas por uma escuderia, a Robert Yates Racing. Falar em motores com blocos Ford em território ianque era quase o mesmo que se referir a Roush e a Yates.

Nascar (Foto: Getty Images)

Estreando na Nascar em 1988, a equipe acumula quase 5 mil corridas disputadas nas três principais séries da categoria, além de 316 vitórias (135 na Sprint Cup, 131 na Nationwide e 50 na Truck) e 222 poles. É, sem dúvida, um cartel fantástico, que atesta a excelência do time do velho Jack, hoje com 72 anos e com sede em Concord, na Carolina do Norte.

Mas números não são capazes de sustentar uma equipe, por melhor que ela seja. E hoje a Roush Racing é uma sombra do que normalmente era – e não faz tanto tempo assim. Em 2011, por exemplo, Carl Edwards bateu na trave: quase foi campeão da Sprint Cup, mas perdeu o título para Tony Stewart por acumular menos triunfos que o adversário num ano em que os dois terminaram rigorosamente empatados na pontuação.

E pouco a pouco, a equipe foi perdendo o que tinha de melhor – seus pilotos. Kurt Busch caiu fora e rumou para a Penske. Matt Kenseth foi buscar novos ares na Joe Gibbs Racing e estes ares fizeram-lhe tão bem que no ano passado o piloto fez sua melhor temporada de sempre na Sprint Cup. Agora é a vez de Edwards pedir o boné e ir embora.

Podia ser pior: Jack Roush correu o risco de perder também Greg Biffle, que hoje é o mais antigo integrante da casa nas pistas. O piloto de 44 anos, que chegou ao time por recomendação direta do veterano Benny Parsons, quase seguiu o mesmo caminho de Edwards. Com uma força dos patrocinadores, a renovação de contrato foi alinhavada e anunciada antes da Brickyard 400, em Indianápolis.

Na véspera da corrida vencida por Jeff Gordon, foi anunciado o lineup para 2014, com Biffle, Ricky Stenhouse Jr. e a nova aposta, Trevor Bayne, que substituirá Carl Edwards. Este último nem guiará mais para qualquer equipe da Ford na Nascar, pondo fim a especulações que o tinham como terceiro piloto da Penske. O caminho do piloto do #99 deverá ser o mesmo de Matt Kenseth: a Joe Gibbs Racing, num quarto Toyota Camry. Logicamente, nenhum anúncio foi feito ainda, porque algumas questões – em especial de patrocínio – ainda não foram resolvidas.

A formação Biffle-Stenhouse-Bayne é, disparadamente, a pior da história do time de Jack Roush na Sprint Cup. Ninguém contesta a experiência de Biffle, que já pode ser considerado na curva descendente da parábola. Mas Stenhouse, o namorado de Danica Patrick, é um piloto sem brilho e Bayne, por mais que tenha vencido uma Daytona 500, também vem devendo em suas aparições pontuais na Wood Brothers e também na própria Roush, pela Nationwide Series.

São apostas de risco, sem dúvida alguma, para um time que não vê títulos há uma década e que tem passado um pouco longe das vitórias. Carl Edwards ainda ganhou duas provas nesta temporada, é verdade – mas perto da pujança demonstrada noutros anos, o caminho natural é a decadência, que pode vir de forma gradual ou mesmo de modo avassalador.

A Ford também se sente desconfortável: o status de melhor equipe da marca na Sprint Cup e também na Nationwide Series hoje pertence à Penske que, não custa nada lembrar, jamais tinha trabalhado com a turma de Detroit antes do ano passado. Em dois anos, Roger Penske mostrou a Jack Roush como uma equipe pode ser competitiva com os Fusion e Mustang.

Como uma cartada final para evitar a decadência definitiva, Jack Roush apelou para os serviços da “Raposa Felpuda” Mark Martin, o maior vencedor da história do time (em duas décadas, acumulou 83 triunfos). Aos 55 anos e recém-aposentado, o velho Martin foi chamado para ser o “tutor” de Stenhouse – que ainda não decolou na Sprint Cup e do futuro piloto do #6, Trevor Bayne.

É sem dúvida uma novidade de peso, mas – repito – é puro desespero de causa. Perder Edwards foi um duro golpe nas pretensões de uma escuderia que se apega ao passado para poder olhar para o futuro sem olhar apenas para glórias pregressas. Vamos ver se em 2015 a Roush conseguirá se reerguer dos escombros…

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