Conta-giro: com passos guiados por Barros, Torres usa base do motociclismo espanhol na busca pelo sonho da MotoGP

Sob a tutela de Alex Barros, principal nome do motociclismo no Brasil, Lucas Torres chegou às categorias de base da Espanha para perseguir o sonho do Mundial de Motovelocidade. Piloto brasileiro é hoje parte da Monlau, a escola técnica que formou pilotos como Marc e Álex Márquez e Fabio Quartararo

Assim como acontece na F1, chegar a MotoGP exige esforço, tempo e muito treino. Embora o dinheiro também seja um fator — especialmente naqueles times que seguem o regulamento Aberto —, a maior parte dos pilotos vem de mercados tradicionais, onde as categorias de formação contam com boa estrutura, grid cheio e muita competitividade.

Nesse cenário, fica quase impossível que um piloto do Brasil consiga alcançar a elite do motociclismo. Ao longo da história, foram pouquíssimos os brasileiros que alcançaram a classe rainha do Mundial de Motovelocidade, com Alex Barros aparecendo como maior expoente do esporte nacional.

Além do pouco apoio de empresas brasileiras aos pilotos daqui que querem se aventurar no exterior, também pesa o fato de as categorias nacionais terem ignorado os jovens por muito tempo, sem oferecer a eles condições de desenvolvimento e aperfeiçoamento.

Lucas Torres chegou na base da Espanha com o apoio de Alex Barros (Foto: Equipe Sanderson)

Sem uma base forte, é certo dizer que, tirando aquelas exceções que aparecem de tempos em tempos, os pilotos do Brasil têm um déficit em relação àqueles criados em países como Espanha e Itália. Assim, a mudança para os celeiros europeus aparece como um passo absolutamente necessário para qualquer um que almeje voos mais altos.

A mudança para o exterior, entretanto, não é garantia de sucesso, já que precisa ser feita no momento e com a estrutura certa. E tudo isso, claro, custa dinheiro.

Nos últimos anos, o Brasil deu alguns passos na direção certa para desenvolver jovens talentos. Nesse sentido, duas categorias se destacam: a Honda Júnior Cup, da Superbike Series, e a GPR250, da Moto 1000 GP, o Campeonato Brasileiro.

Com experiência nas duas categorias, Lucas Torres fez as malas e partiu para a Europa. Aos 15 anos, o piloto de São Paulo conseguiu uma vaga na Monlau, uma das mais importantes escolas de formação da atualidade, responsável pela concepção de talentos como Marc e Álex Márquez, Fabio Quartararo, Jorge Navarro e María Herrera, por exemplo.

 A chegada do piloto à escola gerida por Emilio Alzamora tem as mãos de Alex Barros, que chefia a equipe que foi defendida por Lucas na GPR250 no ano passado. Graças ao trabalho do ex-piloto, que soma sete triunfos na classe rainha do Mundial — Jarama em 1993, Holanda e Alemanha em 2000, Pacífico e Valência em 2002, e Portugal em 2005 —, Torres vestiu as cores do School Team Estrella Galicia 0,0 para disputar o Campeonato da Espanha de Velocidade, uma categoria sob a chancela da RFME (Real Federação de Motociclismo da Espanha) na categoria Pré-Moto3.

Em entrevista ao GRANDE PRÊMIO, Lucas, que começou a carreira por influência dos tios, reconheceu que não teria chegado onde está sem o apoio de Alex.

“Sem a ajuda do Alexandre, não seria possível vir para a Espanha e ser um piloto da Estrella Galicia 0,0 na categoria Pré-Moto3”, disse Lucas. “O Alexandre me ajudou muito para chegar onde estou agora. Sem a equipe dele, não seria fácil”, reforçou.

Alex, porém, não foi o primeiro a guiar os passos de Lucas no motociclismo. Antes de chegar à equipe de Barros, o jovem contou com a ajuda do piloto e jornalista Gian Calabrese.

Lucas começou a carreira na Honda Júnior Cup (Foto: Donini Produções/Divulgação)

Questionado sobre o quão importante foi a base brasileira em sua formação, Lucas respondeu: “Cada campeonato de que eu participei foi ótimo”.

“O primeiro foi com um instrutor, Gian Calabrese, que, no começo, me deu muitas dicas e me ajudou bastante nas técnicas”, contou. “Fui evoluindo e consegui entrar na equipe do Alexandre Barros, onde sabia que seria a melhor equipe para eu crescer. Ele me ajudou muito, me deu muitas dicas, me ensinou bastante e me fez usar muitas técnicas diferentes”, seguiu.

A mudança para o Velho Continente também serviu para escancarar as fraquezas das categorias de formação no Brasil.

“Na Espanha tem moto em todos os lugares. Desde os quatro anos as crianças já estão treinando, fazendo corridas. È muito além do que o pessoal imagina”, opinou. “No Brasil, temos um atraso em motovelocidade. Os pilotos começam mais tarde, e não temos circuitos iguais aos da Espanha. Não temos a força que eles têm na motovelocidade”, reconheceu.

Apesar de já ter contado com a tutoria de um ex-piloto do Mundial de Motovelocidade, Torres encontrou na Monlau um novo mundo. A escola espanhola tem como objetivo principal a formação não só de pilotos, mas também de mecânicos e engenheiros.

Indagado sobre como é o trabalho na Monlau, Lucas contou que os espanhóis cuidam das coisas nos mínimos detalhes.

“É muito profissional e específico. Há cuidados em cada detalhe para orientar os pilotos da melhor maneira possível”, relatou. “A Monlau me ensina como me comportar dentro e fora do circuito. Me ensina como interagir com o técnico, o posicionamento em cima da moto e me mostra como é um piloto do Mundial”, continuou.

 Como se o trabalho da Monlau já não fosse bom o bastante, a escola espanhola firmou uma parceria com a cervejeira Estrella Galicia e a equipe belga Marc VDS no fim do ano passado que garante aos seus pilotos a possibilidade de ir das categorias de base à elite do motociclismo dentro de uma única estrutura.

Apesar de ser uma mesma ‘família’, a relação com os pilotos das classes maiores é pouca, mas os representantes das classes menores treinam juntos.

“Minha relação com o pessoal é muito boa, são todas pessoas legais, falam normalmente comigo e me tratam muito bem”, relatou. “Eu, Sena Yamada e Aron Canet treinamos juntos, divido quarto com Aron Canet, atual líder do CEV, e são todos pessoas boas”, afirmou.

Torres foi vice-campeão da GPR250 (Foto: Equipe Sanderson)

Agora correndo na Espanha, Lucas também precisou modificar seus treinos, que passaram a ser mais constantes.

“São treinos mais constantes. Cada volta tem que melhorar e não pode perder tempo, tem de se empenhar bastante. Os treinos são mais fortes, requerem mais do físico e mais atenção e concentração para fazer bem. O traçado da Espanha é diferente do Brasil, o posicionamento, a freada, a aceleração, listou.

E a cobrança também vem de Alzamora, o nome mais conhecido da Monlau para quem vê a escola de longe.

“Ele é uma pessoa muito profissional no que faz, se empenha muito no trabalho e é muito experiente”, falou Lucas ao GP. “Quer sempre que nos esforcemos mais, para sempre melhorar e progredir na pista”, continuou.

Na temporada 2015, Torres já disputou quatro etapas da Pré-Moto3 e tem como melhor resultado um 16º lugar na etapa de Albacete, que abriu o campeonato.

“É uma categoria bem disputada”, exaltou Lucas. “Em 1s tem mais de dez motos, todas andando bem perto. É um pouco difícil, mas tudo é questão de tempo e adaptação”, ponderou.

“A cada prova e treino vou melhorando mais, superando meus obstáculos e trazendo resultados para equipe”, relatou. “Espero melhorar cada vez mais e dar o meu melhor em cima da moto e fora dela, aprender sempre”, frisou.

Ainda em idade escolar, Torres divide seu tempo entre Brasil e Espanha, mas garante que as viagens não estão atrapalhando seus estudos.

“Fico três meses na Espanha volto para o Brasil. Fico um mês e volto de novo para Espanha”, explicou. “A escola está sendo um pouco difícil, porque tem que dar atenção para os dois de forma igual, já que ambos são importantes. Não é nada impossível, só ter força de vontade que dá para conciliar os dois”, assegurou.

A participação na Pré-Moto3 também exigiu uma mudança nos hábitos do jovem piloto, que teve de se acostumar a fica longe da família.

“Está sendo uma ótima experiência, estou aprendendo bastante com as pessoas, aprendendo a falar espanhol, que é uma língua que eu sempre quis falar, e está sendo fantástico”, contou Lucas. “No começo como era tudo novo, tive algumas dificuldades, era um pouco difícil ficar sem minha família. Tentava me distrair o máximo para não pensar neles, falava com amigos e amigas para passar o tempo e me acostumar, mas com o amor pelo que eu faço, eu lutei e superei esse obstáculo”, disse. “Tive dificuldade também, no começo, para me acostumar com a moto, com a pista, que é bem diferente, e com a equipe, mas está sendo tudo muito bom”, ressaltou.

Por fim, ao ser questionado qual seu objetivo na carreira, Torres foi claro: “Quero me empenhar muito para ir para o Mundial de MotoGP. “Estou trabalhando, dando meu melhor, para isso acontecer. Meu objetivo é ser um piloto profissional de MotoGP”, encerrou. 

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