Coluna Indy Rocks, por Hugo Becker: Helinho, a faca, o queijo e a goiabada

Castroneves já é o melhor piloto brasileiro da atualidade há tempos. Pela terceira vez na carreira, consegue fechar a primeira trinca de provas do ano na liderança do campeonato. Em um cenário bagunçado, com coadjuvantes dividindo vitórias e adversários desencontrados, o brasileiro tem tudo para reescrever a própria história e levar o título

 
Helio Castroneves tem boas razões para comemorar seu bom início de temporada. Se o desempenho da Penske em 2013 não é nada de outro mundo, o brasileiro, por sua vez, aproveitou ao máximo as oportunidades que apareceram, e chegará a São Paulo como líder da classificação.
 
Para se ter uma ideia da grandeza do feito, Helinho, que neste ano completa 15 temporadas na Indy – sempre unificando as estatísticas dos tempos em que Champ Car e IRL estiveram separadas –, conseguiu chegar como primeiro colocado à quarta etapa de um campeonato em apenas outras duas oportunidades: 2006 e 2008.
 
Na memorável disputa de 2006, o brasileiro assumiu a primeira posição da tabela após a vitória em St. Petersburg, segunda prova do ano. Vencendo duas das quatro corridas seguintes – e encerrando o ano com quatro triunfos –, Castroneves abriu vantagem, mas depois perdeu desempenho e, também, a taça.
 
O título não veio por detalhe: Sam Hornish Jr. foi campeão no critério de desempate, já que terminou com os mesmos 475 pontos de Dan Wheldon, mas teve uma vitória a mais que o britânico. Helio fechou o ano com 473, míseros dois pontos atrás dos dois líderes.

Apesar de ter sido terceiro colocado na tabela, tecnicamente – se é possível aplicar isto neste caso –, ele foi o vice-campeão.
 

Helio Castroneves (Foto: Getty Images)
Dois anos depois, o cenário foi bastante semelhante ao da atual temporada. Assim como em 2013, após três corridas, o brasileiro ainda não havia vencido, mas ponteava o campeonato. 
 
Oportunista, Helinho conseguiu sustentar a primeira posição até a sexta etapa, em Indianápolis, mesmo sem vitórias até lá. Scott Dixon, na ocasião, foi quem lhe robou a liderança.

O neo-zelandês terminaria o ano de 2008 com a taça, 17 pontos à frente do brasileiro, vice-campeão: 646 a 629.

 
Como se vê, apesar da ausência de títulos, o histórico favorece Castroneves. Nas únicas duas vezes em que fechou como líder a primeira trinca de provas de uma temporada, o brasileiro viu a conquista máxima escapar por muito pouco. Mas após duas temporadas como coadjuvante, o piloto ensaia voltar a ser protagonista e lutar ponto a ponto pela conquista deste ano. É a taça que lhe falta, e que seria merecidíssima, por sinal.
 
Para fazer justiça àquele que, há tempos, é o melhor piloto brasileiro da atualidade e o único que sempre entra em um campeonato com chances reais de ser campeão, vamos a alguns números, frios e reveladores, como sempre.

Helinho é o quarto maior vencedor entre os pilotos do grid deste ano, com apenas quatro vitórias a menos que Dario Franchitti e Sébastien Bourdais. Nos números agregados, ambos contam com 31 triunfos, contra 27 do piloto da Penske. Entre eles, aparece Dixon, com 29. 

 
Curiosamente, entre os quatro pilotos mais bem-sucedidos em atividade, o brasileiro é o único não-campeão, estando à frente de campeões como Tony Kanaan e Ryan Hunter-Reay, por exemplo.
 
Pode parecer inimaginável que Helinho consiga levantar a taça pela primeira vez, após tantos e tantos anos batendo na trave. Seu estilo polido, pouco vibrante e mais técnico do que arrojado, pode até sugerir falta de combatividade nesta altura de sua carreira.
 
Mas em um campeonato que se apresenta tão equilibrado como o atual – com a rival Ganassi ainda desencontrada, corridas embaralhadas, protagonistas como Franchitti e Power enfrentando uma série de problemas incomuns, e coadjuvantes como James Hinchcliffe e Takuma Sato dividindo as vitórias, sem, no entanto, exercer algum tipo de domínio –, aquele que for mais oportunista e tiver mais frieza para aproveitar as oportunidades, será o campeão de 2013. 
 
A conjunção é, talvez, a mais favorável de toda a sua carreira.
 
Por tudo isso, Castroneves parece ter conseguido reunir, pela primeira vez, um cenário externo altamente favorável, a experiência de derrotas anteriores e um carro que pode não ser brilhante, mas que lhe permite estar sempre entre os primeiros.

A faca, o queijo e a goiabada, portanto.

Fazer disso um 'Romeu e Julieta' é mais fácil do que parece, e nem exige nenhum tipo de mágica especial. Apenas fome e razoável habilidade.

Certamente, pelo histórico, o brasileiro se manterá na luta pela taça até o fim do campeonato. Que lá na reta final, não repita os mesmos pequenos erros que o fizeram perder suas maiores chances. Que possa, enfim, saborear a glória máxima. Que seja capaz de reescrever o final de sua história.

Senão o doce azeda. De novo.

 
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