Todos contra Red Bull na F1 2023: como chegam os times à maratona europeia de julho

A Fórmula 1 entra em uma fase frenética a partir do GP da Áustria, e o que acontecer agora também tende a definir o que esperar da segunda metade do campeonato, após as férias do verão europeu. Por isso, o GRANDE PRÊMIO traça uma análise da ordem forças do top-5 do grid, que tem a Red Bull na liderança

Antes da Fórmula 1 iniciar a reta final da primeira metade da temporada 2023, com o GP da Áustria deste fim de semana, o GRANDE PRÊMIO faz um balanço da hierarquia de forças entre as cinco melhores equipes do grid até o momento, uma vez que a análise do restante do pelotão está aqui, da cambaleante McLaren à perdida AlphaTauri. A chamada F1 ‘A’ também vem em camadas por causa do domínio acachapante da Red Bull.

A equipe dos energéticos comanda o Mundial e foi a única a vencer nessas primeiras oito etapas do campeonato. O RB19 se mostrou ainda melhor que seu antecessor e permitiu que Max Verstappen tirasse proveito de um carro veloz e novamente versátil.

Neste ponto do ano, os atuais campeões não têm mesmo adversários, mas a vida dos taurinos será melhor detalhada mais à frente. Antes é importante entender como se desenha essa parte superior da tabela, começando pela assimétrica Alpine.

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ALPINE

Antes de ganhar as manchetes por conta da venda de parte das ações para um grupo de investidores que tem como nome mais proeminente o ator Ryan Reynolds, a Alpine tenta não só se consolidar como quinta força do grid, mas também se aproximar da tríplice batalha entre Aston Martin, Mercedes e Ferrari. Do ponto de vista mais real, no entanto, essa tarefa parece cada vez mais difícil, especialmente pela forte maneira como as três vem crescendo na temporada, sobretudo as duas primeiras. E ainda que os franceses tenham promovido mudanças importantes no A523 — seguem no esquema de levar atualizações contínuas corrida a corrida —, o resultado da tabela ainda é modesto, fruto de um desempenho inconstante e de falhas de confiabilidade. Dá a impressão de que a Alpine está sempre um passo atrás, porque o carro parece muito bom em volta lançada, daí a performance mais vistosa em classificação, porém costuma oscilar muito em ritmo de corrida.

Até o momento, a equipe chefiada por Otmar Szafnauer tem nas ruas do Principado sua melhor apresentação no ano, muito em função do brilhantismo de Esteban Ocon. Poderia ser melhor, a lambança da parte final do GP da Austrália prejudicou demais a pontuação, mas é certo dizer também que a própria equipe se coloca muitas vezes em situações difíceis, por tomar decisões equivocadas sem estratégia. O GP do Canadá é o exemplo mais recente. Esteban terminou em oitavo, mas Pierre Gasly sequer teve chance de chegar aos pontos — Carlos Sainz atrapalhou a definição da posição de largada, mas a Alpine também não acertou a escolha dos pneus e a tática de prova.

Portanto, a esquadra francesa precisa de alguns passos largos à frente na tentativa de se aproximar do grupo da frente, essencialmente da Ferrari nesta fase. E isso inclui tomar decisões acertadas. Para a Áustria, o time pretende levar uma asa dianteira nova. Mas não terá tempo de testá-la adequadamente, uma vez que o fim de semana no Red Bull Ring conta com a sprint. De toda a forma, a ideia principal é tirar proveito da velocidade do circuito austríaco e entregar uma performance mais consistente no domingo.

A Alpine ganhou fôlego com pódio de Ocon em Mônaco (Foto: AFP)

FERRARI

Não é por acaso que a Ferrari ocupa a quarta posição na ordem de forças da temporada 2023. A equipe italiana ainda atravessa uma fase complexa e carregada de erros. É tão esquisita a condição ferrarista que nem dá para dizer se há potencial ou não na SF-23. Pesa sob os muros de Maranello as trapalhadas constantes em pit-stops, estratégias, atualizações apressadas e uma irritante falta de comunicação. E como se isso tudo não bastasse, os dois pilotos também vivem um ano de desempenho que vai de uma apatia total a incidentes inexplicáveis — que resultaram, inclusive, em punições, anulando qualquer chance de uma melhor apresentação. Por isso, neste momento do campeonato, a escuderia não é capaz de entrar em uma briga maior com Aston Martin e Mercedes, enquanto a Red Bull sequer faz parte do cenário.

O GP do Canadá foi um clássico ferrarista. O time de Frédéric Vasseur desembarcou em Montreal com a expectativa alta de fazer seu mais novo pacote de atualizações funcionar — as novidades foram implementadas no carro durante o fim de semana da etapa da Espanha, em Barcelona. O grupo de engenheiros trabalhou para proporcionar maior velocidade de reta, além de aprimorar o downforce. Houve também um foco grande em entender o desgaste de pneus, que é o calcanhar de Aquiles do modelo vermelho. A corrida no Gilles Villeneuve terminou com sinais positivos para os italianos: a degradação foi menor e o carro mostrou maior ritmo de prova. Mas poderia ter sido melhor não fosse a condução equivocada na classificação.

Charles Leclerc errou em suas voltas no Q2, o pit-wall não soube ler corretamente a situação do asfalto. Resultado: mais uma vez, o monegasco ficou fora do Q3. Sainz, por sua vez, teve a manha de não só parar na frente de Gasly e tirar do francês a chance de avançar ao Q2, como também atrapalhou Alexander Albon. Os comissários foram firmes e o puniram com a perda de posições no grid. O que salvou foi o desempenho de domingo e o raro acerto na tática de paradas nos boxes. No entanto, a lista de bobagens da Ferrari no ano ainda a coloca em uma posição de pouca confiança.

Na Áustria, os ferraristas preparam um novo pacote — parte dele foi testado essa semana em Fiorano, em dia de filmagens. O setor de aerodinâmica se concentrou na parte dianteira, o que inclui a asa, mas também no piso frontal. E na parte inferior da carroceria. É mais um passo na tentativa de alcançar as ponteiras, mas terá também de combinar isso com os pilotos e com quem está nas garagens.

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MERCEDES

Ainda que apareça na segunda colocação do Mundial de Construtores, a Mercedes ainda não tem o segundo melhor carro do grid. Na verdade, os octacampeões seguem tentando entender o próprio projeto. A equipe alemã vive agora sob um novo conceito aerodinâmico, depois do fiasco do zeropod. Desde o ano passado, já estava claro que aquela configuração era complexa demais e bastante limitada em termos de desenvolvimento. O time dobrou a aposta e pagou caro por isso. Precisou abrir mão completamente da ideia e se voltar para soluções convencionais, buscando no grid um norte para tentar recuperar terreno. Foi dessa forma que nasceu o W14 ‘B’ — muito embora a equipe não o nomeie assim.

Por causa do cancelamento do GP da Emília-Romanha, a Mercedes só conseguiu colocar o novo carro em Mônaco, talvez o pior lugar para atualizações, uma vez que a pista singular do Principado responde pouco às novidades. Ainda assim, o chefão Toto Wolff acertou ao não esperar a Espanha, era preciso começar a compreender as mudanças. Mas foi mesmo uma semana depois que o cenário se tornou um pouco mais claro para os engenheiros em Brackley. Em uma Barcelona mais padrão, enfim foi possível colocar à prova o trabalho de meses. A classificação foi agridoce: enquanto Lewis Hamilton foi quarto, George Russell acabou eliminado antes do Q3. Porém, a corrida contou uma história diferente. O novo W14 apresentou um ritmo muito forte e até semelhante ao carro taurino. O pódio duplo saltou aos olhos e abriu uma enorme expectativa.

Só que o Canadá acabou por revelar que a Mercedes ainda tem muito trabalho com esse modelo revisado. O time investiu muito na parte dianteira, sobretudo na suspensão, e isso promoveu uma melhor sensação aos pilotos. O assoalho foi redesenhado, assim como os sidepods, com o objetivo de melhorar a passagem do ar e proporcionar maior equilíbrio. O carro não consome pneus, mas ainda tem como ponto frágil as curvas de baixa velocidade, como se viu em Montreal. O ritmo seguiu consistente, mas não o suficiente para encarar a Red Bull. No momento, o alvo real dos alemães é mesmo a Aston Martin.

A Áustria, portanto, representa mais uma etapa desse processo de evolução. A natureza do circuito é o ponto forte, porque o W14 gosta de trechos velozes, então possivelmente a Mercedes terá uma chance maior de colocar seus dois pilotos no pódio — aliás, é bom dizer aqui: a dupla é a qualidade maior da esquadra da estrela. Hamilton e Russell erram pouco e se completam.

ASTON MARTIN

A Aston Martin é a grata surpresa da temporada 2023. Depois de um salto de qualidade de 2022 para esse campeonato, a equipe verdinha empilhou pódios e grandes performances, sempre com Fernando Alonso. É justo dizer que o AMR23 é um projeto bem-nascido e que tem como ponto forte o downforce. Não é tão veloz em linha reta quanto o RB19, mas é equilibrado e possui um baixo desgaste de pneus. Essas características, além da habilidade do bicampeão espanhol, ajudaram o time a se fortalecer como segunda força do Mundial, ainda que atualmente ocupe o terceiro lugar entre os construtores. Houve, é verdade, um revés importante e que até colocou dúvidas sobre a capacidade de desenvolvimento da Aston Martin, mas isso parece já passado.

Acontece que o time chefiado por Mike Krack optou por um caminho diferente da maioria das equipes do grid, que tradicionalmente usam a etapa de Barcelona para promover as atualizações. A Aston Martin preferiu esperar até o Canadá.  E os engenheiros comandados por Dan Fallows se concentraram em aprimorar o assoalho, bem como em um novo desenho dos sidepods. As mudanças tiveram como objetivo garantir equilíbrio e downforce, além de promover maior velocidade em linha reta, na tentativa de se aproximar daquilo que faz a Red Bull.

E os primeiros sinais foram positivos. O desempenho ao longo do fim de semana em Montreal comprovou a eficácia das mudanças. O ritmo de classificação foi notável, embora haja um enorme crédito à pilotagem de Alonso na pista encharcada do Gilles Villeneuve. É importante destacar aqui que o espanhol e a equipe tomaram decisões acertadas no desenrolar da sessão. Mas foi na corrida que a Aston Martin revisada ofereceu uma imagem mais nítida. Apesar de perder a segunda posição para Hamilton, Alonso imprimiu um ritmo fortíssimo durante grande parte da prova. Tanto que foi capaz de superar o heptacampeão da Mercedes na pista e não permitiu ser incomodado por ele. Aliás, no bloco intermediário da prova, chegou a ter uma performance semelhante ao que Verstappen apresentava na ponta. A única ressalva foi mesmo quando houve uma preocupação com relação ao combustível, que fez o asturiano reduzir o desempenho, para assegurar o pódio.

Quer dizer, a equipe de Lawrence Stroll acertou nas atualizações e se tornou mais forte, por isso ocupa a vice-liderança desta análise. Também como a Mercedes, a Aston Martin aguarda ansiosa pelo GP da Áustria. O traçado veloz será um novo teste para esse pacote e, possivelmente, uma validação da posição do time frente não só aos octacampeões, mas também à Red Bull. Na real, é Alonso quem aparece mais perto da meta de encarar Max Verstappen. E deste ponto de vista, a escuderia verde só tem um problema: Lance Stroll não acompanha essa performance, o que abre chance para que Mercedes e Ferrari pulem à frente.

Max Verstappen, Fernando Alonso e Lewis Hamilton formaram um pódio de respeito no Canadá (Foto: Jared C. Tilton/Getty Images)

RED BULL

Não é um grande segredo dizer que a Red Bull é a equipe que melhor interpretou e soube tirar os detalhes do regulamento do efeito solo na Fórmula 1. Mesmo com horas a menos no túnel de vento, Adrian Newey e sua equipe foram capazes de colocar na pista um carro altamente vencedor, mas também muito versátil. Tanto que só os taurinos venceram na temporada 2023, com enorme destaque para a performance cada vez mais assertiva de Verstappen. O RB19 é um modelo ainda mais excepcional que seu antecessor e parece funcionar bem em todo tipo de pista e condição.

É bem verdade que o carro teve poucas atualizações, mas novidades precisas. Até a simplicidade da Williams serviu de inspiração, e isso diz muito sobre Newey. Mas é também na pilotagem séria e constantemente forte de Max que está a receita de sucesso da Red Bull em 2023. E o único elo fraco, de fato, é Sergio Pérez. O mexicano venceu duas vezes, mas sucumbiu à pressão quando foi ventilada a possibilidade de disputa de título. Verstappen respondeu ao avanço do companheiro de equipe em Miami e aniquilou qualquer chance. Desde então, Pérez caiu de rendimento e não é capaz sequer de incomodar as rivais.

Ainda assim, bater a equipe dos energéticos agora parece algo irreal — mesmo que o passo à frente dado por Aston Martin e Mercedes represente a última esperança de uma repetição do que aconteceu em 2019, quando a própria Red Bull e a Ferrari melhoraram e tornaram a disputa contra a então dominante Mercedes mais divertida.

GRANDE PRÊMIO acompanha todas as atividades da Fórmula 1 2023 AO VIVO e EM TEMPO REAL. A próxima etapa está marcada para este fim de semana, entre 30 de junho e 2 de julho, com o GP da Áustria. Na sexta-feira, no sábado e no domingo, há também a segunda tela, em parceria com a Voz do Esporte.

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