Renault fortalece ponto fraco, surpreende e enfim dá sinal de vida competitiva

‘Calcanhar de Aquiles’ desde o início da era híbrida na F1 para a Renault, o motor foi justamente o fator determinante para a escuderia de Enstone alcançar seu melhor resultado conjunto em mais de dez anos com o quarto lugar de Daniel Ricciardo e o quinto posto de Nico Hülkenberg no GP da Itália. De quebra, o time se coloca de vez na briga pelo quarto lugar nos Construtores

A Renault foi a grande surpresa do fim de semana do GP da Itália de F1. Constante desde os treinos livres em Monza, Daniel Ricciardo e Nico Hülkenberg mantiveram a boa forma até a corrida, terminando como a terceira força da prova, somente atrás de Ferrari e Mercedes. Ricciardo, grande reforço para 2019, marcou um quarto lugar, seguido pelo atual companheiro de equipe. A performance dos carros aurinegros chamou a atenção porque Monza é talvez o circuito mais exigente ao motor em todo o campeonato. E o motor é, desde o início da era híbrida, o grande ‘Calcanhar de Aquiles’ da Renault.
 
Claro que, em termos de resultado em Monza, a Renault acabou sendo beneficiada, de certa forma, pela punição sofrida por Max Verstappen pela troca de componentes da sua unidade de potência. Mas nada que desabone a melhor atuação conjunta da Renault desde o GP do Japão de 2008, quando Fernando Alonso venceu em Fuji e Nelsinho Piquet foi o quarto. Ou seja, foi o melhor resultado do time de Enstone desde seu regresso à F1, em 2016.
 
A partir de 2014, com a adoção das novas unidades híbridas na F1, a Renault viu a supremacia da Red Bull, sua então parceira, ruir com a ascensão da Mercedes como nova força do esporte. Já os motores construídos em Viry-Châtillon, na esteira de grandes problemas de performance e confiabilidade, abriram uma grande crise e começou a destruir a união vitoriosa de oito títulos mundiais entre Red Bull e Renault.
A Renault impressionou em Monza ao ter sido a terceira força daquele fim de semana (Foto: Renault)

O trabalho prévio da Mercedes deu muito resultado, enquanto a Renault reconheceu que focou muito mais nos antigos V8 e deixou pouco tempo para se dedicar às novas unidades de potência. O estrago, contudo, foi tão grande a ponto de a marca, sinônimo de glórias inesquecíveis da F1, virasse motivo de chacota no esporte por conta da ineficiência dos seus motores. O cenário só foi amenizado pela entrada, em 2015, da Honda, que estava ainda mais atrasada em relação à Renault.

 
Em meio à crise nos bastidores, a Renault teve de arregaçar as mangas e trabalhar duro para melhorar o seu motor. Ainda que até hoje não tenha chegado ao mesmo patamar de Mercedes e Ferrari, as duas fábricas dominantes na F1 desde o início da era híbrida, os franceses conseguiram evoluir sensivelmente a qualidade das unidades de potência construídas em Viry. A Honda, à sua maneira, também conseguiu melhorar de maneira significativa.
 
Marcas tão fortes e vitoriosas como Renault e Honda não desaprendem a construir um motor. Levou tempo, mas hoje as duas montadoras também entregam uma unidade motriz capaz de conduzir a bons resultados em circuitos como Monza, por exemplo.
 
Mas se a potência estava lá com as atualizações entregues ao longo da temporada, a confiabilidade do motor e o casamento com o R.S.19 não era das melhores. Tanto que o time chefiado por Cyril Abiteboul teve um começo de 2019 sofrível, com direito a uma quebra dupla no fim do GP do Bahrein, quando Hülkenberg caminhava para marcar um bom sexto lugar.
Performance no GP do Canadá deixou boa impressão sobre a evolução da Renault (Foto: Renault)

Até o desfecho do GP de Mônaco, a Renault se apresentava como o grande fracasso da temporada, muito além até em relação à Williams, por conta de todas as expectativas em cima da equipe anglo-francesa e da capacidade de investimento, pesquisa e desenvolvimento. Somente 14 pontos em seis corridas e o nono e penúltimo lugar no Mundial de Construtores era o reflexo de uma campanha pífia para quem começou o ano querendo se aproximar do top-3 da Fórmula 1.

 
Em termos de performance, o grande ponto de partida foi o GP do Canadá, com Ricciardo faturando uma excelente quarta posição no grid do Circuito Gilles Villeneuve, conseguindo o feito de deixar uma Red Bull, de Pierre Gasly, e a Mercedes de Valtteri Bottas para trás. Hülkenberg garantiu um bom sétimo lugar e provou que o desempenho da nova evolução do motor Renault em pistas que exigem mais potência, como no Canadá, era mesmo muito melhor.
 
Só que Renault voltou a apresentar uma performance oscilante e ficou longe de ser notada como destaque nas corridas seguintes. Exceção feita ao ‘quase pódio’ de Hülkenberg, que perdeu uma das mais claras chances de quebrar o incômodo jejum depois de ter sido mais um a cometer o erro na traiçoeira curva 16 e abandonar de forma melancólica o encharcado GP da Alemanha.
 
Nem mesmo em Spa-Francorchamps, no retorno das férias, a Renault conseguiu assumir o protagonismo da F1B, sendo bastante discreta depois de ser superada pela Racing Point de Sérgio Pérez e a Toro Rosso de Daniil Kvyat. Sem contar a McLaren de Lando Norris, que levou um enorme azar ao quebrar na última volta do GP da Bélgica. Daniel Ricciardo terminou longe, em 14º, uma volta atrás, enquanto Hülkenberg beliscou alguns pontinhos com o oitavo lugar.
 
E é justamente quando se tem em mente o desempenho apagado da Renault, a sensação de surpresa é ainda maior pelo que a equipe apresentou em Monza. Surpresa e também alívio, como explicou Alain Prost.
A Renault festeja seu melhor resultado na temporada (Foto: Renault)

Os méritos pelo resultado na Itália foram atribuídos principalmente aos funcionários que atuam em Viry-Châtillon, onde está sediada a fábrica de motores da Renault. Chama a atenção a avaliação de Ricciardo, o grande nome da equipe para o presente e para o futuro.

 
“Finalmente conseguimos o ‘máximo’ de pontos, se você entende o que quero dizer, e isso é muito bom. Quero mandar uma mensagem à parte a Viry, aos caras que preparam o motor. Acho que ter esse tipo de resultado com a equipe e a unidade de potência da Renault é afirmativo. Todos os anos fomos a Monza e parece que há falta de otimismo. Ao menos nos últimos anos, nunca foi um ponto forte nosso”, admitiu o australiano.
 
Definitivamente, o que a Renault conseguiu em Monza mostra que finalmente há sinal de vida competitiva depois de tanto tempo na F1. Em teoria, a equipe se coloca como a principal força para buscar o quarto lugar no Mundial de Construtores. Trata-se do principal objetivo dos comandados de Abiteboul e, diga-se de passagem, é o mínimo que se pode esperar por todo o poderio financeiro e tecnológico da equipe. 
 
A favor da Renault conta a melhora sensível apresentada na Itália e também a declaração da McLaren, atual P4 no campeonato, de que já começa a focar no carro de 2020, sendo então a tendência a abandonar o projeto de desenvolvimento do bom MCL34. Contra, pesa justamente a irregularidade e o quão o time oscila de uma corrida para outra. De qualquer forma, tal meta parece mesmo ser bastante plausível, como bem explica o comandante do time anglo-francês.
 
“O objetivo era terminar em quarto, e continua sendo o objetivo. Parecia um alvo difícil, agora parece uma meta viável, e é nisso que estamos focando. A pressão não está mudando e, na verdade, quando você não está alinhado com seu objetivo, sente pressão, mas tenho certeza de que é o mesmo para todos no grid. Do contrário, você não corre na F1. É bom ter metas difíceis de alcançar porque isso nos mantém alerta”, disse o dirigente.
 
“As metas precisam ser realistas, e são realistas para este ano, o quarto lugar foi e é uma meta realista. Precisamos continuar trabalhando e continuar entregando resultados”, completou.

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