Pole de Hamilton embola grid, mas é McLaren que surge como ameaça à Red Bull na Hungria

Lewis Hamilton interrompeu um longo domínio de Max Verstappen e quebrou um jejum indigesto ao cravar a pole do GP da Hungria. A nona posição de honra do inglês em Budapeste também serviu para embaralhar a hierarquia de forças da Fórmula 1, só que, mais que a Mercedes #44, é a McLaren que assusta a líder Red Bull no estreito circuito magiar

É bem verdade que o novo formato da classificação da F1 criou um estranho equilíbrio de forças na Hungria, mas o que aconteceu na fase decisiva nada teve a ver com a particular regra imposta neste sábado (22), e isso por si só já é um baita alento. O fato é que a performance do top-10 foi genuína pela simples razão do uso do pneu vermelho — o mais macio da gama, inclusive, projetado exatamente para esse tipo de disputa, ajudado por um circuito manhoso, estreito e que exige da pilotagem e de um carro bem acertado. Desse ponto de vista, o grid formado para a corrida deste domingo é um dos melhores da temporada 2023. A pole de Lewis Hamilton também acrescentou um toque de imprevisibilidade que há muito a F1 precisa. E mais que isso, ainda deixou a impressão de que nem tudo é o que parece.

Antes, é preciso falar sobre a conquista do heptacampeão. “Lewis fez uma volta incrível e garantiu a pole. Quer dizer, se você lhe dá um carro, é isso que ele pode fazer”. As palavras são do chefe da Mercedes, Toto Wolff, após a montanha-russa de emoções que viveu ao longo da definição do grid. Se a equipe errou com George Russell ainda no Q2, não lembrou mais tarde, após o giro que rendeu a posição de honra a Hamilton. É importante dizer aqui que a performance apenas ratificou que, apesar do momento irregular da esquadra alemã, o recordista de poles da F1 segue muito forte e tem mais a entregar no esporte.

A volta em si é uma prova disso, porque apresentou um Hamilton aguerrido, mas também muito preciso. A velocidade que impôs no setor intermediário foi potente e poderia ter sido ainda melhor se não fosse uma escorregadinha de nada na parte final. Então, quando ele deixa o carro e diz que foi quase como se fosse a primeira vez, é muito simbólico. De fato, parece uma eternidade desde a última vez no principal lugar do grid, mas os meses de perrengue não tiraram a fome de ser o mais rápido de todos. A F1 agradece.

 “Foi um período muito louco este ano e meio, até perdi a voz de tanto gritar no carro. Não esperava brigar pela pole, assim, fui para a última tentativa disposto a deixar tudo, nos esforçamos tanto para conseguir que parece que foi nossa primeira vez”, falou um eufórico Lewis a Danica Patrick. E a conquista é primorosa: 104ª pole da carreira e a nona no Hungaroring — o multicampeão ainda é o primeiro piloto a somar nove poles em um mesmo circuito na história.

Só que também não dá para ignorar a diferença para Max Verstappen. Apesar de finalmente ser derrotado após cinco poles consecutivas, o holandês ficou apenas 0s003 atrás, fruto de uma volta turbulenta, por assim dizer. O bicampeão não teve o carro que costuma ter nas mãos no Hungaroring, mas fez valer o melhor desempenho no primeiro e no terceiro setores. E será um adversário difícil quando as luzes se apagarem no grid de largada, ainda mais tendo o rival de sempre pouco à frente.

A Red Bull, portanto, é favorita ao triunfo. Ainda que as atualizações necessitem de um tempo de entendimento, o carro taurino apresentou um ritmo de corrida consistente. Em temperaturas mais amenas, o conjunto dos energéticos deve funcionar bem, porque possui boa tração, segue voando em reta e nos trechos de maior velocidade. Onde se encaixa a Mercedes aí? Bem, o carro alemão tinha como característica andar melhor em circuitos de alta velocidade — daí a expectativa em torno de Silverstone —, porém a nova asa dianteira parece ter proporcionado uma performance mais assertiva em trechos de média e baixa velocidade, por isso Hamilton se mostrou forte no setor mais sinuoso da Hungria. Mas há uma ressalva.

F1 2023, GP DA HUNGRIA, HUNGARORING, SÁBADO, CLASSIFICAÇÃO, LEWIS HAMILTON, MERCEDES, MAX VERSTAPPEN AFP
Lewis Hamilton e Max Verstappen vão dividir a primeira fila do GP da Hungria (Foto: AFP)

▶️ Inscreva-se nos dois canais do GRANDE PRÊMIO no YouTube: GP | GP2
▶️ Conheça o canal do GRANDE PRÊMIO na Twitch clicando aqui!

“Todo o crédito a Lewis e à Mercedes. Foi uma volta muito forte no final. Deixamos um pouco a desejar e Max teve um pequeno problema na curva 13. Mas a primeira fila do grid ainda é muito boa. Temos um ritmo de corrida melhor do que de classificação”, explicou o chefe da Red Bull, Christian Horner, à Sky Sports.  “A configuração da pista é um pouco como Mônaco sem as barreiras. Uma vez que você está bem posicionado, é difícil de ultrapassar, então se resume muito à estratégia que adotaremos”, completou.

A Mercedes não tem, ao menos pelo que exibiu nos treinos livres, o mesmo desempenho em condições de corrida.  O déficit está em torno de 0s3, nos pneus médios. E nesse cenário é a McLaren que aparece forte. A equipe inglesa também brilhou na classificação deste sábado. Mesmo adaptando o MCL60 revisado, obteve resultados consistentes nos trechos de baixa velocidade do traçado magiar. Por isso, Lando Norris não escondeu a frustração com a terceira colocação no grid. O jovem inglês ficou a somente 0s085 da pole. Quer dizer, a primeira fila era muito possível de novo. Reforça a forte posição do time laranja o fato de que Oscar Piastri seguiu o companheiro e cravou o quarto melhor tempo. E também sentiu que podia mais.

A esquadra chefiada pro Andrea Stella, na verdade, é quem mais perto está da Red Bull. Durante as simulações, Norris foi o piloto mais consistente da sexta-feira e, no sábado, apresentou um ritmo muito parecido com o de Verstappen. Na combinação dos diferentes compostos na Hungria, o carro britânico surge novamente veloz, como há duas semanas, na Inglaterra. Por isso, não é exagero colocar a turma de Woking na briga contra os taurinos pela vitória. “O Hungaroring, com algumas seções mais baixas e altas temperaturas, é diferente dos dois circuitos anteriores, e esse desempenho parece a confirmação do passo à frente que demos”, disse Stella após a classificação.

McLaren mais uma vez conseguiu colocar seus dois carros entre as quatro primeiras posições (Foto: McLaren)

Dito isso tudo, também é importante lembrar o que o chefão da Red Bull falou ali em cima sobre a Hungria. O Hungaroring demanda do ritmo, mas também da sua posição no pelotão. Ultrapassar não é tão fácil, por isso a largada será o momento de maior expectativa, não só pelo possível embate Hamilton x Verstappen, mas principalmente sobre o que pode acontecer a partir do contorno da curva 1. E aí a McLaren tem muito a ganhar — Norris aproveitou bem em Silverstone, por exemplo. E mais: logo atrás, há uma Alfa Romeo no melhor estilo ‘foguetinho’ e um Charles Leclerc tentando a recuperação, apesar do momento claudicante da Ferrari. Então, o roteiro húngaro não parece tão óbvio assim, diante de um grid mais embolado e inesperado.

Por isso, a estratégia também vai desempenhar um papel fundamental. Historicamente, o GP da Hungria é uma corrida muito tática, seja pelo calor escaldante que às vezes acomete a região, seja pela natureza do circuito/seleção de pneus. Assim, a Pirelli recomenda duas paradas, usando os pneus médios e duros. Ou, e aí é muito limite, apenas um pit-stop, na combinação duro-médio. E aqui ainda vai ficar uma questão interessante, por causa do formato da classificação. É entender que tem mais pneus disponíveis para eventuais mudanças de última hora.

Fórmula 1 retorna neste domingo (23) para a disputa do GP da Hungria, com largada prevista para as 10h (de Brasília, GMT-3). O GRANDE PRÊMIO acompanha todas as atividades da temporada 2023 AO VIVO e em TEMPO REAL. Antes, a partir das 9h40, o GP abre a transmissão em segunda tela no canal 1 do YouTube, em parceria com a Voz do Esporte.

Chamada Chefão GP Chamada Chefão GP 🏁 O GRANDE PRÊMIO agora está no Comunidades WhatsApp. Clique aqui para participar e receber as notícias da Fórmula 1 direto no seu celular! Acesse as versões em espanhol e português-PT do GRANDE PRÊMIO, além dos parceiros Nosso Palestra e Teleguiado.