Opinião GP: Leclerc encanta, ganha F1 e levanta pergunta: a Ferrari precisa de Vettel?

Depois de vencer pela primeira vez há uma semana, Charles Leclerc encantou novamente, ao resistir à pressão de Lewis Hamilton em um duelo tenso e agressivo para faturar o GP da Itália, diante de uma Monza lotada. O monegasco foi perdoado pelo que fez na classificação ao se apresentar forte neste domingo. O brilho do jovem agora ofusca de vez Sebastian Vettel, que viveu mais um domingo de erros

CHARLES LECLERC CRESCEU tendo apenas a Ferrari como referência na Fórmula 1. Ainda adolescente, esteve em Maranello pela primeira vez em companhia do amigo e mentor Jules Bianchi. Hoje, carrega o legado do francês e assumiu a missão de brilhar dentro do carro do Cavalinho Rampante. E mais que isso, se tornou rapidamente – como parece ser a ordem nesta F1 moderna – a referência dentro da equipe mais famosa do grid. Isso por si só diz muito sobre Leclerc e o momento que a escuderia atravessa. 
 
O monegasco não é um produto do acaso ou da sorte. O jovem teve sucesso nas categorias de base, foi aceito pela Academia da marca italiana, estreou no Mundial pelas mãos da Sauber e soube cavar seu espaço. Obedeceu à risca o caminho dos grandes. E uma temporada e meia depois, confirmou tudo o que se esperava dele: velocidade, arrojo e coração. O Leclerc que foi à pista em Monza, neste domingo (8), pareceu mais um veterano do que propriamente o garoto que celebrou a primeira vitória na F1 sete dias atrás. Charles foi gigante e não só mostrou do que é feito, como ganhou o time, os tifosi e a maior das categorias. 
 
É para poucos o que o #16 fez nesta última semana: conquistou a primeira vitória da vida na F1 em Spa-Francorchamps e, apenas alguns dias depois, faturou a corrida em Monza, pilotando pela Ferrari. Tudo isso aos 21 anos. 
Charles Leclerc ganhou a Ferrari (Foto: Beto Issa)
Leclerc tinha uma tarefa dura pela frente, no entanto. Depois de uma classificação controversa, em que ficou no ar a impressão de que tinha segurado o companheiro Sebastian Vettel de propósito para garantir a pole, o jovem precisava também de uma espécie de redenção. “Ele está perdoado”, disse Mattia Binotto, deixando ainda mais claro que a situação vivida no sábado não havia sido digerida completamente.
 
Só que Charles fez o que tinha de fazer. Usou bem a pole, assumindo a liderança logo de cara. O problema é que a Mercedes não sabe largar o osso. E foi isso também que ajudou a tornar a vitória em Monza ainda mais saborosa e impressionante. Lewis Hamilton jamais deixou a diferença para Leclerc ir além de 2s ao longo da corrida. Foram voltas e voltas de pressão, às vezes com maior intensidade, às vezes flertando com o perigo. Charles cometeu, sim, pequenos erros, mas Lewis também. A chave do triunfo esteve na melhor velocidade de reta da SF90 contra um pentacampeão que tentou de tudo, até que faltou pneus. A equipe prata subestimou a estratégia ferrarista e acabou sem armas para brigar. Acontece.
 
Porém, o que fica de verdade é que a Ferrari pode contar com Leclerc em situações de pressão. A equipe italiana precisava quase que desesperadamente vencer essas duas primeiras corridas da segunda fase de temporada, para ter algum alívio depois de uma primeira metade de campeonato horrorosa. Era imperativo. E não há no calendário nenhuma outra condição que beneficie tanto o carro vermelho quanto Spa e Monza. Então, a lição de casa foi muito bem-feita. Mas só por um lado da garagem, o de Leclerc, rápido, inteligente e muito agressivo em suas defesas para cima de Hamilton e Valtteri Bottas, mais tarde.
 
Vettel, de novo, se viu em apuros pelos próprios erros. O alemão chegou a perder momentaneamente a quarta colocação para Nico Hülkenberg na largada, mas se recuperou e partiu para cima de Valtteri Bottas. Não demorou nada para se colocar na berlinda. Perdeu a traseira do carro na chicane Ascari, rodou e viu tudo se esvair ali, diante de arquibancadas cheias e vibrantes. Ainda bateu em Lance Stroll ao tentar voltar à pista de qualquer jeito, um erro grotesco. É difícil entender o que acontece com Seb. De um início meteórico e encantador de carreira, passando por excepcionais quatro títulos mundiais, essa fase errática que teima em o acompanhar não se explica. Só que agora o cenário virou de vez. E Seb está mais vulnerável que nunca. 

Leclerc mudou a Ferrari. Até 2018, a imagem era embasada, muito pela companhia dócil de Kimi Räikkönen. Mas Charles elevou demais o sarrafo e quer mais. A vitória em Monza ofusca Vettel de muitas maneiras, às vezes até cruel. 

Sebastian Vettel errou e ficou fora de uma possível briga pela vitória na Itália (Foto: Beto Issa)
Mas o esporte é cruel, no fim das contas. O alemão nunca conseguiu fazer o que Charles fez neste domingo, por exemplo, nem mesmo quando teve condição para isso, como foi ano passado. O #5 já está atrás no campeonato e tem só mais um ano de contrato com Maranello. A verdade é que o alemão sentiu, já tem consciência do que se passa ao seu redor e, embora diga que ainda ama o que faz, não acha soluções para sair da maré que se encontra, por mais que tenha lá seus bons momentos. O problema são situações como a da Itália, a do Bahrein, quando errou ao ser acossado por Hamilton, ou do Canadá, naquela perseguição sofria do mesmo inglês. Ou ainda o choque com Max Verstappen na Inglaterra. E de muitas outras, se considerar 2018. 
 
Vettel chegou com a tarefa de levar a Ferrari de volta aos títulos. Algo que nem mesmo Fernando Alonso pode. É uma missão ingrata, de fato. Mas os erros seguidos, a incapacidade de lidar com a pressão e agora o embate com alguém como Leclerc parecem um fardo pesado demais para Seb. A ponto de não ser um exagero nenhum perguntar: a Ferrari ainda precisa do tetracampeão?
 
Cabe aos membros da cúpula ferrarista também entender o que se deseja para o futuro. Afinal, a Leclercmania está aí.

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