Opinião GP: GP da Áustria é lição definitiva para Norris na F1: ou racha ou não vai

Lando Norris precisava desesperadamente desse GP da Áustria de 2024 para enfim cair na real e entender que, se quiser de fato ter sucesso na F1, terá de mudar a forma como encara Max Verstappen. Porque o tricampeão não vai tirar o pé ou admitir culpa pelo aconteceu no Red Bull Ring. Inclusive, ainda defende seus atos. É hora de Norris decidir quem vai querer ser: apenas o amigo ou o inevitável adversário

Foi durante o Briefing, programa aqui do GRANDE PRÊMIO que analisa a Fórmula 1, que o assinante Renato Luz lembrou do GP da Áustria de 2019. Naquele ano, o campeonato vivia sob o domínio da Mercedes e de Lewis Hamilton — curiosamente, também atravessava um período de corridas enfadonhas —, mas o cenário mudaria a partir do Red Bull Ring, ainda que nada tenha tirado o inglês do rumo da sexta taça do mundo. De toda a forma, foi lá em Spielberg que os alemães padeceram e os rivais brilharam. Max Verstappen e Charles Leclerc protagonizaram uma das melhores batalhas daquela temporada, com vitória do neerlandês, quando tudo parecia caminhar para as mãos do monegasco em seu primeiro ano de Ferrari. Max foi duro, excedeu os limites e chegou a jogar o rival para fora da pista. A repercussão foi quente, com acusações de ambos lados. Mas duas semanas depois, em Silverstone, como vai acontecer agora, Leclerc deu o troco. Endureceu a disputa, e ambos tiveram seu momento de Villeneuve x Arnoux. Charles saiu vencedor. Ali algo mudou no tratamento entre eles. Mas por que isso é importante? Porque é exatamente o que parece viver Lando Norris.

O inglês da McLaren vem ensaiando há tempos uma briga com Verstappen. Embora não tenham dividido as pistas nas categorias de base, compartilham interesses em comum, são muito amigos e têm uma pequena diferença de idade. Por isso, em alguns momentos, Lando deixou a sensação de que evitava confrontos mais diretos com o neerlandês. Só que isso começou a mudar com o amplo crescimento da equipe laranja. Desde meados de 2023, o time chefiado por Andrea Stella passou a acertar as atualizações e foi quem deu o maior salto de qualidade neste regulamento do efeito solo, fazendo frente a uma impressionante Red Bull. Neste ano, a equipe parece ter atingido a maturidade técnica. E diante desse cenário, Norris ganhou o papel de líder.

Primeiro, a McLaren começou a se aproximar em classificação e, agora, é uma ameaça real em corrida e em todo o tipo de traçado. Só que, apesar da alta performance ao ponto de superar os taurinos em alguns circuito, ainda há a sensação de que equipe e piloto não acreditam no próprio potencial. A esquadra de Woking peca em estratégia, por exemplo, como aconteceu no Canadá e na Espanha, locais em que tranquilamente poderia ter conquistado a vitória, mas acabaram sucumbindo também à força e perspicácia dos rivais energéticos. E Lando tem peso grande nisso.

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Ainda que tenha vencido em Miami, quando se aproveitou de um vacilo da direção de prova com relação ao safety-car, faltou muito ímpeto em diversas ocasiões. Em Montreal, apesar da linda ultrapassagem em Verstappen, acabou por se contentar com o segundo lugar. Já em Barcelona, perdeu a liderança na largada e não foi capaz de oferecer resistência a Max na sequência, recuando na dividida da curva. E pior, a postura derrotista ainda acompanhou as declarações posteriores, tanto da McLaren quanto de Norris, que tinham noção exata dos erros.

Então, chegou a Áustria. De novo, o desempenho do carro britânico colocou Lando na briga direta com Verstappen. Na sexta-feira, a diferença na pole da sprint ficou em menos de 0s1. No dia seguinte, na corrida curta, Norris agiu como um amador, em suas palavras, na disputa com Max, quando deixou a porta aberta depois de ter superado o rival, desperdiçando novamente uma boa chance de sucesso. O tricampeão aproveitou a gentileza e partiu para a vitória. O domingo, entretanto, contou uma história diferente.

Verstappen já caminhava firme e forte rumo a mais um triunfo, quando foi chamado aos boxes na volta 52 de 71 da etapa austríaca. Era a segunda vez que ia aos boxes, agora trocar os pneus duros por médios usados. Só que uma roda mal encaixada colocou tudo a perder. O líder da corrida, que tinha cerca de 6s de vantagem para o segundo colocado Norris, viu a distância cair para 1s2, uma vez que o inglês também parou na mesma volta. Dali em diante, começou uma intensa perseguição, porque o dono do carro #4, com pneus novinhos, ampliou o ritmo, até encostar no oponente. A corrida ganhou vida.

Lando chegou a ficar a 0s3, ensaiando a ultrapassagem, porém Max resistiu e ainda aproveitou o trânsito para respirar um pouco. Na volta 59, veio a primeira tentativa de fato, com a McLaren efetuando a ultrapassagem, mas devolvendo posição por fazê-la usando a área de escape. A verdade é que Norris mostrou valentia como poucas vezes se viu e foi para cima, tentando em diversos pontos, muitas vezes de forma tardia, mas, ainda assim, procurando um espaço. Chegou a se queixar das defesas mais efusivas de Max — acusou o rival de se movimentar nas freadas. Até que, no giro 63, tentou de novo e jogou Max para fora da pista na curva 3.

Acidente de Verstappen e Norris (Vídeo: Sky)

O britânico tomou imediatamente uma punição de 5s — ele vinha sendo avisado sobre os limites de pista há algum tempo —, mas não pode nem cumprir a sanção, porque logo veio o toque que acabou com as chances de ambos. Lando estava por fora, buscando o lado emborrachado, para superar o líder, mas Max acabou espremendo e passou do limite. Ambos bateram. Verstappen ainda foi capaz de completar a corrida em quinto, mas Norris ficou nos boxes.

Logo após a bandeirada, o clima esquentou, com acusações de ambos os lados. A Red Bull defendeu as manobras do tricampeão, que também não baixou a guarda. Embora diga que deve falar com Norris, Max foi direto: “Acho que todo mundo tem o direito de ter a sua própria opinião, mas sou eu quem está pilotando, então acho que estou melhor no controle. Claro, olhando de fora, como disse, é sempre fácil julgar e comentar. Mas, de qualquer maneira, acontece.”

A McLaren, por outro lado, foi mais incisiva, lembrando, inclusive, do comportamento mais agressivo de Max em 2021, quando vivenciou uma disputa polêmica contra Lewis Hamilton. Lando, por sua vez, falou em respeito e espera que Verstappen reconheça que estava errado. Não parece o caso. “Não sei, depende do que ele disser. Se ele falar que não fez nada de errado, vou perder muito respeito por ele. Foi meio estúpido me acertar. É difícil de aceitar. Estava brigando pela vitória, tentei ser limpo e ele não foi. Não ligo para isso agora, lamento pelo time”, disse Norris.

Assim como Leclerc há cinco anos, Norris tem uma escolha a fazer, diante de uma lição definitiva neste GP da Áustria. O tricampeão deixou claro, uma vez mais, que joga duro, independente do que aconteça. Portanto, o que vai ser? Voltar a ser o amador da sprint ou tomar as dores de tudo, endurecer a disputa e se transformar não só no adversário que Verstappen precisa, mas principalmente no piloto que tem potencial para ser. Desconfio que até Max prefira a segunda opção.

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