Opinião GP: F1 cria aberração, e só mudança drástica pode salvar da inércia

O terrível GP da França colocou luz, uma vez mais, sobre as falhas de regulamento e de decisões que há anos a Fórmula 1 vem tomando. A disparidade de orçamentos aliada um regulamento complexo e caro tornou o campeonato artificial e irritantemente previsível, sem falar na competitividade. Agora apenas uma mudança drástica pode salvar a maior das categorias. E a chance está aí

É CLARO QUE um domínio como este que a Mercedes vem impondo na Fórmula 1 sempre abre espaço para a crítica quanto ao campeonato e pedidos, às vezes histéricos, por mudanças imediatas e de qualquer jeito. Só que no cenário atual a performance quase perfeita da esquadra alemã pouco tem a ver com a inércia vivida pelo Mundial. A excelência da marca da estrela de três pontas apenas coloca uma luz em falhas mais intrínsecas. O popular ‘o buraco é mais embaixo’. O problema não é realmente a Mercedes, mas todo o cenário em que ela surge tão poderosa.
 
Após vencer de ponta a ponta o chatíssimo GP da França, Lewis Hamilton foi questionado sobre a razão de o Mundial se deparar com tantas corridas monótonas, procissões e ausência de emoção. O inglês não se esquivou da pergunta. Disse, com razão, que não se pode culpar os pilotos e que a responsabilidade pelo que a F1 é hoje está nas mãos das pessoas que a comandam e que tomam as decisões – más decisões, em suas palavras. É um sinal quando o maior campeão do grid ‘se aproxima’ da Indy, elogia e a usa como exemplo. E outro quando pede mudanças drásticas.
 
Lewis Hamilton levantou as vozes sobre as regras da F1 (Foto: Mercedes)
Hamilton foi ainda mais preciso do que tem sido nas pistas. A verdade é que a Fórmula 1 não precisa de uma simples alteração de regulamento para quebrar o domínio da Mercedes. A Fórmula 1 tem de realmente repensar sua essência, sua concepção e, fundamentalmente, se adaptar a uma exigência maior. O público já não tolera e não entende ‘o mais do mesmo’. E para prender uma audiência com cada vez mais recursos e alternativas, a Fórmula 1 precisa olhar com outros olhos para o futuro, mas também olhar para o que ela já foi no passado. 
 
A maior das categorias sempre esteve na vanguarda do desenvolvimento técnico de carros de competição, é guiada pela excelência e está no topo do esporte a motor. Mas hoje vive um campeonato artificial e insistentemente previsível. E parte da culpa está nas invenções recentes sem finalidade alguma. A verdade é que a F1 cometeu um erro ao abraçar essa ideia da unidade de potência. O motor é caro, complexo e de difícil desenvolvimento – a intenção era de se colocar ao lado da tendência dos híbridos, mas isso não é para a F1 ou o ‘mercado’ que ela atende. Em última análise, a F1 é tão única que deveria ditar a tendência e não o contrário.
 
A Mercedes foi a primeira a dominar a tecnologia, a Ferrari levou mais de uma temporada para entendê-la, enquanto Renault e Honda sequer conseguiram alcançar as duas primeiras, depois de cinco temporadas. Ainda há um abismo em termos de performance. Tem-se um regulamento complicado, com normas ainda mais estapafúrdias, como as infames punições pelas trocas dos elementos, sem falar em toda a complexidade da aerodinâmica. As regras do uso dos pneus, que muitas vezes destroem aquilo que a F1 hoje tem de melhor que é a classificação. Destroem a competividade. Quer dizer, há muito para repensar só aí. De motor aos pneus, e o impacto que isso tem no desempenho.

 

Outro fator que incomoda é a disparidade orçamentária. Hoje, Mercedes, Ferrari e Red Bull gastam o que querem e como querem. É brutal a diferença para o pelotão intermediário, e isso fica ainda mais absurdo quando se leva em consideração que o grid tem o envolvimento de duas das maiores fabricantes do mundo: Renault e Honda. Ambas não conseguem se colocar em disputa com Mercedes e Ferrari. É um ultraje. Há uma dose de incompetência e outros pontos, como pessoas certas nos cargos certos, sem dúvida, mas há também o peso do modelo financeiro da F1. Sem falar da excêntrica distribuição da premiação. 
 
Só por esses fatores já se cria um cenário incompatível, uma aberração, muito bem traduzida neste domingo em Paul Ricard. Ou seja, há de se buscar um caminho mais simples e barato. Pelo bem de todos. É possível tornar os carros difíceis de pilotar e elevar o nível sem comprometer a competição.
 
Então há as corridas. Quando se fala em voltar ao passado, é isso. Há alguns meses, a nova direção da F1 fala em deixar os pilotos livres. Aliviar o peso das mãos dos comissários. Mas o que se vê ainda em 2019 são interpretações erráticas e que prejudicam o esporte, afetam a emoção e irritam que assiste na TV ou na arquibancada. Punem o cara que erra em meio a uma disputa acirrada, punem o arrojo e a coragem. Tiram a emoção.
A largada do GP da França (Foto: AFP)
A Fórmula 1 vive um período decisivo de sua história. Está prestas a fechar um novo acordo entre equipes, detentores dos direitos comerciais e a FIA (Federação Internacional de Automobilismo). Ainda não encontrou um denominador comum, mas há exemplos a seguir e ainda dá tempo.
 
A bem-sucedida Premier League é um modelo saudável para a F1, assim como a ideia de regulamentos mais simples como os da Indy. Se pretendem definir o futuro – 2021 – até outubro, serão poucos meses para o que, na verdade, é preciso para ontem.

A nona etapa da temporada 2019 do Mundial de F1 acontece em uma semana com o GP da Áustria, no circuito do Red Bull Ring. O GRANDE PRÊMIO acompanha tudo AO VIVO e em TEMPO REAL.

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