Na Garagem: Vitória no GP da Áustria em 1983 fez Prost sonhar com primeiro título

Em 14 de agosto de 1983, Alain Prost começou a sonhar com a possibilidade de conquistar o título mundial de F1 pela primeira vez. A chance surgiu depois de uma vitória categórica na Áustria, onde viu o maior rival, Nelson Piquet, chegar apenas em terceiro

O GP da Áustria, em 14 de agosto de 1983, marcava o início do terço final da temporada daquele ano. Até então, a disputa vinha equilibrada, com três vitórias de Alain Prost (Renault) duas de René Arnoux (Ferrari), uma de Patrick Tambay (com a outra Ferrari), uma de Keke Rosberg (Williams), uma de John Watson (McLaren) e uma de Nelson Piquet (Brabham). Seis vencedores de cinco equipes diferentes faziam de 1983 um campeonato acirrado.

No entanto, apenas Prost, Piquet e Tambay tinham três ou menos corridas fora dos pontos nessas nove etapas. Depois do GP de Mônaco, esse trio ainda iria, aos poucos, se afastando dos demais. Cada um tinha motivos especiais para conquistar o título.

Alain Prost era promessa francesa em 1983 (Foto: Carsten Horst/Hyset)
A Ferrari estava desde 1979 sem conquistar a taça — ninguém poderia supor, mas a equipe de Maranello só seria campeã com Schumacher, em 2000.

Para a Brabham, era a chance de conquistar o quarto caneco. Equipe de sucesso nos anos 1960, a esquadra buscava reviver o sucesso do passado – quando o patrão ainda era piloto do time. Já para a Renault e para Prost, o ineditismo do título servia para ambos. O francês entrou na equipe dois anos antes e vinha numa escalada: quinto em 1981, quarto em 1982. Em 1983, tudo apontava para uma conquista de Prost.

 
Contando o GP da Áustria, foram quatro vitórias e outros dois pódios. Além disso, mais três corridas terminadas nos pontos davam ao francês uma folgada vantagem na tabela: (51 x 37). Mesmo se Piquet vencesse as quatro últimas corridas, bastaria ao francês chegar em segundo nessas provas para ganhar a taça. Caso ganhasse o título, Prost se tornaria o primeiro francês a ser campeão mundial de F1. Um feito e tanto, dada a tradição do país no automobilismo.
 
Dos 30 pilotos efetivos do grid naquele ano, cinco eram franceses: Prost, Tambay, Arnoux, além dos veteranos Jacques Laffite e Jean-Pierre Jarrier. Apesar da juventude de Prost em relação aos demais, os resultados dele em apenas três anos de F1 já davam mostra que aquele baixinho era o melhor da safra. Apenas Didier Pironi, vice em 1982, obtivera um resultado melhor para a França na história do Mundial.
 
Quando a F1 chegou à Áustria, muita gente achava que era questão de tempo para que um francês finalmente celebrasse um título mundial. A pista veloz e a altitude favoreciam as Ferrari – a equipe italiana cravou uma dobradinha, com Tambay à frente: 1min29s871. Arnoux foi segundo, apenas 60 milésimos de segundo atrás, com as Ferrari colocando mais de meio segundo para o resto do grid. Entre os combatentes do título, Piquet foi quarto e Prost obteve o quinto, três décimos de segundo atrás do brasileiro.
 
Na largada, Tambay e Arnoux conservaram as posições. Prost e Piquet estavam embolados com Mansell, intruso entre os ponteiros com sua Lotus. No rebolo, muita confusão: Elio de Angelis, com a outra Lotus, bateu em Bruno Giacomelli, da Toleman. Quase ao mesmo tempo, Piercarlo Ghinzani, da Osella, tocou a Williams de Jacques Laffite e o francês, ao perder o controle, bateu ainda na Arrows do suíço Marc Surer.
 
Esse strike em alta velocidade acabou por atingir também a Tyrrell do norte-americano Danny Sullivan. Sulivan e Surer abandonam a prova de imediato. Laffite ainda tentou continuar, mas acabou deixando a prova na 24ª volta, com problemas na direção. Lá na frente, as Ferrari trataram de abrir caminho, e Arnoux tomou a liderança quando Tambay se atrapalhou na ultrapassagem a um retardatário. Piquet, que estava logo atrás, também aproveitou o erro de Tambay e ganhou a segunda posição.
 
Piquet, fazendo uso de uma melhor tática de reabastecimento da Brabham, voltou na ponta após os pits. Tambay parou nos boxes na volta 30 e lá ficou: abandono por um vazamento de óleo. Mas a alegria do brasileiro durou pouco. No giro 38, um problema de potência em seu motor BMW fez Piquet ser ultrapassado por Arnoux e Prost. Piquet acabou em terceiro, conseguindo controlar as investidas de Eddie Cheever, com a outra Renault. Com tantas batidas e problemas mecânicos, a prova ficou entre Arnoux e Prost.
 
Os franceses eram velhos conhecidos, parceiros nos anos de 1981 e 1982 na Renault. A rivalidade, até então restrita às pistas, começou a acontecer também fora delas, deteriorando o ambiente na equipe. O conflito chegou ao auge no GP da França de 1982: Arnoux venceu, com Prost em segundo. Alain ficou furioso, queria a inversão de posições: segundo o acordo interno, quem estivesse na frente no campeonato teria a primazia para vencer a disputa interna.
Alain Prost vence GP da Áustria em 1983 (Foto: Dempsey Warren/Forix/Reprodução)
Percebendo o potencial do novato, a Renault resolveu dispensar Arnoux, que foi correr na Ferrari em 1983. Prost lamentava os pontos perdidos no ano anterior por causa do parceiro e o abandono na mesma Zeltweg, quando liderava a apenas cinco voltas do fim. Esses 12 pontos perdidos custaram o título em 1982. Já Arnoux ainda lastimava a dispensa da Renault justamente quando a equipe francesa se tornava competitiva – ele ajudara no desenvolvimento da escuderia desde 1979.
 
A rusga entre os dois melhores pilotos franceses na história da F1 seria resolvida na pista. Prost, empolgado pela chance real de título por conta dos problemas no carro de Piquet, resolveu ir para cima. O então jovem piloto, ao seu estilo, foi tirando a diferença aos poucos. Na volta 48, quando faltavam apenas cinco giros para a bandeirada, deu o bote e passou o rival.
 
Com a vitória e o terceiro lugar de Piquet, Prost abriu 14 pontos no campeonato e rumava para a inédita conquista francesa. Para ajudar na tarefa, ambos abandonaram a prova seguinte, na Holanda. Mas numa das maiores viradas da F1 moderna, Piquet conseguiu uma proeza. Venceu na Itália, faturou o GP da Europa, em Brands Hatch, e foi terceiro na África do Sul para ser bicampeão. Prost precisou esperar mais dois anos até ser campeão, em 1985.
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