Na Garagem: Sem vitórias em oito anos, Toyota anuncia saída da F1

A Toyota chegou na Fórmula 1 disposta a escrever uma história de sucesso, investindo mundos e fundos em um projeto ambicioso. Só que os resultados nunca vieram, salvo parcos pódios. A cereja no bolo veio exatos dez anos atrás, quando a crise mundial serviu de pretexto para tirar a equipe do grid pela porta dos fundos

Uma montadora na Fórmula 1 tem um projeto padrão: investir milhões de dólares e, depois de desenvolver carro e motor à exaustão, alcançar vitórias e títulos. O roteiro é seguido de forma religiosa, em geral com algum tipo de sucesso. Mercedes e Renault conseguiram títulos e fizeram história, isso enquanto outras como Honda e BMW ao menos conseguiram uma vitória no currículo. Mas o que dizer de quem não consegue nem uma coisa, nem outra? Aí estamos falando da Toyota, que exatos dez anos atrás, em 4 de novembro de 2009, anunciou o fim de uma jornada de oito temporadas na F1 sem ter um único triunfo para chamar de seu.
 
O anúncio do fim das operações foi consequência direta da grave crise financeira que abalou o mundo em 2008, mas também pode ser interpretado como o epitáfio de um projeto que se sabotou sempre que possível. Mesmo investindo milhões, os japoneses nunca tiveram coisas básicas, como solidez administrativa ou decisões coesas a respeito de duplas – primeiro veio a insensatez de queimar pilotos, trocando-os como quem troca de roupas; depois veio a insistência em gente puramente mediana, como a icônica dupla Ralf Schumacher e Jarno Trulli.
 
Depois de bater cabeça de todos os jeitos, a saída da Toyota da F1 se confirmaria em 4 de novembro. A categoria que já havia perdido a Honda no fim de 2008 e sabia da saída da BMW desde a metade de 2009 via uma nova montadora decidir que a categoria já não era um bom negócio. Assim como para as outras duas fábricas, o motivo estava claro: a necessidade de economizar um ano após a crise econômica mundial. Com as vendas de carros de rua despencando, desenvolver carros de corrida vira algo dispensável.
A Toyota investiu pesado na Fórmula 1, mas nunca teve retorno (Foto: Fórmula 1)

A saída da Toyota foi sentida. No fim das contas, a F1 perdia um nome estabelecido. Mesmo que não fosse brilhante, a equipe japonesa representava um nome de peso e também fornecia motores. Só que talvez a principal pergunta que passava pelo público era: afinal, qual foi o legado da escuderia em oito anos de vida?

 
É que a Toyota não alcançou quase nada na F1. A equipe que começou fazendo 11 testes privados diferentes antes mesmo de disputar o primeiro GP nunca de fato engrenou. Levou três anos para conseguir um pódio. Foi em 2005, quando o total de cinco banhos de champanhe e duas pole aparentavam indicar uma engrenada. Que nada – de 2006 a 2008, o total de três pódios deixou clara a estagnação do projeto.
 
2009, de forma curiosa, acabou sendo um ano promissor. A mudança de regulamento jogou a favor dos japoneses, que chegaram a sonhar com vitória em mais de uma oportunidade. Mas era tarde demais. Depois de repetir o quinto lugar no Mundial de Construtores, melhor resultado da história da equipe, veio a decisão de fechar as portas.
Contratações modestas, como a de Ralf Schumacher, não fizeram a Toyota vencer na F1 (Foto: Wikimedia)

“A Toyota anuncia seus planos de deixar o Mundial de Fórmula 1 ao fim da 2009”, revelou o comunicado de dez anos atrás. “A Toyota, que viu sua participação na F1 como uma contribuição à  prosperidade da cultura automotiva, seguiu dedicada a competir no ápice do automobilismo, mesmo com as mudanças econômicas abruptas do ano passado [2008]. Entretanto, ao considerar as atividades para o próximo ano [2010], com uma visão refletindo a atual dura realidade financeira, a Toyota decidiu deixar a F1”, encerrou.

 
A Toyota tinha, entretanto, que resolver o que faria com a estrutura construída para a F1. A fábrica de Colônia, na Alemanha, era exemplar e ainda podia ser bem utilizada por outras equipes. Acontece que os japoneses decidiram que não venderiam a estrutura a ninguém – ou seja, não há uma equipe que possa ser considerada herdeira dos alvirrubros. Entretanto, o túnel de vento tedesco é importante até hoje: McLaren, Ferrari e a finada Force India já usaram a estrutura em anos recentes, mas sem compra definitiva.
 
Fora da F1, a Toyota encontrou o caminho das vitórias. Seja no Mundial de Endurance ou no de Rali, os carros japoneses foram vitoriosos e campeões. Até a vitória nas 24 Horas de Le Mans, que tanto teimou em vir, já veio duas vezes. Só que isso nunca vai apagar o vexame que a foi a aventura na F1.
 

 
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