Na Garagem: nobre ‘Cabeça de Vaca’ dá à Espanha primeiro pódio na F1

O responsável pelo primeiro pódio espanhol é Alfonso Antonio Vicente Eduardo Angel Blas Francisco de Borja Cabeza de Vaca y Leighton. O extenso nome tem uma explicação: Alfonso é o XI Marquês de Portago, sendo, portanto, da nobreza espanhola. É o piloto com o nome mais extenso na história da F1

A Espanha teve 15 pilotos na F1 e, desses 15 pilotos, apenas três foram ao pódio. 50 anos antes da Alonsomania chacoalhar a F1, a Espanha obtinha seu primeiro pódio na categoria no GP da Inglaterra de 1956. O autor do feito é Alfonso Antonio Vicente Eduardo Angel Blas Francisco de Borja Cabeza de Vaca y Leighton. O extenso nome tem uma explicação: Alfonso é o XI Marquês de Portago, sendo, portanto, da nobreza espanhola. É o piloto com o nome mais extenso na história da F1.
 
Nascido em 11 de outubro de 1928, em Londres, Alfonso de Portago teve como padrinho de batismo o próprio rei Alfonso XIII, amigo pessoal de sua família. Rico de nascença e sem necessidade de trabalhar, Portago era um aficionado por esportes e encontrou na adrenalina e no enfrentamento ao risco um sentido para sua vida. Ele apostou US$ 500 que passaria por baixo da Ponte de Londres com seu avião – e ganhou a aposta.
O nobre competiu no golfe, tênis, no polo e no bobsleigh, participando das Olimpíadas de Inverno de 1956. Mas foi na F1 que ele ganhou notoriedade. Portago foi introduzido no automobilismo por um amigo norte-americano, Edmund Nelson, organizador de corridas na França. Apresentado a Liugi Chinetti, importador da Ferrari nos EUA, ele competiu pela equipe de Enzo Ferrari na Carrera Panamericana, em 1953 no México – tendo Chinetti como parceiro. Em 1954, correu os 1000 km de Buenos Aires.
Portago fumando seu cigarro em 1956 (Foto: Reprodução/Twitter)
Portago comprou um Maserati 2L e começou a competir por conta própria, obtendo bons resultados no GP de Nassau, nas Bahamas, e no GP de Metz, onde venceu em 27 de junho de 1954. Entre essas duas vitórias, teve seu primeiro acidente – em Nürburgring. Isso seria uma constante na carreira de Portago, descrito por Harry Schell, um de seus companheiros de equipe, como “um piloto brutal e muito corajoso”.
O espanhol atraiu a atenção do comendador Enzo Ferrari e o dono da equipe de Maranello concordou em vender a ele um dos seus carros. Mas o bólido teve vida curta: Portago se acidentou de modo grave, quebrando uma perna, em Silverstone em 1955, numa prova extra-campeonato. Ao solicitar uma vaga na equipe oficial da Ferrari em 1956, Portago recebeu de Enzo Ferrari uma foto do carro destruído em Silverstone.
A Ferrari de Portago (Foto: F1 Photo)
Recuperado do acidente, a Ferrari o contratou para ser o quinto piloto da equipe em 1956: seus parceiros eram Peter Collins, Luigi Musso, Eugenio Castelotti e Juan Manuel Fangio. Sua estreia, no GP da França, em Reims, acabou na 20ª volta. Uma quebra da caixa de câmbio deixou o espanhol pelo caminho.

Um ano depois do acidente com sua perna, Portago estava de volta a Silverstone. E foi justamente na pista inglesa que Portago conquistou o primeiro pódio da Espanha na F1. A corrida foi fora do padrões do que conhecemos da F1 atual. Ele disputou a maioria das voltas em seu carro e precisou ceder o cockpit para Peter Collins, que abandonara com um vazamento de óleo. A troca era permitida pelo regulamento e Collins levou o carro ao segundo posto, dividindo os seis pontos com o espanhol.
Irritado com a ordem de Ferrari para ceder o carro ao inglês, o excêntrico marquês resolveu aprontar uma traquinagem: foi até os boxes e buscou o carro de Castelotti, também avariado, e o empurrou até a linha de chegada. Sentou no carro e acendeu um cigarro. Quando Fangio cruzou a bandeirada, Portago só empurrou o carro mais alguns centímetros para que a Ferrari cruzasse em décimo. Ele abandonou todas as outras corridas até o fim do ano.
Alfonso de Portago empurra a Ferrari em Silverstone em 1958 (Foto: Reprodução/Twitter)
Com a saída de Fangio para a Maserati, ele esperava melhores resultados na F1 em 1957. Se na categoria o sucesso era limitado, o espanhol tinha bons resultados nas corridas de turismo. Foram quatro vitórias em parceria com o amigo Nelson e com Phill Hill e Mike Hawthorn, também pilotos da Ferrari na F1.
 
Os resultados impressionaram Enzo Ferrari e o chefe de equipe o escalou para a XXIV edição das Mille Miglia, a ser disputada em 12 de maio de 1957. Em terceiro ou quarto na prova (os relatos são imprecisos), seus pneus estavam desgastados. Portago ignorou os avisos e continuou acelerando, pois tinha tudo para vencer uma das mais tradicionais provas de turismo italianas.
Portago conseguiu o primeiro pódio espanhol na F1 (Foto: LAT)
Quando faltavam 68 km para a chegada, passando pelo vilarejo de Guidizzolo, o pneu dianteiro esquerdo estourou ao passar por uma pedra, causando um grave acidente 240 km/h. Após várias capotagens, o carro caiu sobre o público à beira da estrada, matando Portago, seu co-piloto Nelson e mais dez espectadores.
 
A corrida seguiu adiante, mas o acidente teve consequências para a Ferrari e para a prova: Enzo Ferrari enfrentou um processo judicial que se arrastou por mais de quatro anos. As acusações foram retiradas, mas aquela foi a última edição da prova. Portago queria ser campeão mundial de F1 antes dos 35 anos, mas sua morte precoce, com apenas 28 anos, deu fim a esse sonho. Em 36 corridas de F1 e turismo, ele obteve 18 pódios e sete vitórias. Era talentoso, mas talvez irresponsável demais para chegar ao topo. Uma das curvas do circuito de Jarama leva o seu nome.
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