Na Garagem: Hill vence ‘batalha dos herdeiros’ e faz história com título mundial

Em 13 de outubro de 1996, Damon Hill fazia história na F1. O britânico, que foi alçado ao posto de titular da Williams em 1993 e teve como parceiros ninguém menos que Alain Prost e Ayrton Senna, aproveitou o melhor momento da equipe de Grove e derrotou Jacques Villeneuve para virar o primeiro filho de campeão a ser campeão mundial

A temporada de 1996 viu uma disputa de dois sobrenomes famosos na história da F1: Hill e Villeneuve. Mas não se trata de Graham e Gilles, os dois mais cultuados. A briga aconteceu entre os herdeiros de duas das famílias mais bem-sucedidas da F1, Damon e Jacques. Os dois foram companheiros de equipe naquele ano.

Jacques chegou da Indy em meio a muita badalação. Nunca um piloto vindo da categoria da América do Norte havia feito sucesso na F1, mas o oposto já havia acontecido com Mario Andretti, Emerson Fittipaldi e Nigel Mansell — todos campeões primeiro na F1 e depois na Indy. O canadense havia dominado a temporada de 1995, vencendo inclusive as 500 Milhas de Indianápolis, e tentaria quebrar essa escrita.

Damon já era um veterano na F1 e partia para a sua sexta temporada. Tinha corrido pela Brabham e era piloto de testes da Williams em 1992. No ano seguinte, ocupou a vaga de titular na lendária equipe britânica, assumiu o número #0 — que só fora usado duas vezes antes na F1, por Jody Scheckter — e se tornou o escudeiro de Alain Prost na temporada em 1993.

Com a morte de Ayrton Senna no fatídico GP de San Marino de 1994, Damon virou o “capitão” da equipe de Grove e lutou por dois anos contra Michael Schumacher, amargando o vice-campeonato em 1994 e 1995.

Damon Hill travou uma verdadeira 'batalha dos herdeiros' com Jacques Villeneuve em 1996 (Foto: Williams)

Com a saída do alemão da Benetton para a Ferrari após o bicampeonato, ao fim de 1995, a Williams ficou sozinha no topo da F1. No paddock, todos já imaginavam que o título de 1996 ficaria com um dos herdeiros das famílias Hill e Villeneuve. Afinal, o conjunto Williams-Renault era muito forte. Numa comparação com os dias de hoje, o domínio lembra muito ao que é imposto atualmente pela Mercedes.

Pois Hill começou o ano de forma impecável, com quatro vitórias nas primeiras cinco provas. Com isso, tinha 43 pontos contra apenas 22 de Villeneuve. É bem verdade que Jacques brilhou logo em sua estreia, o GP da Austrália, quando fez a pole-position e liderou praticamente toda a corrida, mas um problema mecânico na sua FW18 o fez perder a vitória para Hill.

No fim das contas, o canadense sofria um pouco para adaptar-se à F1, e a experiência do inglês fazia toda a diferença. Nas duas corridas seguintes, os dois candidatos ao título não venceram: Olivier Panis ganhou uma “corrida maluca” com a Ligier em Mônaco e Schumacher venceu, de forma brilhante e debaixo de um temporal em Barcelona, a primeira das 72 provas com a Ferrari.

No Canadá e na França, mais duas vitórias para Hill, e a Williams fazia a quarta dobradinha em nove corridas: todas com o britânico à frente. Ironicamente, Damon venceu na casa do canadense e Jacques foi o vencedor na Inglaterra. Hill abandonou em Silverstone, e a diferença caiu para 15 pontos — a menor distância na tabela desde o GP da Europa, em abril.

Villeneuve ia tirando a diferença aos poucos. Foi apenas terceiro e viu Hill vencer na Alemanha, mas deu o troco na Hungria e na Bélgica: venceu em Budapeste e foi segundo em Spa, enquanto Hill foi segundo e quinto colocado, respectivamente. A diferença estava em 13 pontos, mas com o abandono de ambos na Itália, o tempo começava a jogar em favor de Hill.

Faltavam apenas duas etapas para o fim da temporada e Villeneuve só seria campeão caso Hill quebrasse em uma dessas provas.

O canadense venceu em Portugal e impediu o rival de comemorar o título no Estoril. Mas a diferença era de nove pontos, e Hill tinha sete vitórias contra apenas quatro triunfos de Villeneuve: Hill precisava apenas de um sexto lugar para ser o primeiro filho de campeão a repetir o feito. Villeneuve precisava vencer e torcer para que Hill não pontuasse.

Filho do mítico Graham, Damon Hill fez história com título mundial de F1 em 1996 (Foto: Williams)

Nos treinos, Villeneuve mostrou velocidade e foi o único a andar na casa de 1min38, marcando a pole com o tempo de 1min38s909. Hill fechou a primeira fila para a Williams, com a marca de 1min39s370. Schumacher ficou longe dos carros azuis, fazendo sua volta mais rápida em 1min40s071, a 1s1 de Villeneuve. Nem mesmo o alemão conseguiu enfrentar a supremacia da equipe de Frank Williams em 1996.

Hill aproveitou a má-largada de Villeneuve e tomou a ponta. O canadense ficou parado no grid, caindo para sexto, atrás de Hill, Gerhard Berger, Mika Häkkinen, Schumacher e Eddie Irvine. Na terceira volta, Berger tentou ultrapassar Hill na chicane e danificou a asa dianteira da sua Benetton. A Williams, por sua vez, temia danos no pneu traseiro de Hill. Mas tudo não passou de um susto.

Villeneuve estava preso atrás de Irvine e não conseguia sair do quinto lugar. Hill, por outro lado, pouco a pouco abria vantagem sobre Häkkinen. Quando entrou nos boxes, na volta 18, ele já tinha 6s de vantagem para o finlandês. Depois da segunda rodada de pit-stops, ele tinha 5s de vantagem para Schumacher — que ganhara a posição de Häkkinen após o primeiro pit-stop.

O canadense era o quarto após o primeiro terço de prova e parou para fazer sua última troca de pneus na volta 32. Ele estava em quinto e precisava passar as duas Ferrari e a McLaren de Häkkinen para chegar em Hill. Na primeira curva da volta 37, o pneu traseiro de Villeneuve se soltou e o canadense foi parar na brita.

Era o fim do campeonato. Hill era o campeão do mundo de 1996. Ao ouvir a notícia pelo rádio da equipe, ele tremeu nos sapatos: “Não é fácil manter a concentração quando você é avisado que é o campeão do mundo. Mas eu tentei me concentrar e continuar pilotando. Eu queria muito vencer aquela corrida”, disse Hill.

Depois de três anos lutando, Hill finalmente conquistava o título. A ironia da história: ele foi preterido em relação à Villeneuve e estava sem emprego para 1997. A Williams havia contratado Heinz-Harald Frentzen para seu lugar. Desta forma, Damon Hill levou o icônico #1 para a Arrows no ano seguinte.

Schumacher terminou em segundo e conquistou o oitavo pódio do ano pela Ferrari. Um desempenho animador para uma equipe que não lutava pelo título desde 1990. Häkkinen fechou o pódio. Foi a primeira vez que o GP do Japão encerrou a temporada desde 1977 e, entre outras lembranças, essa corrida marcou a despedida da Ligier da F1.

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