Mesmo com melhor Ferrari e ameaça da Red Bull, consistência dá hexa a Hamilton

Após início quase irretocável, Lewis Hamilton viu a melhora de sua principal rival após as férias de verão da Fórmula 1. Mesmo com a mudança de forças no campeonato, o inglês e a Mercedes souberam usar suas melhores armas para garantir o hexa do piloto: a confiabilidade do carro e a habilidade de Hamilton


Lewis Hamilton precisava apenas de um oitavo lugar para garantir o sexto título mundial nos EUA. Mas o inglês queria mais, muito mais. E foi à luta, como fez durante toda a carreira. Largando apenas da quinta colocação do grid, o dono do carro #44 protagonizou um início de corrida de tirar fôlego. Superou os dois carros da Ferrari, com belas ultrapassagens e aí passou a acompanhar de perto Max Verstappen, o segundo colocado, e Valtteri Bottas, o líder. Mais tarde, permaneceu na pista mais tempo que ambos, para tentar dar o bote no fim. E apesar de todo o esforço em cuidar dos pneus, não pode segurar o companheiro de equipe, que vinha com calçados mais novos, para vencer e Austin. Ainda assim, manteve o insistente Verstappen atrás para cruzar a linha de chegada em segundo e garantir o hexacampeonato. Hamilton é apenas o segundo na história a conseguir tal feito. Agora está atrás somente de Michael Schumacher, que possui sete taças do mundo. Também, é o quinto título do britânico nos últimos seis anos, marcados pela era dos motores turbo e a hegemonia da Mercedes entre as equipes.

Hamilton chega ao hexacampeonato após uma temporada muito consistente. São dez vitórias até aqui, quatro segundos lugares, dois terceiros, apenas duas corridas terminando fora do pódio e nenhum abandono. O crescimento da Ferrari após as férias de verão da Fórmula 1 e a motivação inicial de seu companheiro de equipe, Valtteri Bottas, não foram capazes de segurar o inglês de 34 anos no caminho para mais um Mundial de Pilotos. Lewis esbanjou frieza, tratando o campeonato corrida a corrida e aproveitando cada vacilo dos rivais. Deu uma aula aos adversários.

 
O início da temporada foi um dos mais avassaladores de Hamilton em seus 13 anos na Fórmula 1. Nas oito primeiras etapas do campeonato, da Austrália à França, foram seis vitórias e dois segundos lugares. De 208 pontos que poderia ter feito nesse período, conseguiu 187. Nem em 2018, quando fez a sua maior quantidade de pontos de um piloto em um ano (408), Hamilton conseguiu um início tão bom quanto o de 2019. Atualmente com 381, o britânico ainda pode quebrar seu próprio recorde com os 78 pontos em disputa.
 
Seu companheiro de equipe pelo terceiro ano consecutivo, Valtteri Bottas, chegou à Austrália prometendo uma disputa com Hamilton pelo título. E, no início, deu a impressão de que conseguiria bater de frente com o britânico. Em quatro etapas, duas vitórias para cada um, mas o ponto da volta mais rápida no GP da Austrália deu ao finlandês a liderança temporária por um ponto após o GP do Azerbaijão.
Lewis Hamilton obteve sua primeira vitória em 2019 no Bahrein (Foto: Beto Issa)
Mas o gás de Bottas acabou rapidamente, e com nenhuma outra equipe conseguindo fazer frente à Mercedes, o caminho estava livre para Hamilton abrir na liderança.
 
Na semana do GP de Mônaco, Hamilton e a Mercedes tiveram que enfrentar seu grande baque no ano: a morte de Niki Lauda, que atuava como diretor não-executivo da equipe. O britânico ficou abalado com a perda do tricampeão, a quem chamou de seu “parceiro de crime” e uma peça fundamental na conquista dos seus títulos com a Mercedes.
 
O GP foi particularmente difícil para Hamilton, que criticou a escolha de pneus pela equipe na hora da parada. O britânico sofreu com os compostos e teve dificuldades em segurar Max Verstappen, que tinha um carro melhor nas voltas finais, mas conseguiu a vitória, que foi dedicada a Niki, em uma das melhores pilotagens de Hamilton em sua carreira.
Niki Lauda vai ser lembrado para sempre nos carros da Mercedes com a estrela vermelha (Foto: Mercedes)
Hamilton afirmou que o austríaco estava correndo junto com ele durante a prova, uma das mais difíceis de sua carreira. Aos jornalistas, disse ainda que seu objetivo é “um dia ser tão respeitado quanto Niki era”.
 
Após a vitória na França, a sexta em oito etapas, Hamilton passou pelo momento mais complicado do ano nas provas antes das férias de verão. Mesmo com as vitórias em Silverstone e na Hungria, sofreu com com os problemas do W10 na Áustria e com erros da Mercedes na Alemanha. Mas as duas vitórias de Max Verstappen não tiveram grandes impactos no campeonato.
 
A grande mudança na temporada veio com o final das férias de verão. A partir do GP da Bélgica, a Ferrari se colocou como a equipe a ser batida, devido a atualizações no SF90, que deixaram os carros da equipe italiana praticamente imbatíveis nas classificações. Leclerc conseguiu duas vitórias na Bélgica e na Itália e Vettel em Singapura, enquanto Hamilton terminou em segundo, terceiro e quarto, respectivamente.
 
Mas o crescimento repentino da Ferrari no campeonato veio tarde demais e, com erros de estratégia nas três etapas seguintes, Rússia, Japão e México, Hamilton conseguiu emendar duas grandes vitórias e encaminhar o campeonato.
Mesmo com a Ferrari dominando o início da segunda fase, Hamilton se manteve líder (Foto: Ferrari)
O grande diferencial do ano de Hamilton, em comparação aos demais anos em que foi campeão, é a consistência. Com os resultados obtidos, não deu chances de nenhum outro piloto surgir como um competidor ao título. O britânico não abandona uma corrida desde o GP da Áustria do ano passado e, em 2019, terminou apenas uma corrida fora das cinco primeiras colocações.
 
São números impressionantes que atestam a qualidade do carro e, principalmente, do nível de pilotagem do inglês, que sempre extraiu o máximo de sua Mercedes e dos pneus para garantir grandes resultados em pistas que nem sempre favorecem a equipe alemã. É o caso do GP do México, realizado no final de outubro.
 
A Mercedes chegou ao Autódromo Hermanos Rodriguez quase que como uma terceira força, atrás da Red Bull e da Ferrari. Mas devido a estratégia arriscada da Mercedes e a habilidade de Hamilton de pilotar em alta velocidade e conservar os pneus simultaneamente, o britânico conseguiu saltar para uma vitória inesperada.
 
Fora do paddock, Hamilton é ainda muito ativo nas redes sociais e nos projetos paralelos, que vão desde sua própria linha de roupas até a defesa da dieta vegana e a necessidade de combate às mudanças climáticas. A rotina de Hamilton fora da Fórmula 1 prova que para estar no mais alto nível de pilotagem não é preciso abdicar de tudo na vida, como fez seu ex-companheiro de equipe, Nico Rosberg, no ano em que foi campeão. Você pode fazer o que quiser, desde que não perca o foco daquilo que é mais importante. E essa receita tem dado muito certo para o britânico.
Lewis Hamilton (Foto: Mercedes)
Não à toa que Hamilton tem o maior número de pole-positions da Fórmula 1, tendo largado 87 vezes na frente (mesmo com apenas 4 em 2019), é o segundo maior vencedor da categoria, com 83 vitórias, entre outros números que impressionam.
 
As poles, inclusive, são a única pedra no sapato de Hamilton nesse ano. Desde o GP da Alemanha, na última semana de julho, que o hexacampeão não larga na primeira posição. Já são sete etapas de jejum e o piloto afirma sentir falta de terminar um treino classificatório na frente.
 
Hamilton deve suas temporadas meteóricas à parceria vitoriosa com a Mercedes. O britânico assinou com a equipe alemã em setembro de 2012. A saída da McLaren foi vista como uma aposta de que a partir de 2014, com a mudança do regulamento técnico da Fórmula 1, a Mercedes seria capaz de dar a seus pilotos carros para brigar pelo título. Foi o início de uma das maiores parcerias da história da categoria.
 
O grande momento de Hamilton começou em 2014, com a era dos motores turbo. Foi o início da hegemonia da Mercedes, que se mantém até 2019. Desde então, a equipe venceu o Mundial de Construtores por seis anos consecutivos e no Mundial de Pilotos, Hamilton levou cinco contra um de Nico Rosberg.
 
Inicialmente, Hamilton tinha como objetivo buscar as marcas de Senna, seu ídolo maior, na Fórmula 1. Mas não parou por aí. Continuou ganhando, fazendo pole-positions, voltas mais rápidas, além dos títulos. Agora, sendo apenas o segundo hexacampeão da história da categoria, o piloto vai atrás das marcas da única pessoa que tem mais títulos que ele: Michael Schumacher.
 
O alemão, único heptacampeão na história da Fórmula 1, teve uma história de dominação similar à de Hamilton e Mercedes com sua Ferrari no início dos anos 2000. O britânico deve ir com tudo para tentar empatar no ano que vem.
 
Outra marca de Schumacher que Hamilton vai atrás na próxima temporada é a de vitórias. Ninguém venceu mais na Fórmula 1 que o alemão, 91 vezes. Lewis, já tem 83. Com as etapas que ainda restam em 2019 e a temporada inteira de 2020, com 22 GPs, ele tem boas chances de alcançar e bater Michael.
 
Os números atingidos a cada corrida sempre levantam o debate se Hamilton seria o melhor de todos os tempos. Ainda há muita discordância nesse assunto, principalmente pela diferença de cada geração da Fórmula 1. Mas é inquestionável que ele está entre os melhores de todos os tempos. E isso não é afirmado apenas pelos fãs. O mundo do automobilismo defende isso constantemente.
 
Para sua equipe, Hamilton é apenas elogios. No final de semana do GP do México de 2019, o chefe da equipe, Toto Wolff, afirmou que Hamilton já é um dos melhores e, quando se aposentar, talvez seja considerado o melhor de todos os tempos. Já seu “parceiro de crime”, Niki Lauda, declarava, ainda em 2017, que Hamilton já era o maior de todos.
 
A admiração ao agora hexacampeão não está restrita à sua equipe. O mundo da Fórmula 1 constantemente elogia Hamilton e o coloca como um dos maiores de todos os tempos. Um de seus maiores rivais na categoria, o espanhol Fernando Alonso, colocou o britânico na sua lista de cinco melhores da história, junto de Schumacher, Fangio, Senna e Prost.
 
O espanhol, em coletiva de imprensa no GP dos Estados Unidos do ano passado, elogiou a performance de Hamilton ao longo de sua trajetória: “Alguém da nossa geração tinha que atingir esse feito e eu estou feliz que é o Lewis, porque ele mostrou talento e comprometimento. Quando o carro era dominante, ele entregou resultados e ganhou campeonatos. Quando o carro não era tão bom, ele ainda assim conseguiu entregar resultados que mostravam seu talento. Isso é um negócio difícil de ver na Fórmula 1 hoje”, afirmou Alonso.

O futuro de Hamilton na Fórmula 1 e no automobilismo ainda é incerto a longo prazo. O britânico ainda corre a temporada de 2020 pela Mercedes e deve fazer de tudo para igualar o número de títulos de Schumacher e ultrapassar o número de vitórias do alemão. 

Lewis Hamilton (Foto: Reprodução)
Em 2021, a Fórmula 1 inicia uma nova era, com um novo regulamento técnico e ainda não é possível prever como ficará o grid da categoria e nem o futuro do hexacampeão. Por enquanto, o britânico tem elogiado as primeiras simulações com o novo carro e Toto Wolff já verbalizou o desejo de manter o piloto na equipe com o desejo de formar a dupla perfeita.
 
Se Hamilton vai conseguir igualar ou ultrapassar a marca de Schumacher, ainda não é possível saber com certeza. Mas, se manter o nível de pilotagem dos últimos anos, as chances são grandes. Enquanto corre atrás disso, vamos assistindo ao desenrolar de uma das maiores carreiras da história da Fórmula 1.

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