McLaren inicia terceira temporada em cinco anos correndo atrás para corrigir carro malnascido

A escuderia inglesa vem vivendo momentos de altos e baixos desde que o atual pacote de regras da F1 foi introduzido em 2009. Em três das últimas cinco temporadas, ela teve problemas de desenvolvimento do carro e ficou longe do título

A McLaren vem sendo a principal decepção da temporada 2013 da F1. Com três corridas disputadas até agora, o time inglês somou apenas 14 pontos e ocupa a quinta colocação na tabela, empatada com a Force India e bem distante da líder Red Bull, que já soma 78. Mesmo ainda havendo muito tempo para se recuperar, começar um ano mal, na verdade, não é uma novidade para o time de Woking.

Desde quando o regulamento atual da F1 foi introduzido em 2009, a equipe inglesa vem vivendo altos e baixos na categoria. Nas cinco temporadas desde a mudança nas regras, a McLaren teve problemas no desenvolvimento do equipamento em 2009, 2011 e 2013. Mesmo que a equipe tenha conseguido se recuperar, ela jamais conquistou um título.

A fase está tão ruim na McLaren que o quinto lugar é comemorado (Foto: Getty Images)

Os problemas do time começaram justamente por causa do novo regulamento. Para diminuir os custos da F1 e aumentar as ultrapassagens, o então presidente da FIA, Max Mosley, começou a desenvolver em 2006 um novo pacote de regras, que foi implantando três anos depois.

As mudanças foram drásticas. Os pneus slicks voltaram, o Kers foi introduzido, as equipes foram proibidas de vender os carros para times clientes (como acontecia com Red Bull e Toro Rosso), os treinos privados foram proibidos, o uso do túnel de vento foi limitado, e o limite de motores por campeonato passou a ser apenas oito.

Para completar o pacote, a aerodinâmica dos carros foi completamente refeita. Para diminuir a influência da downforce e aumentar as chances de ultrapassagens, a FIA estipulou que as asas dianteiras precisariam ser mais baixas e largas, enquanto as traseiras seriam altas e estreitas. Além disso, os apêndices foram proibidos e o desenvolvimento aerodinâmico dos carros passou por uma padronização para torná-los mais limpos.

As alterações foram tantas que Adrian Newey, projetista da Red Bull, afirmou que se tratava da maior revolução técnica do esporte desde 1983.

Os anos de glórias da McLaren estão cada vez mais distantes (Foto: Getty Images)

Como estava disputando o título de 2008 até a última etapa, naquele GP do Brasil definido pela ultrapassagem de Lewis Hamilton em Timo Glock na última volta, a equipe inglesa subestimou a mudança do regulamento, deixando para desenvolver o novo carro de última hora. O resultado foi o pior possível.

Como os pneus slicks voltaram à F1, o primeiro treino coletivo foi realizado ainda no fim de 2008, não em janeiro como costuma acontecer, para que as equipes tivessem mais tempo de desenvolver o carro a partir dos novos compostos. Mesmo campeão, Lewis Hamilton terminou com as últimas colocações, 1s5 atrás dos mais rápidos, e Felipe Massa afirmou que nunca tinha visto uma McLaren ficar tão atrás.

A situação não melhorou no início de 2009. Com sérios problemas para gerar downforce, a McLaren somou apenas 13 pontos nas oito primeiras corridas do campeonato. Nesse tempo, Hamilton teve uma sequência de péssimos resultados, terminando do GP de Mônaco ao GP da Alemanha fora do top-10. Heikki Kovalainen, por sua vez, marcou pontos apenas em Nürburgring, quando o time já tinha algumas atualizações.

Mesmo com todos os problemas, a escuderia inglesa mudou da água para o vinho para a segunda metade da temporada, coincidindo com a queda da Brawn. Na Hungria, Hamilton conquistou a primeira vitória do time no ano. Ele ainda terminaria o campeonato com mais um triunfo, em Cingapura, além de outros três pódios e quatro poles. No final, quinta colocação, com 49 pontos. Kovalainen, por sua vez, não foi bem, sendo apenas o 12º na classificação final.

Para 2010, o finlandês acabou substituído por Jenson Button, campeão no ano anterior. Pela primeira vez na história, uma equipe teria os dois últimos vencedores da categoria. A mudança levou novos ares à McLaren, e a equipe começou o campeonato apostando no duto frontal, sistema que inventou, em que os pilotos precisavam tampar, com o joelho, um pequeno buraco no cockpit para otimizar o fluxo de ar para a traseira do carro, aumentando o downforce. Outros times copiariam a novidade, com os pilotos podendo usar a mão para cobrir o furo do cockpit.

O polêmico duto frontal de 2010 (Foto: McLaren)

Com a nova peça, a equipe teve um ano sem sustos e chegou a brigar pelo título até a etapa final, com Hamilton. O inglês, porém, terminou apenas com a quarta colocação na classificação geral, tendo vencido três vezes, enquanto Button foi o quinto, com dois triunfos no ano.

O problema é que mais uma vez não foi possível manter a boa fase. Para 2011, a equipe resolveu apostar no sidepod em formato de L, como uma forma de melhorar a ida do ar para a parte traseira, uma vez que o duto-frontal havia sido banido. O problema é que a peça fazia com que o carro não conseguisse resfriar alguns componentes de maneira correta em altas temperaturas.

E não demorou muito para que as primeiras falhas se mostrassem. Na pré-temporada, já estava claro que o time de Woking começava atrás. Em Barcelona, Button chegou a ser o 13º em uma das sessões, enquanto foi oitavo em outra. Hamilton, por sua vez, fechou em quinto – lembrando que cada equipe andava com apenas um carro – tanto em Jerez quanto em Barcelona.

Para tentar melhorar as coisas, a McLaren resolveu dar um tiro no escuro e fez mudanças drásticas antes da primeira corrida da temporada, sem qualquer garantia. A manobra deu certo, com Hamilton chegando em segundo na Austrália, enquanto Button repetiu o resultado na Malásia. A primeira vitória da equipe também não demorou a acontecer, com Lewis terminando na frente na corrida seguinte, na China.

A McLaren resolveu mudar o carro de 2011 antes da primeira corrida (Foto: McLaren)

Apesar disso, alguns problemas ainda persistiam. A dificuldade de refrigeração fez com que a equipe tivesse um resultado muito ruim nos GPs da Turquia e de Valência, onde a temperatura ambiente estava elevada. No restante da temporada, o time conseguiu se recuperar e conquistou mais cinco vitórias. Só que aí já era tarde demais. Vettel havia vencido seis das primeiras oito corridas e praticamente sacramentou o segundo título.

No ano passado, a McLaren voltou à normalidade. Mesmo sendo uma das poucas equipes sem o degrau o bico, os treinos da pré-temporada aconteceram dentro do esperado. Para melhorar, Hamilton liderou a dobradinha do time no grid do GP da Austrália, vencido por Jenson Button.

A partir daí, a Red Bull voltou a aparecer forte e tomou a primeira colocação. Ao mesmo tempo, Button começou a ter problemas com os pneus. Nas seis corridas entre o GP do Bahrein e da Alemanha, o campeão do mundo de 2009 marcou apenas sete pontos, incluindo um 18º e dois 16º lugares nesse período. A má-fase, porém, terminou na Alemanha, quando o piloto chegou em segundo. Depois disso, foram mais duas vitórias até o fim do campeonato.

A McLaren resolveu recomeçar o carro do zero em 2013 (Foto: McLaren)

Quando tudo parecia caminhar para mais um ano sem problemas, a McLaren resolveu começar o desenvolvimento do carro de 2013 do zero, ao entender que o ciclo do equipamento anterior já havia chegado ao fim. Assim, o MP4/28 foi apresentado com suspensão dianteira pull-rod, um centro de gravidade diferente, além de um painel cobrindo o degrau no bico.

No primeiro treino da pré-temporada, Button terminou com a primeira colocação, mas logo a McLaren descobriu que o bom desempenho aconteceu porque uma parte do carro havia sido montada amadoramente de forma errada, algo que não poderia ser repetido em ritmo de corrida.

Dessa forma, a realidade do time inglês passou a ser bem diferente. Com Sergio Pérez – substituto de Hamilton na escuderia – afirmando que o time ainda não entendia o comportamento do carro, a equipe somou apenas 14 pontos nas cinco primeiras corridas de 2013, com o quinto lugar de Jenson Button, na China, como melhor resultado.

Para tentar resolver os problemas deste ano, a McLaren chegou a cogitar o uso do carro do ano passado, mas mudou de ideia. O time resolveu apostar na evolução do equipamento deste ano e foi recompensado com o resultado de Xangai. De qualquer forma, para uma equipe com tantas glórias, o quinto lugar em uma corrida não é um resultado que deveria ser comemorado.

Para um time que quer brigar por títulos, não adianta começar o ano com dificuldades como aconteceu em três das últimas cinco temporadas, pois depois fica tarde demais. Por outro lado, é louvável a recuperação obtida pela escuderia nesses anos. Se 2009 e 2011 começaram de maneira muito ruim para o time, os engenheiros conseguiram desenvolver o equipamento – mesmo em uma era em que os treinos privados são proibidos – e transformá-los em vencedores.

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