Norris sai do zero e vence em Miami. É hora de abrir porteira e atingir novo patamar

Lando Norris aproveitou a grande oportunidade que teve para vencer uma corrida desde aquele fatídico GP da Rússia de 2021. O inglês, agora, tem a chance de mudar de nível na F1 e começar a trilhar, para valer, o caminho para ser um futuro campeão do mundo

Lando Norris é um dos nomes mais falados da F1 nos últimos anos. Indiscutivelmente talentoso, o ainda jovem inglês parece flutuar rapidamente nas discussões entre um futuro campeão do mundo e um piloto que não deu certo. E nessa montanha-russa de extremismo, Lando agora se apresenta na crista da onda, depois de passar um bom tempo em baixa.

A verdade é que, com exceção do ano de novato, quando naturalmente oscilou bastante e acabou muito facilmente batido por Carlos Sainz, Norris sempre entregou resultados. Em 2020, ainda foi ligeiramente inferior ao espanhol no confronto direto, depois, com a ida de Sainz para a Ferrari, tomou a McLaren para si e se transformou em um dos caras mais rápidos do grid.

Ainda que não tenha vencido no período e Daniel Ricciardo, sim, Lando basicamente expulsou o australiano da McLaren com resultados muito superiores. O australiano caiu bastante de nível e não se recuperou até agora, é verdade, mas não era um duelo fácil. Norris, então com 21 anos de idade, liderou o time, foi consistente, frequentou pódios, fez pole. Mas não venceu.

E é justamente esse fato que perseguia a carreira de Norris e enviesava as análises em cima dele. Não foi da noite para o dia e nem de graça, sejamos justos. A epopeia começa no GP da Rússia de 2021, quando Lando crava pole, domina a corrida e parte tranquilo para o triunfo. Até que a chuva surge e o garoto, no desespero, resolve ficar de pneus secos na pista. A escapada melancólica do traçado ficou na mente dos fãs da F1. E aparentemente na dele também.

LANDO NORRIS; GP DA RÚSSIA; FÓRMULA 1;
Lando Norris arriscou com pneus slicks na chuva em Sóchi e perdeu chance de vencer (Foto: Reprodução)

Dali para cá, se conta nos dedos quantos pilotos fizeram mais pontos ou pódios que Norris. Ou até pilotos que conseguiram vencer corridas em uma F1 tão dominada por Max Verstappen e pela Red Bull. Só que a questão nunca foi só não vencer. Mas como não vencer.

Justamente por empilhar bons resultados e ter um ritmo excelente em classificação e corrida, Lando começou a ser cobrado. É muito verdade que as chances que apareceram no período nunca foram cristalinas, nem de perto o que viveu em Sóchi três anos atrás, mas o inglês não parecia querer que as chances existissem. Era como se repelisse a mera possibilidade de triunfar.

As não-batalhas com Verstappen ficaram famosas. Norris liderava corridas ou vinha em segundo com mais ritmo, mas era Max o rival? Quase nada acontecia. Mais de uma vez, algumas vezes. Os cinco segundos lugares em um espaço de nove corridas em 2023 cobraram um preço alto, por maiores que fossem os pontos anotados pelo rapaz.

Lando nunca escondeu o incômodo pelas vezes em que batia na trave, muito menos pelo fato de que simplesmente não vencia. Já se irritou com repórter, com torcedor, já brigou em rede social. Norris sempre soube que podia mais que os excelentes pódios que conquistava. E precisou trabalhar o psicológico porque as porradas vieram.

Lando Norris venceu a primeira na F1 em Miami (Foto: AFP)

O fato é que Norris começou a ser cobrado até em situações que não tinha a menor chance ou que o pódio era apenas um resultadaço e não uma chance real diante de um Verstappen e de uma Red Bull avassaladores. O público geral criou uma espécie de ‘ranço’ do inglês que só poderia ser destruído com uma vitória. Não bastavam mais as boas performances e os resultados para lá de sólidos.

Lando empilhou largadas nas duas primeiras filas, pódios conquistados, mas a vitória só poderia sair exatamente do jeitinho que veio em Miami: quando ninguém esperava nada. Norris era sexto ou simplesmente último do primeiro pelotão quando o safety-car veio na hora certa, o jogou para frente e resolveu a parada em poucos segundos. Era como se Sóchi 2021 estivesse acabando naquele momento, como se o drama vivido na Rússia fosse revertido quase que perfeitamente a seu favor.

O inglês, dessa vez, não desperdiçou a chance. Não teve chuva ou Verstappen que o ameaçasse, Lando, enfim, virou um vencedor de corrida na F1. O ranço da falta de triunfos? Quebrado. E a alegria dele foi bonita de ver, bem como de boa parte do grid que festejou junto com o rapaz. Mas o que vem a seguir?

Ao deixar de ser o ‘piloto hipotético’, ou seja, o cara que sempre “poderia mais”, “merecia mais”, “pode ser que…”, Norris se livra de uma pecha e ganha novos objetivos. O que vai acontecer em 2024 parece ser o de menos, a não ser que a McLaren vire uma máquina avassaladora e a Red Bull se perca, claro, mas o futuro é que é a grande questão.

Norris agora parte em busca do sonho de ser campeão do mundo (Foto: McLaren)

Se Lando era visto por muito tempo como futuro campeão do mundo, se é a grande aposta da McLaren desde a base em algo que o time não preparava desde Lewis Hamilton em termos de formação, é porque algo de especial existe ali.

Sem o peso de um mundo nos ombros pela quebra do jejum, Norris agora precisa se soltar, arriscar um pouquinho mais, criar também as próprias oportunidades, pegar gosto pela vitória. São seis temporadas de F1, mais de 100 corridas, mas ainda 24 anos nas costas. A carreira dele provavelmente não tem nem um terço ainda.

Se vai ser mesmo campeão do mundo, só o futuro vai dizer, mas o primeiro passo para que isso aconteça é acreditar em si tanto quanto a McLaren crê nele. Um carro poderoso é fundamental, claro, mas Lando precisa estar pronto para recebê-lo quando for o momento. Em um mundo em que só Verstappen parece capaz de empilhar títulos nos próximos anos, o negócio é aguardar a roda girar e se preparar para quando a hora surgir. É tempo de abrir a porteira de vez.

Norris acertou e errou muito nos últimos anos. Teve posturas boas e ruins. Recebeu críticas merecidas e outras exageradas. Mas tudo isso ficou para trás. É como se a vida tivesse de recomeçar agora. E o horizonte tem tudo para sorrir para ele.

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