GUIA 2020: Coronavírus e polêmica no caso Ferrari abrem ano de espera por revolução na F1

A Fórmula 1 vive em 2020 um ano de transição e espera por uma drástica transformação na temporada que vem, mas, antes mesmo do novo campeonato começar, a maior das categorias já se vê às voltas com os temores do coronavírus no mundo, além da bomba-relógio em que se tornou o caso do acordo secreto feito pela FIA com a Ferrari

GUIA 2020
_Antes da revolução de 2021, F1 traz mudanças apenas pontuais no regulamento
_Fórmula 1 2020 teria a maior temporada da história. Mas aí surgiu o coronavírus
_Liberty Media precisa provar valor em temporada de novo Acordo da Concórdia
_Mercedes chega favorita com evolução de carro e revolução com inovador DAS
_Ferrari decide mudar projeto enquanto tenta lidar com dois ‘galos no galinheiro’
_Red Bull come quieta para virar dor de cabeça para Mercedes na temporada 2020
_Racing Point tem sacada de mestre para liderar F1 ‘B’ em 2020: copiar Mercedes
_McLaren, Renault, Alfa Romeo, AlphaTauri e Haas: quem encara a Racing Point

ERA PARA SER A temporada mais longa da história da Fórmula 1. Era para ter um início voltado apenas para as ações de pista. Era para ser o ano do equilíbrio, enquanto se aguarda a revolução. Era… Pois o 2020 da maior das categorias virou do avesso em poucas semanas e agora coloca à prova seus comandantes e até a realização de um campeonato propriamente dito. O cenário todo ganhou contornos dramáticos e sem precedentes. Se por um lado, a principal série do esporte a motor não escapa do avanço assustador do novo coronavírus, por outro, há ainda uma bomba-relógio prestes a explodir, diante de um inexplicável acordo secreto feito pela FIA (Federação Internacional de Automobilismo) com a Ferrari

 
Neste momento, o grande desafio é entender e reagir a contento, por conta dos efeitos da doença que teve início na China e que agora  se espalha rapidamente ao redor do planeta. As restrições de viagem afetam todo o globo, e isso é uma dor de cabeça para uma F1 tão internacional. Obviamente, a etapa chinesa foi descartada sem questionamentos, em uma hora em que a Ásia e a Oceania, rotas tradicionais do início de temporada, já se deparavam com as severas consequências do Covid-19. Hoje, a preocupação vai muito além e atinge o continente mais importante para a F1. A Europa também impõe medidas duras de precaução, sobretudo na Itália, país com o maior número de casos da região. O alcance e os riscos de contágio do vírus ligaram as luzes de alerta nos escritórios do Liberty Media, grupo proprietário do Mundial, e também da FIA, muito embora o GP da Austrália esteja garantido, em 15 de março.

Ainda assim, há muito que decidir. Por enquanto, 21 etapas seguem previstas.

O GP da Austrália abre a temporada, mesmo com o temor do coronavírus (Foto: Mercedes)
No caso da Itália, mais especificamente, o problema está em viagens dos membros das equipes Ferrari e Haas – na verdade, funcionários da Dallara, parceira técnica do time norte-americano. Isso porque o governo italiano decretou nova quarentena no norte do país, como forma de conter a propagação da doença. Apesar da apreensão inicial, as duas escuderias receberam o sinal verde das autoridades para voar a Melbourne. Só que as preocupações não param aí. Ainda há incerteza com relação a outras praças europeias do calendário, na esteira do que já acontece no Bahrein, que vai receber a F1 de portões fechados, ou no Vietnã, que pretende realizar sua primeira corrida em 2020, mas que também já impõe restrições de viagem a italianos. Em contrapartida, o diretor-esportivo da F1, Ross Brawn, chegou a falar em cancelar etapas em países que não permitam a entrada de membros das equipes. Ou seja, não é mais tão absurdo pensar em uma redução drástica do calendário, o que pode ter um efeito devastador em termos de receita e audiência. Sem dúvida, o comando da F1 está contra a parede e em um momento ainda precoce do ano. 
 
E falando em pressão por decisões rápidas e, ao mesmo tempo, seguras, a F1 também tem pela frente um complexo imbróglio a resolver e que pode determinar o futuro do Mundial, uma vez que 2020 é um ano crucial por conta das negociações do novo Pacto da Concórdia, documento que rege a divisão das receitas, além do comprometimento das equipes com a categoria. Acontece que o acordo secreto estabelecido entre a FIA e a Ferrari, ainda sobre o caso das suspeitas de irregularidade do motor italiano do ano passado, despertou a ira de sete equipes, lideradas por Mercedes e Red Bull, que exigem explicações, uma vez que a entidade máxima do esporte sequer foi capaz de provar que a unidade de potência estava ou não fora do regulamento. As rivais ainda ameaçaram ir à Justiça em busca de detalhes do acerto e, certamente, é um movimento que vai se estender ao longo da temporada e do qual os comandantes da F1 não terão como escapar. Os desdobramentos vão falar muito sobre como FIA e Liberty pretendem tratar os times do grid daqui para frente. E isso deve se refletir em 2021, ano de mudanças extremas de regulamento e da forma como a F1 quer ser vista pelo mundo.
A Mercedes, de novo, é a equipe a ser batida (Foto: Mercedes)
Mas se a maior das categorias começa 2020 diante de uma tensão quase inédita do lado de fora das pistas, por dentro, o cenário não é menos dramático. De novo, a Mercedes se põe excelente, aproveitando todas as benesses de um regulamento estável e de pouquíssimas mudanças. Além de trazer ao mundo um carro veloz e sem problemas aparentes, a equipe ainda se deu ao luxo de desenvolver um recurso inovador: o DAS, Direção de Eixo Duplo, chocou o mundo do esporte em razão do movimento incomum que o piloto faz ao puxar o volante, para frente e para trás, de modo a mudar a convergência das rodas dianteiras. Em um ano de transição, o trabalho da hexacampeã é ainda mais notável, o que a coloca já como grande favorita ao hepta. Isso vale também para sua maior estrela: Lewis Hamilton também é o principal candidato à taça – a sétima da carreira. Vivendo o auge técnico, o britânico parece imbatível e caminha a passos largos para superar o maior nome do esporte, o alemão Michael Schumacher.
 
Já a Ferrari, maior rival da Mercedes, não teve um início tão promissor. Mais uma vez, a escuderia vermelha se vê em apuros em um ano em que precisa ainda lidar com um Sebastian Vettel em fase de decidir o futuro, ao lado de um faminto Charles Leclerc, que não vê a hora de assumir o posto de primeiro piloto. O projeto italiano surgiu em inconsistente e dá a impressão que ainda vai precisar de tempo para alcançar o seu verdadeiro potencial. Enquanto isso, os homens e mulheres de Maranello terão de lidar com todo o tipo de pressão, o que vai, sem qualquer dúvida, determinar que tipo de campeonato os ferraristas vão viver em 2020.
A Red Bull tem cara de quem escondeu o jogo (Foto: Getty Images/Red Bull Content Pool)
Correndo por fora está a Red Bull. A esquadra austríaca apresentou um carro sofisticado e de soluções aerodinâmicas radicais. Se isso tudo se encaixar em um motor Honda mais forte, os energéticos, liderados por um Max Verstappen cada vez mais maduro, podem se transformar nos verdadeiros adversários da Mercedes, assumindo de vez a posição de segunda força da temporada – pode ser interpretado como um bom sinal as voltas velozes dadas pelo holandês na tarde final dos testes em Barcelona, onde só não tomou a dianteira da folha de tempos porque não quis. Portanto, diante deste cenário, a disputa pelo título tem tudo para ser um dos melhores dos últimos anos. 
 
E se a expectativa na ponta da tabela é de uma disputa mais equilibrada, o mesmo pode ser dito do pelotão intermediário, até com mais certeza. A Racing Point surpreendeu com um carro inspiradíssimo na Mercedes. Sem pudor algum, a equipe de Lawrence Stroll aproveitou a estabilidade nas regras para adotar diversos conceitos da super campeã. A forma como se comportou o RP20 em Barcelona disse muito sobre o que esperar da equipe a partir de 15 de março. A McLaren e a Renault surgem pouco atrás do time de Sergio Pérez e Lance Stroll, mas com projetos bem distintos. Pode-se dizer que a esquadra francesa vem mais ousada, enquanto os ingleses começam o ano mais comedidos, mas fincados no chão com a jovem e excelente dupla formada por Carlos Sainz e Lando Norris. Já os gauleses se preparam para uma possível rivalidade ardida entre Daniel Ricciardo e Esteban Ocon, que está de volta ao grid e promete esquentar as brigas no meio do pelotão.
A Racing Point é a surpresa do início do ano (Foto: Racing Point)
O compacto grupo da metade do grid ainda tem uma interessante AlphaTauri, que vem bem mais parecida com sua irmã mais velha em 2020, além de ter uma dupla mais madura também. A Alfa Romeo, embora tenha apresentado um carro de desempenho mais sólido, ainda é uma equipe de um homem só: Kimi Räikkönen é quem deve puxar o time novamente. A tabela, por ora, fecha com uma renascida Williams, que inicia o ano mais bem organizada e com dois jovens pilotos, e uma ainda incompreensível Haas, equipe em que tudo pode acontecer.
 
O grid da F1 também segue muito jovem, mas com os veteranos ainda dando as cartas. A F2 não conseguiu emplacar seu campeão desta vez, mas o Mundial terá em Nicholas Latifi o representante do caminho entre a categoria de acesso e o campeonato principal. E o Brasil? Mais uma vez, o país continua sem nomes no grid e entra na última temporada de contrato da etapa da F1 com Interlagos. Por enquanto, ainda sem nenhuma indicação de renovação ou transferência de local. Sinal dos tempos? Os próximos meses é que vão dizer.
 
A principal categoria do esporte a motor, portanto, desembarca na Austrália com mais perguntas que respostas, só que com muito mais preocupações fora das pistas do que dentro, e isso não é uma boa notícia, ainda que exista certa imprevisibilidade no ar.

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