Estrutura, juventude e harmonia: como McLaren reage e vira melhor do resto na F1

Baseada em uma estrutura cada vez mais azeitada, chefiada por Zak Brown e com nomes de peso como Gil de Ferran, Andreas Seidl e James Key, a McLaren está em curva ascendente nesta primeira parte da temporada com uma dupla de pilotos muito jovem e competente. Carlos Sainz e Lando Norris vêm obtendo ótimos resultados e trazem leveza e harmonia à equipe de Woking

Com o desfecho do primeiro semestre e após nove corridas na temporada 2019 do Mundial de F1, a McLaren desponta como a grata surpresa positiva do ano. A saída de um piloto de peso como Fernando Alonso para a chegada da jovem dupla formada por Carlos Sainz, de 24 anos, e o novato Lando Norris, de 19, chegou a trazer alguma desconfiança no início, mas vem se provando uma tacada certeira dos comandados por Zak Brown. A rígida pressão exercida por Alonso ficou para trás, e os novos titulares injetaram harmonia aos boxes da equipe britânica. Harmonia que, combinada com talento inegável de Sainz e Norris e uma estrutura cada vez mais azeitada liderada por Gil de Ferran, Andreas Seidl e James Key, faz da McLaren atualmente a quarta força da F1.
 
O processo para que a McLaren pudesse dar um importante salto de qualidade depois de anos de calvário teve seu pontapé inicial com a reestruturação do seu comando. A saída de um inoperante Éric Boullier permitiu a Zak Brown rejuvenescer seus quadros com nomes de peso e muita competência, a começar por Gil de Ferran, alçado à função de diretor-esportivo. Em 2019, chegaram outros dois profissionais que, pouco a pouco, vão tornando a estrutura da McLaren cada vez mais sólida e forte: Andreas Seidl, ex-Porsche, como novo chefe de equipe, e James Key, como diretor-técnico.
 
Ciente que o projeto do carro do ano passado foi equivocado, a McLaren passou a se concentrar nos erros para construir as bases do MCL34. Em outra frente, a lendária escuderia britânica teria de lidar com um desafio. Com a opção de Alonso por deixar a F1 e a dispensa de Stoffel Vandoorne, Zak Brown promoveu Norris ao posto de titular — depois de lapidar ao máximo o prodígio britânico em testes e treinos livres ao longo do segundo semestre de 2018 — ao lado de Sainz. O espanhol, amigo e fã de Alonso, chegava para ser o pilar de experiência entre os pilotos, ainda que não tivesse convencido durante sua passagem pela Renault.
Lando Norris e Carlos Sainz formam a dupla mais jovem da F1 em 2019 (Foto: McLaren)

Juntos, Sainz e Norris formam a dupla mais jovem da F1 atual, com média de idade de apenas 21,5 anos. Durante o fim de semana do GP do Brasil do ano passado, De Ferran ressaltou justamente que a saída de Alonso e a chegada dos novos pilotos representarem o início de novos tempos para a McLaren. “Vamos ter desafios diferentes, coisas diferentes, problemas diferentes e oportunidades diferentes para lidar. Mas vejo isso não como sendo uma coisa negativa, mas como o sentido natural das coisas”, explicou.

 
O fato é que, desde o início, a dupla Sainz-Norris se encaixou bem. Com a juventude como ponto em comum, os pilotos conseguiram trazer uma harmonia diferente à McLaren. Lapidado para ser a grande estrela do futuro da Inglaterra na F1, Norris trouxe carisma e muito bom humor à equipe, algo que vem contagiando até mesmo a Sainz, de personalidade um pouco mais contida. Brincadeiras entre os dois são comuns, e isso é mostrado tanto pelas redes sociais da McLaren como dos próprios pilotos.
 
Claro que as brincadeiras existem porque os resultados na pista também vêm sendo bons. Na pista, Sainz e Norris estão correspondendo e entregando grandes resultados. Carlos enfrentou um início de temporada difícil, é verdade, com dois abandonos seguidos — foi o primeiro a deixar o GP da Austrália, prova de abertura da temporada —, mas exibiu muita solidez nas corridas seguintes. E Norris mostrou a que veio e não apenas para fazer graça nas redes sociais, mas também para brilhar nas pistas. Prova disso foi o grande sexto lugar obtido logo na sua segunda corrida, no Bahrein, resultado que foi repetido no último domingo na Áustria ao terminar à frente da Red Bull de um contestado Pierre Gasly.

Em Spielberg, Lando chegou a disputar posição com Lewis Hamilton e foi o vencedor no duelo de gerações entre o mais jovem e o mais velho do grid, Kimi Räikkönen.

Lando Norris à frente de Sebastian Vettel e Max Verstappen na Áustria (Foto: McLaren)

Norris só não tem mais do que seus atuais 22 pontos no campeonato por conta de um problema hidráulico que lhe tirou a chance de fechar o GP da França — no qual largou em quinto lugar — com outro bom resultado.

 
E Sainz, com atuações seguras, mostra a cada dia sua verdadeira capacidade como piloto. Não é à toa que a McLaren aposta nele suas fichas para ser o pilar de experiência entre os pilotos. O madrilenho fez grandes atuações, como os sextos lugares nos GPs de Mônaco e da França. Uma semana depois, veio aquela que talvez é sua maior corrida na F1, quando partiu de 19º no grid para terminar em oitavo lugar na Áustria, na esteira de uma reação digna de grandes nomes do esporte.
 
Com um carro cada vez mais confiável e em franca evolução e uma dupla que se dá bem fora da pista, traz harmonia, bom humor e bons resultados, a McLaren se notabiliza por ser, após nove GPs disputados, a quarta força da F1 em 2019, ou a ‘melhor do resto’. A equipe deixa para trás aquela que é a sua principal adversária na luta pelo título informal da chamada F1 B. 
Carlos Sainz teve atuação memorável na Áustria (Foto: McLaren)
A título de comparação, a Renault, mesmo com uma dupla de pilotos muito mais experiente formada por Daniel Ricciardo e Nico Hülkenberg, se perde com performances sofríveis e, diferente da McLaren, está longe de ter um comando capaz de dar a direção certa, por mais que sobre dinheiro para investir em material humano e em atualizações no R.S.19. A McLaren aparece com 20 pontos a mais que a equipe de Enstone e figura em quarto lugar no Mundial de Construtores.
 
A McLaren passou a contar com um grande pacote de atualizações para o MCL34 a partir do fim de semana do GP da Espanha. Mas levou algum tempo para que a eficácia das novas peças fosse refletida na performance do carro, e isso foi visto de forma plena mesmo a partir do GP da França por conta do desenho da pista. “O carro melhorou muito, especialmente em curvas de alta e média velocidade. A parte traseira tem mais aderência, dá pra notar”, descreveu Sainz.
 
No fim das contas, a grande exibição no último domingo na Áustria serviu para confirmar que a jornada não menos ótima da semana passada, em Paul Ricard — com Norris e Sainz dividindo a terceira fila — não foi mera obra do acaso. 
 
“Nós somos claramente, acho, a quarta equipe mais rápida novamente aqui [na Áustria]. Foi bom ampliar a liderança do campeonato no pelotão do meio em 20 pontos. Acho que ninguém, dentro da equipe, esperava no ano passado que, depois de terminar a temporada como o nono carro mais rápido, dar esse passo. Novamente, isso simplesmente mostra que muitas das mudanças que foram desencadeadas no ano passado estão valendo a pena. A equipe fez um bom trabalho ao trazer o carro deste ano à pista”, comemorou Andreas Seidl.
Gil de Ferran é um dos pilares do processo de reconstrução da McLaren (Foto: McLaren)

Diferente do que acontecia no ano passado, quando Vandoorne simplesmente não conseguia entregar bons resultados, a satisfação da McLaren com Sainz e Norris é total. Tanto que não há qualquer intenção de se mexer em um time que está correspondendo. Não à toa, nenhum dos dois pilotos têm seus nomes envolvidos na famosa ‘silly season’, que se intensifica nesta época de ano no verão europeu. “Estou muito feliz com os dois pilotos, e eles vão ser o futuro desta equipe”, garantiu o dirigente alemão, descartando a chance de retorno de Alonso.

 
O discurso do chefe de equipe da McLaren é categórico: a evolução obtida é verdadeiramente notável, mas há muito caminho a percorrer para colocar a equipe de volta ao lugar que ela merece estar.
 
“O mais importante para mim é ter desenvolvimento contínuo, ver a melhora contínua da equipe na fábrica e aqui fora. Quero dizer que é importante também que tomemos nosso tempo para garantir que revisamos nossos métodos, ferramentas e tudo o que usamos para desenvolver porque essa é a base de um desenvolvimento agressivo, sobretudo quando você tem um déficit como o que nós temos”, explicou Seidl em entrevista ao site ‘Crash.net’.
 
“Você precisa recuperar a confiança dentro da equipe, mas também ser suficientemente valente para tomar decisões arriscadas em termos de conceito. Isso é algo que outras equipes com outras equipes com muita experiência e confiança, como a Mercedes, podem fazer. Também é importante, digamos, mostrar com os pit-stops e a estratégia de corrida que podemos lutar com os grandes porque está claro que ainda há uma desvantagem no que diz respeito à performance, e isso vai levar algum tempo”, complementou.
 
Ciente de que há muito caminho ainda a percorrer, a McLaren dá um passo de cada vez: com discrição, harmonia, grande estrutura, um bom pacote técnico, dirigentes notoriamente capazes e uma dupla de pilotos jovens e competentes, a lendária equipe britânica mostra estar no rumo certo para deixar de vez os tempos de calvário no passado. Porque o futuro, ao que tudo indica, parece ser promissor.
Paddockast #23
Lágimas em Le Mans

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