Conta-giro: Montreal remete à única vitória de Alesi há 20 anos. Ninguém segurou suas lágrimas e invasão de pista

Jean Alesi teve uma carreira sólida na F1. Ganhou fama com uma atuação espetacular no duelo que travou com Ayrton Senna em Phoenix, a bordo da icônica Tyrrell. Porém, apesar do arrojo e da velocidade, o francês de origem siciliana teimava em subir ao alto do pódio, até que o grande dia chegou: 11 de junho de 1995. Foi no Canadá que o então ferrarista venceu pela primeira vez na carreira e mal conteve as lágrimas e a invasão

Jean Alesi já havia atingido a maturidade na F1 quando cruzou a linha de chegada antes de todo mundo pela primeira vez na carreira em 1995, no mesmo circuito Gilles Villeneuve, que neste fim de semana recebe a sétima etapa do Mundial em 2015. Quase 20 anos atrás, o francês de origem siciliana mal conseguia enxergar a pista devido às lágrimas depois de finalmente – foram incríveis 91 GPs até o triunfo – vencer na F1. E a emoção de enfim subir ao lugar mais alto do pódio contagiou até o público canadense, que não se intimidou e protagonizou uma linda (e perigosa) invasão para celebrar a conquista de Alesi e da Ferrari, em um ano em que as atenções estavam totalmente voltadas para Michael Schumacher e a sua quase imbatível Benetton, que travava uma batalha com a Williams de Damon Hill.

Antes de aportar na Ferrari, Alesi deu os primeiros passos na F1 defendendo a icônica equipe de Ken Tyrrell. A estreia aconteceu em 1989 no GP da França, prova em que o piloto terminou na quarta colocação. Foram mais sete provas naquele ano. Já na temporada seguinte, Jean disputou todas as etapas e apresentou o cartão de visitas logo na primeira corrida, nos EUA, onde travou um duelo histórico com Ayrton Senna. Jean também foi ao pódio mias uma vez, em Mônaco, onde obteve outro segundo lugar, Depois disso, amargou quebras, acidentes e posições fora da zona de pontuação – na época apenas os seis primeiros somavam pontos.

Ainda assim, as atuações com Tyrrell chamaram a atenção da F1. E o jovem gaulês foi até cortejado pela Williams, que na época começava a ensaiar o domínio que viria nos anos seguintes da década de 1990 – o piloto chegou a assinar um pré-contrato com a equipe britânica, inclusive. As negociações, entretanto, não foram para frente, e Alesi acabou fechando acordo com a Ferrari, aonde chegou com prestígio para ser companheiro de Alain Prost.

Jean Alesi, de 50 anos, venceu apenas uma vez na F1, no dia em que completou 31 anos de idade (Foto: IndyCar/LAT Photographic)

Só que a vida em Maranello não foi das mais fáceis. Prost saiu no ano seguinte, após desentendimentos com a cúpula ferrarista e foi ter seu ano sabático. Para o lugar do francês, a equipe italiana trouxe o italiano Ivan Capelli, que acabou fora no ano seguinte, cedendo espaço ao austríaco Gerhard Berger.

A verdade é que a escuderia vivia um período sombrio naquele início de década e de pouquíssimos resultados. O melhor ano havia sido em 90, quando Prost disputou o título com Ayrton Senna. Apesar da derrota para o brasileiro e a McLaren, a esquadra vermelha pode celebrar vitórias e um desempenho forte. Só que foi tudo que os italianos conseguiram.

Em 1994, Berger ainda ganhou na Alemanha. E o novo triunfo veio quase um ano depois, com Alesi, no Canadá. Foi a última grande conquista antes do início da Era Michael Schumacher.

A corrida de uma vida

Jean Alesi dividiu o pódio em Montreal em 1995 com Rubens Barrichello e Eddie Irvine (Foto: Getty Images)

Naquele longínquo ano de 1995, Schumacher comandava de braçada o campeonato, a bordo da Benetton, empurrada pelos motores Renault. A F1 desembarcar em Montreal para a sexta etapa da temporada. Schumacher liderava a classificação, com 34 pontos, cinco a mais que Damon Hill. Além disso, vinha de vitória em Mônaco e embalado na briga pelo bicampeonato.

No Canadá, Michael sobrou no treino classificatório e cravou a pole-position em 1min27s661, impondo uma vantagem de 0s378 para o inglês da Williams. David Coulthard colocou o outro carro de Frank na terceira posição, logo à frente das Ferrari de Berger e Alesi. O companheiro de Benetton de Schumacher, Johnny Herbert, largou apenas em sexto.

No dia seguinte, um domingo de céu azul em Montreal, Schumacher saltou bem da posição de honra e passou a liderar, com Hill em segundo. Coulthard e Berger vinham na sequência, à frente de Alesi. Só que a corrida do escocês durou pouco, abandonando ainda na segunda volta depois de uma rodada. Herbert e Mika Häkkinen também ficaram no início depois de um acidente entre os dois.

Lá na frente, o alemão seguia com seu ritmo forte e sem ser incomodado. Situação diferente vivida por Hill, que passava a ser ameaçado pelos dois carros da Ferrari. Nesta altura, com menos dez voltas, Alesi já havia superado Berger e vinha à caça do inglês. A ultrapassagem aconteceu na volta 16. O austríaco também não tardou e logo se colocou em terceiro, atrás apenas de Schumacher, o líder, e Alesi, o segundo.

Tudo ia bem. Aí vieram as paradas de box. Logo depois, entretanto, a história começou a dar uma pequena ajuda ao francês da Ferrari. Primeiro, Berger precisou parar novamente e acabou fora da disputa. Depois, Hill também se viu apuros. Enquanto isso, Jean seguia firme em segundo, com um Schumacher absolutamente tranquilo na frente.

E isso foi assim até o giro 58, quando Michael apareceu lento pelo traçado. Com problemas de câmbio, o líder teve de ir aos pits. A Benetton fez o que pode e devolveu o piloto à pista, mas lá trás. Isso não assustou Schumacher, que tratou de ir recuperando terreno. Enquanto isso, Alesi assumia a ponta. E lá ficou até o fim. Até ver concretizado o sonho da primeira vitória.

A única vitória de Jean Alesi foi no GP do Canadá de 1995 (Foto: Shell/Getty Images)

E foi assim que ele descreveu aquele momento:

"Estávamos no limite do consumo, por isso não houve como diminuir a distância para Michael. Quando me vi em primeiro, a somente dez voltas do fim, comecei a chorar de alegria e as lágrimas, naturalmente, dificultaram muito a minha visão. Então, na verdade, eu tive de me controlar muito dentro do carro até o final da prova…", contou um emocionado Jean, logo depois da consagração bem no dia em que completou 31 anos de idade.

"Quando vi que o Schumacher parou, eu sabia que tinha uma chance e que estava bem colocado para isso. E aí pensei que talvez tivesse finalmente chegado o momento certo. E foi o que aconteceu. Já tinha visto o sinal de 'P1' muitas vezes, mas nunca na última volta! Ganhar pela Ferrari e, ainda por cima nesta pista, ainda me parece algo inacreditável", acrescentou.

Depois da vitória, Alesi ainda pegou carona no carro de Michael Schumacher em Montreal (Foto: Getty Images)

Toda a emoção de Alesi foi transferida para o público, que enlouquecido invadiu a pista. Os torcedores, que lotavam o circuito canadense, não escondiam a predileção pela Ferrari, claro, em nome do maior piloto do país: Gilles Villeneuve. E não puderam se conter quando o carro vermelho cruzou a linha de chegada. As imagens da invasão lindas e, ao mesmo tempo, agonizantes. Isso porque o público tomou a pista com os carros ainda terminando a corrida…

O carismático pódio foi completado pelos dois pilotos de Eddie Jordan: Rubens Barrichello e Eddie Irvine.

Jean Alesi nunca mais venceu na F1. E aquele também foi seu último ano na Ferrari. O francês, coincidentemente, foi para a Benetton na temporada seguinte, enquanto Schumacher assumiu a vaga na equipe italiana e fez o que fez nos anos seguintes.

Alesi deixou o Mundial em 2001, depois de defender a Sauber, a Prost e a Jordan. Em 2002, atuou apenas como piloto de testes da McLaren.  Ao todo, foram 13 temporadas e mais 201 GPs disputados, uma vitória e duas poles. 

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