Com Ferrari que já se complica por si só, briga interna vira pesadelo

A Ferrari costuma complicar a vida de seus pilotos, mas os papeis se inverteram no Brasil. Sebastian Vettel e Charles Leclerc causaram a batida mais sem sentido possível e jogaram um bom resultado no lixo. Desse jeito, só palavras mais pesadas vindas da alta cúpula parecem capaz de colocar ordem na casa

2019 está sendo um ano difícil para a Ferrari. O título, possível em temporadas recentes, virou uma impossibilidade após um inesperado passo para trás com o SF90. Os pilotos, mesmo que não cometessem erros, dificilmente teriam qualquer chance contra Lewis Hamilton. Só que esse é o detalhe: como o GP do Brasil mostrou claramente, Sebastian Vettel e Charles Leclerc não são apenas vítimas inocentes, e sim parcialmente culpados pelo ano frustrante. Com os dois pilotos agora chegando ao ponto de bater rodas e forçar um abandono duplo, o sinal de alerta para 2020 toca com mais força do que nunca: o título do próximo ano já começa a ser perdido agora.
 
A explicação é simples. Dentre as três equipes de ponta da F1 atual, a Ferrari é a única sem um primeiro piloto claro. Já é um problema por si só, considerando que Vettel e Leclerc acabam tirando pontos um do outro nas ocasiões em que a Ferrari anda bem. O que já seria um problema mesmo em um ambiente saudável ganha contornos caóticos agora que a guerra tem tudo para virar algo público e escancarado. São raras as vezes em que equipes conseguem lidar com isso e ainda ser campeã de alguma coisa.
Charles Leclerc e Sebastian Vettel voltaram a ter problemas(Foto: Beto Issa)

Os defensores da briga escancarada podem tomar Hamilton x Nico Rosberg ou Ayrton Senna x Alain Prost como exemplos. Afinal, os dois casos tiveram os pilotos se enroscando e externando inimizades, mas ainda assim com muitas vitórias e títulos – os quatro citados foram campeões enquanto tinham o arquirrival no outro lado da garagem.

 
Acontece que a Ferrari não tem um carro dominante para sustentar a grande perda de pontos envolvida em uma disputa assim. O exemplo mais parecido com o atual de Maranello é a Williams de 1986. Com Nelson Piquet e Nigel Mansell briga pelo status de primeiro piloto, Alain Prost conseguiu ser campeão mesmo sem ter o melhor carro em diversas corridas. Um cenário desses em 2020, salvo reação da Red Bull, já torna Hamilton favorito mesmo antes da virada do ano.
 
A sorte da Ferrari é que nem tudo está perdido. Os momentos de grande choque vieram em 2019 – irritação de Leclerc com a estratégia em Singapura, rejeição de Vettel às ordens de equipe na Rússia, toque completamente evitável entre os dois no Brasil. Já está claro qual é o panorama atual: são dois pilotos alfa, capazes de jogar da forma mais dura possível para não perder status. Os companheiros estão dispostos a ir para o embate e ver no que dá, mas não pode ser um comportamento aceito pela Ferrari.
Lewis Hamilton é quem mais ter a ganhar com as tretas da Ferrari (Foto: Rodrigo Berton/Grande Prêmio)

O que isso quer dizer? Que é hora de mostrar quem manda. As declarações da equipe já mostraram um tom de insatisfação único no ano até aqui. Antes do Brasil, desilusões eram encaradas com palavras sobre esperança e espírito de equipe. Agora, por outro lado, fica claro para o chefe Mattia Binotto que o modelo vigente não tem como funcionar.

 
Isso é algo, mas talvez ainda seja pouco. Afinal, não sabemos ainda quem vai começar 2020 melhor, se Leclerc ou Vettel. A convicção que a Mercedes tem em Hamilton e a Red Bull tem em Verstappen não existe em Maranello. Alguém vai precisar ceder em algum momento, mas é plenamente possível que pontos valiosos sejam desperdiçados ainda nas primeiras etapas.
 
A Ferrari, por não ser mais aquela equipe que empilhou canecos e se mostrou cerebral com Michael Schumacher e Ross Brawn, tende a pisar na bola. Na estratégia, nos pit-stops, nas ordens de equipe… A imaginação é o limite. Ainda assim, um carro bom pode bastar para voltar a ser campeã após uma década. Para isso, é preciso pelo menos ter os pilotos sob controle. Caso contrário, não há mudança de regulamento ou desenvolvimento de novo carro que resolva.
 

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