Com 11 vitórias na temporada 2014, Hamilton conquista segundo título da F1 de forma incontestável

Malásia, Bahrein, China, Espanha, Inglaterra, Itália, Cingapura, Japão, Rússia, Estados Unidos e Abu Dhabi: Lewis Hamilton venceu em três continentes na busca pelo título do Mundial de F1 de 2014, uma batalha coroada com a conquista do bicampeonato

Incontestável. Não há outra palavra para definir o título mundial de um piloto que ganhou 11 de 19 corridas em uma temporada. Com todos os méritos, Lewis Hamilton lutou contra uma série de contratempos nos últimos oito meses para chegar à corrida decisiva, em Abu Dhabi, com uma confortável vantagem de 17 pontos para Nico Rosberg. E, com o triunfo deste domingo (23), o inglês coroou um ano quase perfeito com a conquista do bicampeonato da F1 no luxuoso circuito da Marina de Yas.

Estava claro desde os primeiros dias da pré-temporada que a disputa pelo Mundial de Pilotos se resumiria aos dois representantes da Mercedes. Com o imensamente superior F1 W05 Hybrid, Hamilton e Nico Rosberg tiveram o prazer de disputar o campeonato de 2014 com um carro vencedor de nada menos que 16 corridas. A dupla quebrou o recorde de dobradinhas, de pódios e de vitórias de uma mesma equipe na categoria.

Entretanto, apesar de ter chegado à Austrália com aquela excelente sensação de saber que tinha a melhor oportunidade da vida para buscar o bicampeonato, Hamilton de cara levou um susto. Depois de suar para assegurar a pole-position na chuva em Melbourne, Lewis abandonou ainda nas primeiras voltas com uma falha em um cilindro. De repente, a toda poderosa Mercedes da pré-temporada mostrava que não era infalível — e falhas de confiabilidade voltaram a se repetir ao longo do ano.

A recuperação do infortúnio do Albert Park não poderia ser melhor. Sempre com Rosberg em segundo, Hamilton emplacou quatro vitórias consecutivas. No Bahrein, deu uma verdadeira aula de direção defensiva para conter os ferozes ataques do alemão e cruzar a linha de chegada metros à frente. Na Espanha, recebeu a bandeirada enxergando o bico do carro #6 pelo retrovisor, mas outra vez soube controlar muito bem a situação.

A quarta vitória seguida, no GP da Espanha, fez Hamilton parecer imbatível (Foto: Getty Images)

Essa sequência implacável de vitórias virou o jogo e o colocou na liderança do campeonato pela primeira vez. E, com a F1 rumando para o Principado de Mônaco para a sexta etapa do ano, a pergunta que se fazia era: Rosberg daria conta de segurar Hamilton?

Nenhum piloto que venceu quatro vezes seguidas perdeu um campeonato, mas a questão, naquele momento, era saber se uma eventual quinta vitória liquidaria de vez Rosberg, que ficaria sem saber o que fazer para superar o britânico.

Os fatos vivenciados em Monte Carlo, porém, viraram o jogo outra vez a favor de Nico — e assim tudo continuou por um bom tempo.

Com a pole provisória assegurada no Q3, Rosberg saiu da pista na curva Mirabeau e provocou as bandeiras amarelas que não deixaram Hamilton tentar baixar sua marca. Para ele, estava claro: a travada de roda fora proposital. Outrora amigos de infância, os dois pilotos entraram em um conflito que durou meses para acalmar.

No domingo, Rosberg pilotou sem cometer erros e recuperou o momento e a liderança do campeonato. Roubou a pole de Hamilton em um circuito que o inglês domina, o de Montreal, e liderou a prova até as duas Mercedes começarem a sofrer de falhas nos freios. Terminal, o problema de Hamilton o fez abandonar, enquanto Rosberg se arrastou na pista segurando uma fila de carros até ser ultrapassado por Daniel Ricciardo a duas voltas do final. De qualquer forma, marcou 18 pontos a mais que o rival. Na Áustria, tornou a levar a melhor. Quarto no grid na pior classificação da Mercedes no ano, liderou mais uma dobradinha da equipe.

Multidão invade a pista para ver pódio do GP da Inglaterra, vencido por Hamilton (Foto: Getty Images)

A seguir, o GP da Inglaterra serviu para reanimar Hamilton, que carregava uma cara amarrada desde a polêmica de Mônaco. Foi, também, a primeira falha de confiabilidade que realmente custou caro para Rosberg: o câmbio o tirou da liderança e deixou Lewis, que errara feio ao subestimar a evolução da pista molhada no treino classificatório, fazer a festa diante de sua torcida.

Duas semanas depois, na Alemanha, a sorte virou outra vez a favor de Nico. Uma quebra no disco de freio de Hamilton no início da classificação o fez bater forte no estádio de Hockenheim. Partindo do fim do grid, conseguiu se recuperar até a terceira posição, fechando atrás de Valtteri Bottas. Na semana seguinte, na Hungria, teve ainda mais azar: seu carro pegou fogo durante o Q1 e o obrigou a largar dos boxes — Rosberg mais uma vez estava na pole.

Mas o que se viu no GP da Hungria foi o acirramento de uma tensão que culminou, um mês depois, naquilo que Deus e o mundo esperavam desde a primeira prova: um toque.

Em dado momento da prova húngara, Hamilton recebeu dos boxes uma ordem para permitir a passagem de Rosberg. A equipe queria garantir a vitória na corrida, desconsiderando a briga pelo título. Inteligentemente, o inglês desobedeceu. No fim, Ricciardo venceu, mas Hamilton conseguiu transformar o incêndio do sábado em um ganho de três pontos no campeonato ao fechar o pódio.

A Mercedes se reuniu e determinou que ambos os pilotos cumprissem as ordens dali até o fim do ano, embora tenha reconhecido que foi afobada naquela decisão. E assim o povo foi de férias para só se reencontrar em Spa. Lá, na segunda volta, Rosberg tentou forçar uma ultrapassagem sobre Hamilton. Não houve espaço para ele, que não quis saber de tirar o carro e evitar o toque. Hamilton, com um pneu furado, caiu na prova e nem na zona de pontuação ficou. Nico trocou o bico, mas seguiu na disputa e fechou em segundo. 18 pontos a mais na conta.

Só que Rosberg acabou condenado. Não pelos comissários, mas pela Mercedes e pela opinião pública. E, daquele ponto do campeonato em diante, entrou em declínio.

O toque entre Hamilton e Rosberg na Bélgica (Foto: AP)

Hamilton, que costumava ser rotulado como alguém que se abalava emocionalmente com certa facilidade, cresceu a partir daquilo e ganhou em Monza (induzindo o rival ao erro), em Cingapura (prova que Rosberg abandonou), em Suzuka (com uma ultrapassagem de classe), em Sochi (tranquilamente) e em Austin (assumindo um calculadíssimo risco para tomar a ponta).

Na prova de Abu Dhabi, Hamilton pulou para a ponta logo na largada e se manteve sempre em uma posição que lhe garantia o título. Felipe Massa fez o que pôde para tomar o triunfo do britânico, mas não conseguiu chegar nas voltas finais.
 
Rosberg, por outro lado, teve um domingo para esquecer. O alemão teve problemas com o motor do W05 e foi despencando pouco a pouca na tabela de classificação, até receber a bandeirada em 14º.
 

Ao longo de tudo isso, Hamilton cometeu pouquíssimos erros — e nenhum que custou caro. Na verdade, foi é prejudicado por fatores que fugiram ao seu controle. Mas pelo desempenho impressionante e, acima de tudo, pelo amadurecimento que o piloto mostrou ao longo do ano, dá para dizer sem medo de errar que a conquista do segundo Mundial de Pilotos da carreira foi mais do que justa.

BICAMPEÃO

A esperança de Nico Rosberg não durou mais de 50 metros ou 3 segundos. Sua horrível largada no GP de Abu Dhabi deste domingo (23) deu de bandeja — sem bebida alcoólica — a liderança para Lewis Hamilton. Se em nenhum momento o alemão esboçava qualquer reação, o carro passou a apresentar um problema no ERS. Já era.

A falha de Rosberg significaria nas condições normais dizer que Hamilton conquistou seu segundo título com mais uma vitória tranquila. Mas Felipe Massa estava empolgado como há tempos não se via. Com uma Williams andando no ritmo da Mercedes, tentou caçar a vitória depois de liderar a prova. Faltou pouco. Ao menos, Massa conquistou seu melhor resultado desde o GP do Japão de 2012 e o terceiro pódio na temporada.

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MELHOR SENSAÇÃO NO MELHOR DIA DA VIDA

Lewis Hamilton não conteve a lágrimas em Abu Dhabi. Na entrevista conduzida pelo ex-piloto Martin Brundle, Lewis agradeceu aos fãs e disse que vive o melhor dia de sua vida. “Uma coisa que quero dizer é um muito obrigado a todos os fãs que vieram até aqui, todas as bandeiras, bonés, fizeram a diferença. Todos os meus amigos, meus pais, minha mãe está em casa. Não consigo explicar. Sinto ainda mais que o primeiro. Parece que foi a primeira vez”, disse o recém-coroado campeão.

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A carreira do bicampeão

Lewis Hamilton sempre foi considerado um prodígio do esporte. Rápido e agressivo, o jovem inglês foi descoberto ainda adolescente pela McLaren. E foi por meio da equipe inglesa que o jovem Lewis teve a chance de estrear na F1. Antes, porém, o britânico construiu sólida fama nas categorias de base.

Hamilton começou nos monopostos em 2002, pela F-Renault Euro e também na versão britânica do campeonato patrocinado pela montadora francesa. Um ano depois, foi campeão na série inglesa, disputou o F3 em Macau, a Renault Euro de novo, além da F3 Britânica.

Em 2004, repetiu participação da tradicional prova em Macau, além de competir na F3 Euro e na Masters. O primeiro título de F3 veio em 2005, na Euro. Na temporada seguinte, Hamilton foi contrato pela ART na GP2. Ganhou o campeonato com cinco vitórias, uma pole e 14 pódios.

Hamilton estreou na F1 em 2007 pela McLaren (Foto: Getty Images)

O desempenho convenceu, e a cúpula da McLaren decidiu que já era hora do arrojado piloto dar um passo definitivo da carreira. Assim, Hamilton foi correr sua primeira temporada na F1 ao lado do recém-bicampeão Fernando Alonso, que deixara a Renault.

Os dois protagonizaram uma dura batalha pelo título de 2007. Também se desentenderam dentro da equipe de Woking. As brigas e envolvimento da esquadra no escândalo de espionagem envolvendo a Ferrari acabaram por deixar o campeonato para ambos ainda mais tumultuado. Aí que Kimi Räikkönen, que corria por fora, tirou proveito de toda a situação e faturou o título contra todas as probabilidades.

No ano seguinte, Alonso se mandou da McLaren devido às rusgas também com o chefe Ron Dennis. Lewis passou, então, a compartilhar as garagens com o finlandês Heikki Kovalainen. A convivência foi bastante tranquila. E 2008 marcou também o primeiro campeonato de Hamilton na F1.

A disputa foi acirrada entre o inglês e Felipe Massa, então na Ferrari. E foi até a etapa final, em Interlagos. A pista paulistana viu uma das decisões mais emocionantes de todos os tempos. O piloto da McLaren precisava de apenas um quinto posto para ficar com a taça, mas foi mais difícil do que parecia.

Massa dominou a corrida em São Paulo, driblando todas as intempéries. Na parte final, quando a chuva voltou, Lewis vinha em sexto depois de ter perdido a posição para Sebastian Vettel. Só que conseguiu, no último giro, passar Timo Glock, que também havia sido superado pela Toro Rosso do alemão. A manobra assegurou o título.

Em 2009, a F1 viu atônita o grande domínio imposto pela pequena Brawn, equipe que nasceu sob o comando de Ross Brawn em cima do espólio da Honda, que havia decidido deixar o Mundial no fim da temporada anterior. E Jenson Button foi o grande nome daquele ano. Hamilton foi apenas o quinto colocado, com duas vitórias.

Aí veio a temporada 2010 e a chance de novamente lutar pelo campeonato — agora com um novo companheiro de equipe, o campeão Button. Com três vitórias e nove pódios, Lewis até chegou à última etapa ainda na briga matemática, mas não passou disso. A superioridade de Red Bull e Ferrari era grande. E Vettel acabou ficando com a taça. A primeira de suas quatro.

Lewis Hamilton assinou com a Mercedes em 2012 (Foto: Getty Images)

Aí vieram dois anos de poucas conquistas. Em 2011, assim como todo mundo, a McLaren não teve forças para bater a Red Bull. Ainda assim, Hamilton conseguiu três triunfos. A história foi melhor em 2012. E Lewis só deixou a briga pelo campeonato na parte final da temporada. Fechou o ano com quatro vitórias.

Mas o que marcou mesmo foi a decisão intempestiva do britânico. Depois de cinco temporadas, o inglês decidira deixar a equipe que praticamente o criou para tomar o lugar de Michael Schumacher na Mercedes.

O ano de 2013 não trouxe os frutos esperados. Novamente, a temporada foi polarizada entre Red Bull e Ferrari, com Vettel conquistando o quarto título. Hamilton foi apenas o quarto, com uma única vitória, em Hungaroring. Só que a história da Mercedes sofreria uma reviravolta em tanto um ano depois.

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