Coluna Rookie Text, por Vitor Fazio: Kimi, hora de voltar para casa

O que Räikkönen perderia ao se aposentar esse ano? Disputas por pontos bobos? Alguns meses de um salário que não fará falta alguma? Ou, se não quer ficar em casa sem nada para fazer, existem campeonatos de rali para desbravar – e certamente é um mundo que lhe é simpático. Mas continuar na F1, desse jeito, é apenas gastar o tempo e o talento do finlandês, além de manchar a carreira

A volta de Kimi Räikkönen à Ferrari foi a grande manchete da silly season de 2014. Era grande a expectativa quanto a um possível embate entre Kimi e Alonso: dois campeões mundiais seriam companheiros de equipe, algo inédito na escuderia. Os difamadores do asturiano riram: a facilidade que existia contra Felipe Massa estava com os dias contados. O finlandês não deixa companheiro de equipe passar, não reclama do carro, nem leva molada na testa. Era o que diziam.

O tempo mostrou que todos estavam errados. Räikkönen faz uma das temporadas mais bisonhas de um piloto da Ferrari nas últimas décadas. Contra Alonso, foi derrotado em cinco classificações e em todas as sete corridas; desempenho nível Felipe Massa deprimido. Sem exageros: é uma surra. Fica pior ainda se lembrarmos que os dois são campeões do mundo e até ano passado eram fortes adversários na luta pelas sobras de Vettel. A rodada boba no hairpin de Montreal e a batida esdrúxula com Magnussen em Mônaco são as cerejas em cima do bolo.

Em números, seus 18 pontos em sete corridas só perdem para os 12 de Massa em 2012. Antes, só Alesi tinha feito um começo de temporada pior, marcando o equivalente a 15 pontos em 1993. Não é exagero dizer que o fraco desempenho de Kimi ganhou proporções históricas, até porque decepções dessa magnitude não são tão comuns. Juan Pablo Montoya pode ter ido mal na McLaren, mas não apanhou tanto – e nem era um campeão mundial. Na Mercedes, Michael Schumacher teve a desculpa da idade. Ayrton Senna na Williams foi mais triste do que decepcionante, já que o que deu errado fugia do controle do piloto.

Eis Räikkönen, só décimo no grid (Foto: Getty Images)

Analisado todo o cenário, podemos começar a pensar o que será do futuro de Räikkönen. Não vejo nele a vontade de reaprender a dirigir os diferentes carros de 2014, ainda mais na sua condição atual: já está mais para o fim da carreira que para o início. Campeão, não tem mais o que provar para ninguém. Toda a gana que Alonso tem por mais uma taça está faltando em Kimi. Verdade seja dita: desde 2008, ele só marca tempo na F1 na falta de planos de algo melhor para fazer.

Se Räikkönen é mesmo um fã de Hunt, devia tomar o britânico como exemplo. Quando James alcançou o título de 1976, relaxou. Conseguiu mais algumas poucas glórias em 1977 e foi isso. Um começo de temporada horroroso da Wolf em 1979 foi a gota d'água para um piloto que já tinha tudo que poderia desejar. A decisão foi simplesmente sair da categoria no meio da temporada.

O que Räikkönen perderia ao se aposentar esse ano? Disputas por pontos bobos? Alguns meses de um salário que não fará falta alguma? Ou, se não quer ficar em casa sem nada para fazer, existem campeonatos de rali para desbravar – e certamente é um mundo que lhe é simpático. Mas continuar na F1, desse jeito, é apenas gastar o tempo e o talento do finlandês, além de manchar a carreira. O tempo dele simplesmente passou, como acontece com todos.

Não falo isso por ser um detrator de Räikkönen. É uma grande figura, um personagem interessantíssimo numa categoria cada vez mais robótica. Mas acredito que isso é pouco para mantê-lo. Do que adianta a nossa diversão com o que quer que ele faça se, na verdade, ele está chateado e louco para voltar para casa e beber um pouco (ou muito)?

A Finlândia está logo ali, Kimi. Talvez seja a hora de aproveitar.

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