Chefia eficiente e talento: como a Sauber se tornou a equipe que mais cresceu em 2018

A Sauber deu um enorme salto de qualidade em 2018. O carro apresentou uma melhora significativa ao longo da primeira fase da temporada, assim como a operação da equipe como um todo. E há uma razão para isso. Ou melhor duas: a chefia eficiente de Frédéric Vasseur e o talento de Charles Leclerc

Há um ano, a Sauber amargava a última colocação do Mundial de Construtores, com apenas cinco pontos. Corria com uma versão desatualizada do motor Ferrari, e o carro era um dos piores do grid – à época, ainda tinha uma McLaren também em um cenário desolador. Só que a equipe suíça promoveu mudanças drásticas 12 meses atrás e que agora começa a colher os frutos. É claro que tudo foi possível por meio de uma base financeira menos instável. Em 2016, a esquadra foi adquirida pela Longbow Finance, que, neste ano, vendeu sua participação para a Islero Investments, que tem entre seus sócios o francês Frédéric Vasseur, que assumiu a chefia do time em julho de 2017 e promoveu uma série de mudanças, o que o torna um dos principais responsáveis pela atual boa fase da escuderia que foi fundada por Peter Sauber. 
 
Aos 49 anos e dono de uma trajetória de respeito no esporte – que inclui passagens de sucesso em equipes de categorias de acesso, como a ART e ASM, além do trabalho com os então jovens Lewis Hamilton, Sebastian Vettel e Nico Rosberg -, o francês desembarcou em Hinwil vindo da Renault. Mas logo impôs seu estilo energético e eficaz na fábrica e dentro das garagens. E uma prova de sua personalidade foi a decisão de se livrar da Honda tão logo assumiu o posto de líder da Sauber. 
 
Os suíços haviam se comprometido com a fabricante japonesa poucos meses antes da chegada de Vasseur. Mas as promessas dos nipônicos não convenceram o gaulês, que tratou de desmanchar o acordo e seguir atrás dos velhos parceiros italianos. Frédéric, na verdade, preferiu estreitar os laços com a Ferrari e viu no projeto da Alfa Romeo a chance de trazer o que de melhor os homens de Maranello têm. O preço é servir como um trampolim para os jovens pilotos da Academia ferrarista, o que, convenhamos, um preço justo a pagar. E a iniciativa deu mais que certo.
Frederic Vasseur é o chefão da Sauber (Foto: Sauber)

Com os motores atualizados na equipe vermelha, além de uma profunda reestruturação técnica na fábrica, a Sauber conseguiu construir um carro bastante razoável, com enorme potencial de melhora. É bem verdade que o time demorou para engrenar.  Erros de operação e dos próprios pilotos colocaram em xeque o desenvolvimento, mas o comando forte de Vasseur ajudou a colocar tudo nos trilhos. E rápido. As atualizações foram certeiras, embora em doses pequenas ao longo das etapas. Além disso, a operação deu um salto de qualidade, assim como as decisões estratégicas. A evolução da Ferrari também respingou no C37, que se porta mais consistente e forte. Daí a melhor temporada desde 2015. 

 
"Temos um ótimo clima dentro da equipe e estamos indo na mesma direção. Houve uma reorganização, mas estamos melhorando corrida a corrida, não é tão fácil", disse o dirigente ao ser perguntado pelo GRANDE PRÊMIO. "Demos um passo enorme também em relação ao motor, o que foi muito importante. Mas queremos mais, é claro", completou, fazendo referência ao uso da unidade mais atual em 2018.
 
E a ligação com a Ferrari não para por aí. A Sauber trouxe Simone Resta, que ocupada o cargo de designer-chefe na equipe vermelha e foi um dos responsáveis pelos ótimos carros produzidos em Maranello nas duas últimas temporadas. Quer dizer, além da unidade de potência, a esquadra helvética também caminha para seguir à risca os passos do time mais famoso do grid – e esse é próximo grande passo da Sauber e de Vasseur. Não por acaso, passadas 12 provas, a Sauber já tem 18 pontos na tabela. Só não tem mais por equívocos de estratégia, quebras e erros de pilotos. 
 
Mesmo sabendo das limitações em termos de orçamento, Vasseur entende que o trabalho não pode parar e que é a única forma de atrair novos patrocínios e investimento. À Sky Sports, o francês ilustrou bem seus objetivos: "A curto e médio prazo, é bastante irreal imagina que podemos lutar com as melhores equipes. Não é uma questão de ambição ou dinheiro, é apenas uma questão de ser realista. O melhor exemplo é a Renault. Eles têm um orçamento decente, uma estrutura enorme e estão na quarta posição no campeonato, mas e o próximo passo? É lento. Então, primeiro temos de alcançar o grupo intermediário e aí ver seguir adiante. Temos a sensação de que estamos melhorando e atraindo a atenção. E não só de engenheiros e mecânicos, mas da mídia e de patrocinadores."
 
Além do trabalho de Vasseur no pit-wall e dentro da garagem, a Sauber tem em Charles Leclerc uma grande arma. O jovem monegasco até começou a temporada de maneira irregular, mas também natural para uma estreia cercada de expectativas. Só que uma vez passada a fase de debute, Leclerc começou a apresentar um desempenho mais sólido e sem erros. “Ele cometeu erros no início, na pilotagem e na gestão do fim de semana, mas agora já domina a situação”, disse Vasseur, com razão. Não à toa, é o responsável por 72% dos pontos da equipe até aqui.

Em 12 GPs foram cinco dentro da zona de pontuação, anotando 13 pontos no campeonato, oito a mais que seu companheiro de equipe Marcus Ericsson. Leclerc também se destaca na classificação há sete etapas. Em todas elas, o piloto avançou para o Q2 e, em duas ocasiões, levou o Sauber C37 para o Q3: na França e na Inglaterra. Ainda que tenha sofrido nas duas últimas corridas antes da pausa das férias, Charles já construiu uma baita reputação. 

Charles Leclerc é o grande talento da Sauber (Foto: Sauber)
O que impressionou também foi o comportamento de Charles diante de todos os rumores o ligam a uma possível vaga de titular na Ferrari. O rapaz encara com calma e evita as especulações ou expectativas. A performance segue a mesma. E isso faz diferença. “Ele está fazendo um trabalho perfeito”, concluiu Frédéric. E é verdade, o que também se reflete nesse cenário de maior competitividade pelo qual a Sauber atravessa. 
 
Antes manchete pela instabilidade financeira, agora a equipe suíça reaprende a brilhar. E isso pode levá-la ainda mais longe.
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