Análise: duas visões da estreia da F1, mas uma certeza: ‘party like it’s 2014’

Vitor Fazio e Pedro Henrique Marum escreveram sobre suas impressões após o primeiro dia de treinos livres na Austrália. As visões são muito parecidas e concentram um fato principal: o binóculo vai ter de ser mais potente para que as demais vejam a Mercedes nas pistas do mundo

O GRANDE PRÊMIO pediu que dois dos seus jornalistas escrevessem livremente a respeito da primeira impressão causada pela F1 2015. Vitor Fazio e Pedro Henrique Marum, nesta ordem, viram assim os treinos desta sexta-feira (13) na Austrália:

F1 em 2015 indica Mercedes favoritíssima, Ferrari crescente e McLaren apagada

A nova temporada da F1 começou para valer nessa sexta-feira (13), quando as luzes verdes no circuito de Melbourne indicavam o início dos treinos livres para o GP da Austrália. Era hora de ver e comprovar o ritmo verdadeiro das dez equipes que disputariam o campeonato.
 

Uma das grandes expectativas do público quanto à nova temporada era a possibilidade de novas disputas por vitórias, após um 2014 monopolizado pelas Mercedes de Lewis Hamilton e Nico Rosberg. A espera por competitividade, todavia, foi em vão: as Mercedes se mostraram tão ou mais rápidas do que no avassalador começo do ano passado, quando as Flechas de Prata venceram as seis primeiras corridas com grande folga. 
Nico Rosberg comandou o primeiro treino livre do ano em Melbourne (Foto: Getty Images)
Mais de meio segundo atrás, veio a crescente Ferrari. Depois de um 2014 sombrio, sem chances de vitórias — fruto de um chassis mal-nascido e um motor lento —, 2015 parece prometer novas chances para os italianos. Sebastian Vettel, grande nome da escuderia, foi o terceiro colocado, sem grandes dificuldades para deixar Kimi Räikkönen para trás. 
 
Mesmo que não chegue perto de vencer a corrida deste domingo, a Ferrari pode ficar feliz por entrar de vez na briga pelo posto de segunda melhor equipe. 2015 pode não só ser o recomeço de uma equipe que não vence o título de pilotos ou construtores desde 2008, como também tem chances reais de trazer um derrotado Vettel de volta às primeiras colocações.
 
Williams e Red Bull parecem estar no mesmo patamar. A equipe inglesa dá a sensação de que terá, desde o começo do ano, o ritmo surpreendente que demorou para apresentar em 2014. Já os austríacos, apesar de uma pré-temporada melhor que a anterior, parecem ter perdido um pouco do ritmo que levou Ricciardo a um segundo lugar no último GP da Austrália — isso antes de ser desclassificado.
 
Com a Ferrari, Williams e Red Bull serão as únicas capazes de se aproveitar das migalhas e eventuais erros da Mercedes. Seus pilotos — com destaque para Vettel, Bottas e Ricciardo — podem, com alguma jogada de sorte, vencer parcas corridas.
 
O meio do grid apresenta muitas incógnitas. Lotus, Force India, Sauber, Toro Rosso… Ninguém sabe dizer com segurança quem tem o melhor equipamento, ainda mais numa pista tão particular e diferente das demais como Melbourne. 
 
A Lotus parecem em melhor forma do que em 2014, mas é muito cedo para afirmar algo. A Force India andou para trás depois de bons resultados no ano passado. A Toro Rosso sofrerá com seus pilotos inexperientes, mas parece apresentar um carro decente. E a Sauber…
 
Ah, a Sauber…
Marcos Ericsson não pôde ir à pista no TL1 com a Sauber (Foto: Getty Images)
Em um dos episódios mais esdrúxulos dos últimos anos, a equipe conseguiu a proeza de assinar com três pilotos. Logo os suíços, tão famosos por sua precisão. O que ficou de fora, Van der Garde, clamou por direitos na justíça australiana. Mas é difícil acreditar que levará um C34 consigo: com poucas horas faltando para o começo do primeiro Q1 do ano, uma reviravolta soa improvável. Se acontecer, será um fato único na longa história da F1.
 
E nas outras etapas? Difícil dizer. Não é difícil de imaginar Bernie Ecclestone se metendo no assunto, por exemplo, o que mudaria tudo. A única coisa que parece certa é que Marcus Ericsson pode pagar o pato caso a justiça veja o holandês como merecedor de um assentos. Os contratos do brasileiro Felipe Nasr, que envolvem o Banco do Brasil, parecem ser bem mais complexos e difíceis de quebrar do que os dos misteriosos patrocinadores suecos.
 
E é curioso destacar como o assunto ganhou dimensão no primeiro dia de atividades oficiais da F1. Mostra como não temos muito o que discutir sobre quem levará o troféu no domingo. Depois de um começo morno, fica a expectativa para que as forças se equalizem ao longo do ano.
 
Falando em sofrimentos e dificuldades inesperadas, a McLaren foi uma decepção notável. Seus dois carros ficaram entre os quatro últimos no primeiro dia do retorno da Honda. Era previsível que os reultados seriam piores no começo da nova parceria. Mas passou do ponto: com Button, Magnussen e um ausente Alonso, as primeiras provas serão de agonias para a equipe de Ron Dennis.
 
Por fim, a Manor. Bem, é difícil falar de alguém que nem treinou. Sem sair da garagem, só dá para afirmar que será complicado superar os 107% no treino oficial. Quando fica difícil alinhar no grid, é porque o futuro é sombrio. A equipe que voltou das cinzas pode não demorar muito para fazer o caminho contrário.

É 'party like it's 2014' para a Mercedes e sofrimento para a McLaren

Longos três meses e meio se passaram até que oficialmente a F1 estivesse de novo valendo. A luz verde acendeu no final da noite da quinta-feira, no Brasil, com o foco do lado de fora das pistas. Na verdade mais verdadeira, mesmo, na real, em outra parte da cidade. A F1 não olha só para o Albert Park nesses primeiros dias, mas também para a Suprema Corte de Victoria. Lá está a panela de pressão, o final de novela em que a Sauber se enfiou ao assinar com três pilotos para duas vagas, uma matemática brilhante.

Giedo van der Garde processou a equipe, ganhou, confirmou que ganhou e agora tenta retificar a vitória. Acontece, como a essa altura quase todos já sabem, que a Sauber pisou no contrato que assinara com o piloto em 2014 pelo dinheiro que Marcus Ericsson e Felipe Nasr podiam oferecer, deu uma meia dúzia de desculpas toscas e achou que tinha ganho o jogo. Um lugar deveria de Giedo, o que a Sauber não quer, mas podia começar a ter equipamentos tomados ali mesmo, na pista, se não obedecesse.
 
Pela antecipação nas horas anteriores ao começo das atividades sobre o que faria o dirigido por Monisha Kaltenborn, talvez todo o resto tenha, de fato, ficado de lado. Mas havia muito a ser visto. E assim que a Sauber decidiu não mandar ninguém à pista no TL1 e depois mandar Nasr e Ericsson no TL2, acenando com um acordo, isso foi ficando mais claro.
 
Em primeiro lugar, é 'party like it's 2014' para a Mercedes, que é tudo aquilo que pensava-se. Nico Rosberg e Lewis Hamilton desfilaram na frente, com Rosberg ainda dizendo estar insatisfeito com o que viu do carro. Quando estiver satisfeito talvez saia uma batturbina ou um jetpack de algum lugar do W06. A diferença para os rivais é absurda, e a não ser que apareça um Godzilla em Stuttgart e em Brackley ao mesmo tempo, a Mercedes vai terminar 2015 com mais um título de Construtores e um de Pilotos em sua estante de troféus.
 
Depois da Mercedes, no entanto, o campeonato dá a pinta de ser mais emparelhado que o do ano passado. A Williams definitivamente vem no grupo dos mais fortes do resto. E Felipe Massa mesmo se disse impressionado com o que viu da Ferrari. Apesar do pé atrás que a equipe rossa faz merecer, tudo, desde os testes de inverno, indica que Sebastian Vettel e Kimi Räikkönen também vão estar ali, brigando por pódios. 
Sebastian Vettel durante os treinos livres em Melbourne (Foto: Getty Images)
E é difícil excluir a Red Bull, especialista em crescer mais que as rivais durante as temporadas, e com Daniel Ricciardo como carro-chefe. Mas os problemas num propulsor da unidade de força da maior sensação de 2014 provocou a ira de Helmut Marko. Um dia de temporada e os dois principais nomes da Red Bull, Marko e Christian Horner, já assopraram a corneta na Renault. 
 
É difícil, a não ser por um reajuste feroz da montadora francesa durante 2015, não pensar que talvez a paciência da escuderia dos energéticos com a parceira vá se esgotar e deixar um clima já desgastado num nível horrendo.
 
Mais do que as equipes mais rápidas, a animação com o que o campeonato pode ser se estende para as equipes médias. 
 
Apesar de um problema com Max Verstappen, que aconteceu na bateria da unidade de força da Renault, e, portanto, não foi exatamente um problema do carro, a Toro Rosso teve o piloto que mais andou, Carlos Sainz Jr. O carro é rápido como o de 2014, mas confiável dessa vez. A Lotus é visivelmente melhor, e Pastor Maldonado vem guiando bem desde o final do ano passado. Romain Grosjean também. O atraso da Force India em aprontar o carro e a falta de dinheiro não parece ter afetado tanto a ponto de transformar o time indiano no que foi a Sauber de 2014. 
 
E a Sauber, bom, fez bons testes e parecia ter um certo quê de promissora, mas as confusões são tantas e da tal nível que podem assinar com Moe, Larry e Curly para guiar os carros na segunda parte da temporada, ninguém sabe.
 
Na Manor, a história é diferente. Sem participar dos testes de inverno, chegaram na Austrália sem saber se vão conseguir colocar um carro na pista. Desde outubro passado, o time de John Booth e Graeme Lowdon está bem mais acostumados com imbróglios legais do que pista. E as dificultades eletrônicas não se vão de forma fácil, então Will Stevens e Roberto Merhi vão cortar um dobrado por enquanto. Se conseguir ir sobrevivendo, é impossível que termine o ano pior do que agora. Mas tem que terminar o ano.
Jenson Button (Foto: Getty Images)
Por último, McLaren. Por último porque é o medo expressado por Jenson Button. A parceria com a Honda vai engrenar, e é difícil saber quando a McLaren vai conseguir escalar o grid e mais difícil ainda saber onde pode chegar. Vai chegar em algum lugar melhor que o último lugar que Kevin Magnussen amargou no TL2, mas por ora o sofrimento vai seguir em Woking, não tem muito o que ser feito antes da Malásia para tirar a McLaren da rabeira.
 
É dessa forma que a F1 chega para o primeiro treino de classificação do ano. A F1 voltou, que bom. Agora é hora de sair dos palpites.

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