Análise: cinco aspectos que chamaram a atenção na estreia do campeonato da F-E

Se o ePde Pequim apresentou ao público defeitos e necessidades, também mostrou pontos que chamam a atenção. Confira cinco motivos que podem fazer os fãs sentarem no sofá para ligar a TV para acompanhar os carros elétricos

A história da F-E começou muito antes de 13 de setembro, claro, mas tudo veio à tona naquele sábado em Pequim, duas semanas atrás: o barulho, o formato, os carros e os conceitos foram enfim apresentados ao público. Em um dia tão marcante, nada mais normal do que notar detalhadamente fatores que ficariam em segundo plano em outras ocasiões.
 
E se, em um primeiro momento, o principal a ser falado é o que a categoria precisa melhorar para se tornar um sucesso, a reflexão do que foi feito corretamente é igualmente necessária. Seguem abaixo cinco motivos pelos quais a F-E chamou a atenção positivamente em Pequim.
 
1) Novidade e expectativa
 
Depois de meses sendo chamada de "futuro do automobilismo", a F-E chegou irresistível aos fãs das corridas de carro. Afinal, quem resiste ao futuro acaba atropelado pelo bonde do tempo, diriam os mais velhos.
 
Nunca uma corrida de carros elétricos havia atraído qualquer atenção. Então, após a chancela da FIA, a entrada de empresas importantes e o ingresso de pilotos de renome, foi hora de ver se esses carros de tecnologia ímpar — quase sem barulho, com emissão zero de gases poluentes e nenhum cheiro de gasolina — eram divertidos e rápidos.
 
A data da estreia, em um fim de semana sem F1, Indy, WEC, tendo apenas o WRC, a MotoGP e o DTM como rivais no calendário das competições internacionais, ajudou bastante. O horário chinês, fazendo com que a corrida acontecesse na manhã europeia, despertou a imprensa especializada. Todos gostariam de descobrir a resposta da pergunta: "É esse o futuro?". Em Pequim, a resposta apenas começou a ser dada.
 
2) Trocas de carro
 
Por muito tempo, a F1 permitiu que as equipes levassem um carro reserva para as corridas. Assim, graves problemas com o carro principal não faziam com que o piloto perdesse tanto tempo de pista. Em outras categorias, especialmente no endurance, pilotos dividem o mesmo carro e entram e saem do cockpit durante as corridas.
 
Já na F-E, a durabilidade das baterias elétricas que fazem o motor funcionar obrigam um tipo diferente de substituição: os pilotos levam o carro até a garagem. Lá, batem no cinto, saem do cockpit e se encaminham até o outro carro — perfeitamente idêntico — posicionado ao lado, entram nele e retomam a prova.
 
E essa movimentação dentro da garagem pode mudar a história de uma corrida, como ficou claro na China. Nick Heidfeld começou a rodada de paradas na quarta colocação. Baixo e leve, conseguiu se desvencilhar rapidamente de uma das suas Venturi e entrar na outra. A mudança foi suficiente para passar Daniel Abt e Lucas Di Grassi, ambos bem mais altos. Isso deve ser aprimorado ao longo do tempo.
 
3) Fortes disputas por posição e equilíbrio
 
Como Lucas Di Grassi entrou na última volta estando na terceira colocação, já fora da luta pela vitória, e mesmo assim venceu, graças a um acidente impressionante, é normal que a batida entre Heidfeld e Nicolas Prost atraia toda a atenção. No entanto, dois pilotos dividindo a liderança de uma prova roda com roda nos metros finais parece um indício positivo. Isso, ainda levando em consideração que o circuito chinês é bastante travado, o que dificulta as brigas — mais do que em outros que devemos ver ao longo da temporada.
 
Algumas disputas duras e divertidas marcaram a etapa inicial dos monopostos elétricos. Nelsinho Piquet com Oriol Servià e Takuma Sato, Franck Montagny com Daniel Abt. E a mais notória, a entre os dois líderes, que acabou com Heidfeld levantando voo.
 
No fim das contas, apenas a Audi ABT entrou no giro final do eP de Pequim com dois carros no top-6. Terminou vencendo com Di Grassi, mas em décimo com Abt, punido por um intrigante uso excessivo de energia elétrica. A Andretti acabou herdando a liderança entre as equipes, pois Montagny foi o segundo e Charles Pic cruzou no quinto posto.
 
O caminho inicial tem aspecto de grande equilíbrio. Equipes que contrataram seus pilotos perto do fim ou após a pré-temporada tendem a se desenvolver. É o caso da China, com Piquet e Ho-Pin Tung, e da Dragon, com Jérôme D'Ambrosio e Servià. Além da força da e-Dams, que acabou sem qualquer pontuação na corrida pelos vários problemas de Sébastien Buemi e a batida de Prost. Dessa forma, as próximas oito etapas dessa temporada inicial podem mostrar uma variedade interessante de pilotos e equipes brigando pelas primeiras colocações.
Nicolas Prost à frente de Lucas Di Grassi durante corrida da F-E na China (Foto: Reuters)
4) Interatividade
 
Alejandro Agag, o homem forte por trás dos carros elétricos, foi o primeiro a dizer que gostaria da F-E com o olhar de videogame, pinçando, assim, os olhares dos mais jovens. Perfeito. Mas como fazer para dar interatividade o bastante a uma categoria para que pessoas sejam atraídas a prestar a atenção apenas por isso? Tornando possível que os fãs tenham um impacto na corrida.
 
Daí a ideia de permitir que os fãs possam votar em seus pilotos favoritos durante as horas que precedem a prova. Os três mais votados recebem um FanBoost, que consiste numa potência extra a ser aproveitada pelo piloto em algum momento da prova. Parecido com um push-to-pass, da forma como a Indy faz, mas apenas única vez durante a prova.
 
Se há uma chance de que pilotos mais carismáticos acabem sendo beneficiados corrida após corrida — tornando o Boost algo bem mais decisivo que o planejado — ele de fato dá ao torcedor alguma sensação de estar ajudando seu piloto favorito.
 
Infelizmente, diz a curiosidade, o eP da China não mostrou do que é capaz a potência extra. Isso porque Bruno Senna, um dos agraciados, abandonou a prova na primeira volta; Katherine Legge andou nas últimas posições desde o começo; e Di Grassi acabou não tendo chance real de usar numa ultrapassagem. Assim, a curiosidade segue tão grande quanto antes para saber o quão decisivos podem ser os fãs.
Bruno Senna, um dos mais votados, recebeu cavalos a mais durante a corrida (Foto: Reuters)
5) Pontuação dada por volta mais rápida
 
A F-E mistura os bônus dados por algumas categorias com a fórmula de pontuação da F1. Da forma como está posto hoje, o piloto que for o mais rápido da classificação marca três pontos, mais que o nono e o décimo colocados na prova. Quem anotar a melhor volta da prova tem dois pontos na classificação, tanto quanto o nono colocado.
 
Embora, em um primeiro olhar, a ideia possa destacar apenas uma avaliação complacente, a atenção é necessária ao caso de Takuma Sato, por exemplo. O japonês andou nas últimas posições em todos os treinos e vinha por lá na prova. Porém, uma volta assombrosamente rápida fez com que Sato faturasse os dois pontos que muito dificilmente conseguiria pela colocação. Após a volta rápida, o carro simplesmente parou, aparentemente com o fim da bateria.
 
Não é difícil de imaginar que esse possa ser um artifício utilizado outras vezes. Trata-se de uma competição em seu ano inicial, portanto, com provável grande número de problemas de confiabilidade e competitividade. A briga por liderança do campeonato pode passar por esse ponto em algum momento. Alguém se vendo perdido, longe da zona de pontuação, comete suicídio na prova, mas garante alguns pontos. O bônus pode acabar virando muleta para incompetência.
 
Há muito a ser notado, diagnosticado e consertado na F-E. A temporada 2014 será um grande laboratório.

As imagens da estreia da F-E
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