Depois de choque cultural nos EUA e “frio do cão” para garantir emprego, Derani se prepara para estreia em Le Mans

Pipo Derani vai estrear nas 24 Horas de Le Mans neste fim de semana com a equipe G-Drive. Já na cidade francesa há duas semanas, o piloto de 21 anos está bastante ansioso para disputar a corrida mais importante do Mundial de Endurance

O caminho que levou Pipo Derani à estreia em Le Mans não foi o mais simples. No fim de 2013, quando encerrou sua passagem pela F3 no GP de Macau, o piloto fez um ou outro contato com equipes europeias de endurance, mas optou por perseguir a Indy e se mudou para os Estados Unidos. Foi uma jornada que não deu certo.
 
Mais acostumado com o modo europeu de se fazer automobilismo, e principalmente após descobrir pelo Twitter que havia sido dispensado pela equipe Pelfrey da ProMazda, ele fez de volta o caminho para o Velho Continente. Era o sexto colocado no campeonato até então. Competiu na ELMS no segundo semestre de 2014, encarou um “frio do cão” em dezembro para conquistar uma vaga no Mundial de Endurance e agora não esconde a ansiedade pela estreia nas 24 Horas de Le Mans.
Pipo Derani vai correr pela primeira vez nas 24 Horas de Le Mans (Foto: Clement Marin)
“Depois que terminei Macau, tive reunião com duas equipes de endurance. Já tinha na cabeça a vontade de competir nas 24 Horas, mas acabei optando por tentar a Indy”, contou o piloto de 21 anos em entrevista ao GRANDE PRÊMIO.
 
“Mas realmente o choque cultural ao que eu vinha acostumado na Europa foi bem grande. O jeito que as equipes dos Estados Unidos trabalham é bem diferente. Muitos gostam, acham mais tranquilo, outros nem tanto. Eu fiquei no ‘nem tanto’. Nunca vou dizer não, até porque as corridas de endurance lá são demais. Mas acho que me adapto mais ao método de trabalho dos europeus”, disse.
 
Então vieram as duas oportunidades com a Murphy no ELMS e, através da Dunlop, o meio-de-campo que resultou no convite para um teste com a G-Drive em dezembro em Magny-Cours. A fabricante entrega após as etapas um relatório sobre os pneus às equipes, com informações também sobre pilotos. Pipo contou que foi por meio disso que Philippe Dumas, chefe da G-Drive, o procurou. O primeiro encontro se deu em Interlagos, nas 6 Horas de São Paulo.
 
“Foi um teste bem difícil. Estava chovendo, entre zero e 5ºC. Andei ainda com o Morgan, aberto, todo molhado. Frio do cão, nossa!”, falou. “Sabia que ali, em vez de ser super rápido, não podia fazer nenhuma besteira, até porque tinham outros pilotos testando. Mas foi o teste em que eu vi que era isso que eu queria. Aí foi esperar até 20 de janeiro, quando recebi a ligação.”
A G-Drive tem uma relação bastante próxima com a Ligier, uma pequena montadora francesa que vende chassis para outras equipes, e Pipo Derani está gostando bastante de ter este contato com uma equipe de fábrica (Foto: Clement Marin)
Derani, correndo com o mexicano Ricardo González, que já venceu em Le Mans, e o também estreante Gustavo Yacamán, colombiano, foi segundo nas duas etapas já disputadas no Mundial de Endurance em 2015.
 
Com os mais de 13 km de extensão do circuito de Sarthe, ele teve contato no teste realizado no penúltimo fim de semana. Na ocasião, deu as dez voltas que são obrigatórias para novatos. E ficou por lá, em um bangalô alugado pela equipe. Nesta quarta, realiza o único treino livre e a primeira das três sessões classificatórias.
 
“Macau e Le Mans são dois extremos que, se todo piloto pudesse experimentar, todos iriam gostar”, sentenciou. “O mais difícil aqui é onde tem as curvas Porsche. A primeira parte do circuito é normal, e depois você entra na parte que é rua mesmo, e tem muita reta. Nas curvas Porsche, é onde o piloto percebe que não pode relaxar tanto. Relaxa-se até demais nas retas, e quando você chega ali se dá conta da velocidade: está a 300 km/h e tem que fazer as curvas a 250 km/h com os muros colados, e com o trânsito.”
 
Inclusive, foi neste trecho que, em 2014, Loïc Duval e Fernando Rees sofreram os graves acidentes que os tiraram da corrida.
 
“A equipe tem me preparado bem, ajudando a absorver o máximo de informação que preciso sendo um novato. Estou feliz por participar da primeira 24 Horas da minha vida. Não poderia ter feito melhor para a minha carreira. Estou feliz, entro no carro com muita vontade, muito feliz, e isso acaba fazendo muita diferença no final”, comentou. A ideia é continuar no WEC, seja com a G-Drive e a Ligier na LMP2, seja subindo para a divisão principal. E, claro, aproveitar o ‘espírito de Le Mans’: “Nessa semana, está completamente vazio aqui. Na semana da corrida, tem 300 mil pessoas. Uma experiência completamente diferente.” 
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