Grandes Entrevistas: Maurício Slaviero

Tudo isso mudou com o objetivo de buscar este público novo, com o objetivo número 1 nosso, que é ser o segundo esporte brasileiro. É isso que a Stock Car quer. Não o automobilismo como um todo, mas que a Stock Car seja o segundo esporte brasileiro. Que o cara pense: ‘Qual é o esporte que eu acompanho em primeiro lugar? Futebol sempre. E depois? A Stock Car.’

Tornar a Stock Car a segunda modalidade brasileira mais acompanhada pelo público é o objetivo de Maurício Slaviero, o diretor-geral da empresa promotora Vicar. E foi em busca desta meta que foi conduzida uma revolução no formato de disputa do campeonato na temporada 2014, com a criação de uma Corrida de Duplas para abrir o ano e a introdução de rodadas duplas para aumentar o número de provas. Um ano depois, o paranaense diz ter a certeza de que o caminho escolhido colocou a categoria no rumo certo para isso.

“Precisamos trazer um público novo e um público jovem para a Stock Car”, afirma Slaviero em entrevista exclusiva ao GRANDE PRÊMIO. “Todo o trabalho que começou no ano passado foi com este objetivo.”

O discurso é semelhante ao que se vê no noticiário do Mundial de F1, por exemplo. No caso da categoria internacional, nota-se nos últimos anos uma queda na audiência. Gerou polêmica, no fim do ano passado, uma declaração de Bernie Ecclestone, dizendo que prefere ter um ricaço de 70 anos acompanhando às provas do que um garoto, pois é ele que tem o poder aquisitivo para comprar o que está exposto pelos patrocinadores.

No caso da Stock Car, Slaviero, que está na Vicar desde 2009 e sucedeu de vez Carlos Col como homem-forte da categoria após a saída do antigo promotor, no início de 2013, na verdade enxerga o campeonato dentro de um segundo ciclo de crescimento. “Está longe ainda de chegar ao pico”, reconhece. “A gente tem que ter essa meta ousada, e essa é a nossa meta.”

Além de fazer uma análise do momento e dos planos da Stock Car para o futuro, Slaviero comentou também a respeito das categorias de base do automobilismo e do trabalho realizado pela CBA na gestão do esporte. “A CBA melhorou muito o trabalho dela — nos dois últimos anos, principalmente”, avalia.

Maurício Slaviero é o diretor-geral da Vicar (Foto: Duda Bairros/Vicar)

O plano de crescimento

A impressão geral é de que o regulamento introduzido em 2014 foi bom para a Stock Car, e Slaviero está confiante de que o crescimento iniciado deve seguir por mais alguns anos até, quem sabe, a “ousada” meta ser atingida.

O dirigente comemora os resultados obtidos no ano passado apesar da enorme insegurança — e por que não desconfiança — inicial. “Quando você muda uma coisa que era feita há muito tempo, a reação de todo mundo é ‘isso não vai dar certo!’, ‘não quero!’, ‘vai ter problema aqui, ali’. Nas primeiras corridas, tinha piloto que chegava para mim e falava: ‘Você está louco, o cara vai fazer isso, vai fazer aquilo’. Pintavam cenários macabros. Tipo assim: vão morrer 30 pessoas em cada corrida. Um negócio de louco. E a gente viu que não aconteceu. Eles percebem depois, com calma, que a coisa funciona, que é um formato legal”, celebra.

“Acho que a Stock Car teve um momento de queda lá atrás, todo mundo sabe. Cresceu bastante com o trabalho que a Vicar fez desde 1999. Teve um momento de estabilidade normal que aconteceu por uns três ou quatro anos, e depois acho que desde o ano passado está crescendo bastante de novo. E acho que a gente ainda não atingiu o pico deste crescimento. Quando digo crescimento, digo crescimento de visibilidade, de relevância, de importância no esporte brasileiro e na mídia. Está longe ainda de chegar ao pico desta segunda fase de crescimento”, analisa.

“Agora, tem que ver o que vai acontecer no mundo, né? Tem que ver o que vai acontecer na economia. Tudo isso interfere no automobilismo, não adianta esconder. Isso é óbvio. Não tem como ser diferente. Vai depender de como a economia brasileira vai se desenvolver neste ano, como o dólar vai ficar, porque isso no automobilismo é muito relevante, tem muita coisa ligada ao dólar. Muita coisa pode acontecer. O custo da categoria pode ser menor? Sempre pode. Mas é muito difícil fazer este trabalho. A gente já falou sobre isso, já desenvolveu muitos trabalhos, e é complicado. Você tem o próprio pedágio do nome Stock Car, que acaba encarecendo muito as coisas, principalmente mão-de-obra”, pondera.

Diante disso, e destacando o tamanho do grid da categoria, Slaviero garante: “Eu tenho certeza que [a Stock Car] é sustentável. É só você olhar: temos 33 carros andando”.

“O automobilismo, apesar da economia complicada e de tudo que a gente está vendo, acho que está em um momento bom no Brasil. Se não acontecer nenhuma catástrofe econômica, que aí não tem nada a ver com o trabalho que a gente faz, a tendência é continuar nessa evolução”, fala.

O papel da Corrida de Duplas

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De acordo com Slaviero, antes da introdução de todas as mudanças de 2014, a Vicar conduziu uma pesquisa aprofundada para entender que medidas precisava tomar para popularizar a categoria. “Foi uma pesquisa qualitativa, muito grande, em seis capitais do Brasil com dois grupos em cada uma dessas cidades, mais ou menos umas 15 pessoas em cada. É a mesma coisa que uma empresa gigante como a Coca-Cola ou a Chevrolet faz”, explica.

E o dirigente não acredita que público brasileiro trata a F1 como algo a parte e coloca todas as demais categorias dentro do mesmo balaio. “Saiu de uma maneira muito clara: as pessoas acompanham a Stock Car, gostam, conhecem do mesmo jeito que conhecem F1, e percebem que são duas coisas completamente distintas. A F1 é muito vista como a categoria top, que tem as estrelas e é super distante do público brasileiro. E a Stock Car é uma coisa muito mais brasileira. Por que? Saiu muito nas pesquisas: ‘Adoro a Stock Car porque ela foi feita aqui no Brasil, é organizada por brasileiros, só tem piloto brasileiro correndo, isso é muito legal, muito bacana’. Inclusive alguns dizendo aquele ‘parei de ver a F1 depois do Senna; e agora eu vejo a Stock Car’. Não estou comparando com a F1, nada disso, nem é o nosso objetivo. Mas apareceu isso na pesquisa. Fazendo um paralelo, é mais ou menos o seguinte: as pessoas enxergam a F1 como o Oscar e a Stock Car como a novela das 9 da Globo. Então acho que não tem muito essa questão do cara ver como automobilismo só a F1. Claro que, este nosso trabalho, é mostrar para a imprensa também que ela não tem só que falar de F1 e de futebol. Tem que falar do que está acontecendo aqui”, relata.

A postura da imprensa, aliás, desagrada Slaviero. Ele critica a desigualdade com a qual as modalidades esportivas são tratadas no noticiário com relação ao futebol. “Tem diversos veículos que não dão a atenção que a Stock Car merece. O que você vê de jornal, de sites, que falam 90% sobre futebol, 5% sobre o vôlei, 3% sobre a Stock Car e 2% sobre sei lá o quê… Eu acho que não é mais essa a proporção do Brasil. Tem que pensar um pouco diferente. Claro que esporte principal é o futebol, e quando você fala de outros esportes, não vai ter a mesma atenção e tal. Mas a Stock Car está crescendo e é relevante”, defendeu.

Nessa questão, a Corrida de Duplas se destaca positivamente. A vinda de nomes de peso para a prova, como o campeão mundial de F1, Jacques Villeneuve, e a “parceria” formada pela equipe Mico’s, com Bruno Senna e Nicolas Prost como convidados, chamaram bastante a atenção.

Nicolas Prost e Jacques Villeneuve na Corrida de Duplas da Stock Car (Foto: Duda Bairros/Vicar)

“As equipes entenderam que quem traz gente com mais nome aparece mais, o que é o objetivo desta prova. O objetivo é, e não tem por que esconder isso, muito mais promocional para a categoria do que qualquer outra coisa. Nosso objetivo é que as pessoas que não acompanham a Stock Car se surpreendam com tudo que está acontecendo e comecem a acompanhar. E não tenho dúvida de que a equipe que mais entendeu isso daí foi a Prati. Entendeu de uma maneira muito clara qual é a intenção. E a própria Shell, trazendo o Villeneuve também. Foram os que mais apareceram. Não tenha dúvida que o retorno da Prati antes da corrida começar pagou 50 vezes o investimento que fez. Não importa o que ela fizer na corrida, já está pago. Não tenha dúvida de que vai ser o maior retorno de todos”, elogia.

“Claro que, a cada ano, vai ficar mais difícil conseguir o ineditismo. Cada ano tem que buscar um negócio mais diferente ainda. Mas também não adianta querer que toda hora só tenha cara novo”, admite. Mas o desejo é ver os times disputando entre si para ver quem consegue trazer mais nomes de peso para a prova.

Outro trabalho realizado por Slaviero nos últimos anos visa tornar os eventos da categoria mais interessantes para quem vai ao autódromo. Neste ano, a grande novidade foi a reunião de todas as categorias que estão sob a tutela da Vicar no mesmo evento: a Stock Car, o Brasileiro de Turismo, o Brasileiro de Marcas e a F3, além do Mercedes-Benz Challenge. “Para nós, da organização, o trabalho e acorreria são muito maiores. Por outro lado, só tenho ouvido elogios. Todo mundo está gostando. As montadoras do Marcas estão adorando, pois estão vendo um negócio muito mais movimentado, grande. O pessoal da Mercedes gostou também”, diz. A redução dos custos para a Vicar foi um dos fatores considerados, mas a possibilidade de um patrocinador se envolver com ambos os eventos, caso da Petrobras com a Stock e o Marcas, também pesou. Havia, ainda, “uma necessidade de fazer o próprio Marcas dar um up. Estamos conseguindo”.

Por fim, o dirigente justificou o alto preço do ingresso para a visitação aos boxes após as corridas, alvo de críticas por parte do público. A inteira custa R$ 120,00. O pai que quer levar o filho, por exemplo, precisa pagar R$ 180,00. “A gente dobrou de propósito o preço há dois anos, porque fez uma pesquisa e o valor percebido pela visitação é absolutamente gigante. Algo que todo mundo percebe como muito especial. E quando você banaliza o que é muito especial, ele vira comum, banal, como eu disse. É para ser uma coisa realmente exclusiva, para pouca gente. É caro? É, é mesmo. Só que é absolutamente mais barato do que qualquer coisa internacional que você vai. É um terço do valor de um ingresso normal de arquibancada da F1.”

Slaviero com Barrichello após o piloto conquistar o título da temporada 2014 (Foto: Duda Bairros/Vicar)

O trabalho da CBA

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“Melhorou muito”. Slaviero evitou conflitos com a Confederação Brasileira de Automobilismo e destacou que os comissários estão melhor preparados e o suporte dado pela entidade especialmente no trabalho realizado com a F3.

“Olha, eu acho que a CBA, sinceramente, melhorou muito o trabalho dela — nos dois últimos anos, principalmente. Os comissários hoje estão muito mais preparados do que estavam, errando muito menos. Não errar é absolutamente impossível, seja no futebol ou no esporte que for. A própria postura deles está sendo diferente, mais profissional, mais séria. E assim: o trabalho da CBA hoje é esse, é nessa parte técnica. Aí que eu acho que evoluiu”, diz.

“Precisa melhorar mais ainda? Sempre precisa. Do mesmo jeito que eu falei que a CBA precisa melhorar, que outros promotores, outras coisas também precisam melhorar. Mas se a pergunta é ‘melhorou ou não’, ela melhorou bastante, e vou te dizer que está muito próxima do nível que a gente acha que é o ideal. Não pode parar. Tem coisas a serem feitas. Não dá para achar que está tudo certo, maravilhoso, esmorecer, porque é aí que os problemas acontecem.”

A respeito da estrutura do esporte, o dirigente pensa que falta uma categoria intermediária entre o kart e a F3 Brasil. “Seria importante. Mais lenta, com carros menores, é importante para o automobilismo brasileiro. Sem dúvida, a F3 Light é uma categoria de acesso e formação de pilotos. É muito boa, e hoje está fazendo as vezes disso no Brasil, porque não tem outra categoria. Se a gente tivesse outra categoria entre o kart e a F3 seria excelente não só para a formação de pilotos em geral, mas para a própria F3. Quando a gente tinha no Brasil uma F-Renault, uma F-Chevrolet muito fortes, a F3 sempre foi forte. Quando a gente deixou de ter isso, a F3 passou a ter problema”, comenta.

“Com relação à formação geral, acho que o kart está melhorando bastante. Não acompanho o dia a dia, mas por tudo que eu converso com o próprio Felipe Giaffone, que trabalha muito com kart, está muito melhor do que estava algum tempo atrás. Não sei se é algum trabalho da CBA ou não nisso, mas o kart está melhor que estava. Sem dúvida o trabalho da F3 foi junto da CBA, então a gente tem que considerar porque a CBA ajudou bastante a gente a fazer este trabalho da F3. Como? Divulgando nos eventos do kart, ajudando na questão dos próprios pilotos. Em várias questões, ajudou e mostrou que está interessada”, salienta.

Mas quem tem que fazer essa categoria intermediária? “São os promotores. Não adianta achar que a CBA tem que fazer uma categoria porque não é o papel dela. Eu não conheço nenhuma categoria que a FIA faz no mundo. São os promotores que organizam. Tem, na verdade, que existir alguma empresa interessada em fazer uma categoria. Ninguém está aqui hoje, nem nós, da Vicar, nem a Neusa [Navarro Félix], da Truck, nem o Dener [Pires], da Porsche, que são os três promotores que tem no Brasil, para fazer trabalho social. São empresas que estão aqui para ganhar dinheiro. Do mesmo jeito que o site de vocês é para ganhar dinheiro, você vive do teu salário, e assim vai. Esse é o trabalho, esse é o conceito. Mas isso, se você não tiver uma empresa realmente interessada em investir nisso, que neste caso tem que ser uma montadora, não vai acontecer.”

O objetivo para a Stock Car

Ao encerrar a entrevista, Slaviero revela a ambição que tem para a Stock Car:

“A nossa meta, depois deste estudo todo que a gente fez, e que foi por isso que a gente mudou o formato do campeonato, a questão da Corrida de Duplas, o próprio logotipo da categoria mudou, o site da categoria… Tudo isso mudou com o objetivo de buscar este público novo. Com o objetivo número 1 nosso, que é ser o segundo esporte brasileiro. É isso que a gente quer. Que a Stock Car. Não automobilismo como um todo, que a Stock Car seja o segundo esporte brasileiro. Que o cara pense: ‘Qual é o esporte que eu acompanho em primeiro lugar? Futebol sempre. E depois? A Stock Car.’”. Mais que a F1? “Dentro do Brasil, isso. Lógico, não vai acontecer de um dia para o outro. A gente tem que ter essa meta ousada, e essa é a nossa meta.”

Maurício Slaviero é o diretor-geral da Vicar (Foto: Duda Bairros/Vicar)

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