Coluna Safety-car, por Felipe Giacomelli: Paramos no tempo

O estádio para a Copa do Mundo que está sendo construído em Brasília foi orçado em R$ 1 bilhão. Com R$ 1 milhão – 0,1% desse valor – já seria possível fazer mudanças profundas no autódromo local

O automobilismo brasileiro parou no tempo. É essa a impressão que tenho todas as vezes que assisto a uma corrida por aqui. No último fim de semana, por exemplo, a Stock Car esteve em Tarumã para a disputa da terceira etapa da temporada 2013. O circuito é muito bem cuidado pelos administradores, mas deixou a desejar em alguns momentos.

Um deles foi durante o treino classificatório, quando Nonô Figueiredo capotou após um acidente bobo. O piloto da AMG escapou da pista e veio deslizando pela grama até o carro acertar um pedaço de brita. Por causa do desnível, o Chevrolet saiu voando, mas o piloto felizmente escapou ileso.

Caso o circuito do Rio Grande do Sul seguisse a tendência internacional de áreas de escape de asfalto, Nonô não teria problemas para frear, controlar o carro e seguir normalmente na classificação.

Estádio e autódromo de Brasília: um recebe o dinheiro, o outro, os eventos esportivos (Foto: Vanderley Soares)

E essa não é uma reclamação por acaso. Na última semana, Elias Azevedo, piloto veterano que disputa a F3 Sul-americana em 2013, detonou o circuito de Brasília após a etapa na capital federal. Em um comunicado enviado à imprensa, Azevedo se disse perplexo ao ver que as reformas feitas no traçado deixaram o circuito ainda mais perigoso.

“Aparentemente estamos indo na contramão do automobilismo mundial. Em Brasília, o que vimos foi uma reforma que deixou o circuito mais perigoso. As áreas pavimentadas que existiam foram removidas, o que é mais difícil de acreditar e deixa o problema ainda maior”, disse o piloto.

De Brasília eu posso falar com propriedade, porque morei muitos anos lá. Essa história de uma reforma no traçado já existe há pelo menos 20 anos. Na época em que o circuito era arrendado por Nelson Piquet, até o início da década passada, houve algumas melhorias paliativas. Porém, desde que o governo retomou o controle da pista, o que se viu foi quase o completo abandono. Tanto é que o traçado misto não é mais usado por falta de segurança em alguns pontos.

Se Elias ficou perplexo ao ver a reforma às avessas feita por lá, certamente ele não vai ficar nenhum pouco contente ao tomar conhecimento da disparidade entre futebol e automobilismo na capital federal.

O estádio para a Copa do Mundo, que está sendo construído, foi orçado em R$ 1 bilhão. Com R$ 1 milhão – 0,1% desse valor – já seria possível fazer mudanças profundas no autódromo. Mesmo com tanta diferença assim nos valores, sabe qual arena vai receber mais eventos em 2013? Pois é, o circuito.

Enquanto o estádio de futebol vai sediar apenas a abertura da Copa das Confederações e o primeiro jogo do campeonato brasileiro, entre Flamengo e Santos, o autódromo receberá duas vezes a Stock Car, duas o Brasileiro de Marcas, além da F-Truck. E a expectativa para os próximos anos é ainda mais estarrecedora.

Não existe um time de futebol em Brasília para usar aquele estádio. Não é que não tem um na primeira divisão. Não tem em divisão alguma. O Gama, mais conhecido, joga no estádio do Bezerrão, na cidade-satélite do Gama. Já o Brasiliense manda os jogos na Boca do Jacaré, em Taguatinga. E as duas equipes já afirmaram que não têm interesse em usar o estádio do Plano Piloto.

Enquanto isso, o circuito, que realmente é usado, só não fica às moscas porque a reforma o deixa ainda mais perigoso, segundo o piloto. Se os autódromos estão assim, imagine como devem estar a maior parte dos kartódromos do país. Aí a gente vê que não é por acaso que Felipe Massa é o único brasileiro na F1. É tudo consequência.

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