‘Vilão do Dakar’, Atacama peruano registra quase 80 abandonos antes de dia de descanso na altitude de La Paz

Em seis dias de prova, a 40ª edição do Rali Dakar registrou um total de 87 baixas dentre os 337 inscritos, sendo que nada menos que 79 pilotos deixaram a competição durante a travessia pelo Deserto do Atacama, no Peru. O panorama da disputa traz um duelo interno na Peugeot, batalha imprevisível nas motos, favoritos destacados nos quadris e caminhões e a chance de um bicampeonato para o Brasil nos SxS, nova nomenclatura dos UTVs

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Ano após ano, a ASO (Amaury Sport Organisation) promete o Rali Dakar mais difícil de todos. Não foi diferente para a histórica 40ª edição do maior desafio off-road do mundo, que corre pelo décimo ano seguido na América do Sul. E desta vez, a prova readquiriu o DNA perdido nos últimos anos com a saída do Chile como um dos países-sede. O Deserto do Atacama voltou a ser o ‘coração do Dakar’ com a volta do Peru à competição, sendo a base das cinco primeiras especiais. E justamente neste trecho, nada menos que 79 dos 337 inscritos deixaram a competição. Um número de abandonos que impressiona e retrata a extrema dificuldade que é passar pelas imprevisíveis dunas.

 
No total de seis dias de competição, sendo cinco totalmente em solo peruano e um na transição entre Arequipa e La Paz, capital da Bolívia, 87 veículos inscritos abandonaram o Dakar. Algumas baixas foram bastante significativas em quatro das cinco categorias em disputa. Nas motos, ninguém menos que o campeão do ano passado, Sam Sunderland, deixou a prova. Nos carros, favoritos destacados como Sébastien Loeb e Nani Roma foram vítimas das dunas do Atacama, que também tiraram de combate o luso André Villas-Boas, em sua primeira incursão no Dakar.
 
Nos quadriciclos, dois campeões do Dakar abandonaram a prova antes do dia de descanso: Rafal Sonik, campeão em 2015, deixou o rali após uma queda que lhe causou fraturas na tíbia e perônio. Outra baixa nos quadris foi a do russo Sergey Karyakin, campeão do Dakar no ano passado.
Kevin Benavides é o grande líder do Dakar nas motos. Mas a batalha é a mais apertada da prova (Foto: Edoardo Bauer/Honda)
Quando se trata de Dakar, é sempre complicado traçar um comparativo com os anos anteriores porque cada ano a prova tem um percurso completamente distinto, com relevo, clima e desafios muito diferentes entre si. Mas quando se analisa friamente os números, é possível perceber que o número de abandonos neste ano foi bastante elevado nesses seis primeiros dias. Em 2017, nos seis primeiros dias, 66 inscritos deixaram a disputa antes do dia de descanso após a largada em Assunção, no Paraguai. Em 2016, após oito dias da largada em Buenos Aires, foram ‘apenas’ 53 abandonos.
 
Ou seja, o Atacama peruano definitivamente foi o grande vilão do Dakar até o momento.
 
Mas ainda restam oito dias de prova pela frente. E aí o Dakar mostra cenários bem diversos em termos de competição para cada uma das cinco modalidades em disputa. E em todas elas, é possível dizer que a batalha entre as motos é a mais imprevisível e, consequentemente, a mais emocionante.
 
Em seis especiais, foram quatro vencedores diferentes nas motos, sendo que o campeão Sam Sunderland já está fora de combate. Assim como o britânico, Joan Barreda também venceu duas etapas, mas vem tendo um desempenho bastante inconstante neste Dakar. Assim como Adrien Van Beveren, que venceu uma especial e chegou a assumir a liderança no geral. Mas quem chegou ao dia de descanso na ponta foi Kevin Benavides, da Honda. Pela primeira vez na história um argentino lidera no geral a competição das motos no Dakar.

É a grande chance da Honda desbancar o domínio quase eterno da KTM. No entanto, a fábrica austríaca jamais possa ser descartada, uma vez que conta com três pilotos entre os seis primeiros, sendo que a diferença do sexto para Benavides é de menos de 11 minutos. Benavides tem apenas 1min57s de frente para Van Beveren, piloto da Yamaha, o segundo colocado. Matthias Walkner, em que pese não ter vencido nenhuma especial ainda, vem fazendo um rali muito constante e aparece bem, em terceiro, sendo o melhor dentre a equipe de fábrica da KTM. 

 
Joan Barreda surge em quarto e ainda com boas chances de título, com 9min33s atrás do líder. E então aparecem Toby Price, campeão de 2016 com a KTM, e Antoine Meo, vencedor da sexta etapa do Rali Dakar. Nem mesmo nomes como Xavier de Soultrait, da Yamaha, ou do chileno Pablo Quintanilla, da Husqvarna, não podem ser totalmente descartados da briga, que promete muito até à chegada em Córdoba, no dia 20.
Ignacio Casale parte rumo ao bicampeonato do Rali Dakar nos quadris (Marcelo Maragni/Red Bull Content Pool)
Nos quadriciclos, a primeira parte da prova foi totalmente favorável a Ignacio Casale. Depois dos abandonos de Karyakin e Sonik, o chileno de 30 anos tem caminho livre para conquistar o bicampeonato na categoria. Vencedor das três primeiras especiais, Casale já pode se dar ao luxo até de administrar uma vantagem teoricamente confortável, de 41min30s, para seu maior oponente, o peruano Alexis Hernández. Ignacio abriu a maior parte da diferença no Atacama, terreno conhecido uma vez que costuma se preparar na região de Calama, no seu país-natal.
 
Além de Hernández, Casale tem nos argentinos Pablo Copetti, Jeremias González (vencedor da última etapa, em La Paz) e até de Gustavo Gallego, adversários em potencial. Destaque, pela curiosidade, para o holandês Kees Koolen, fundador do site booking.com, que figura em oitavo na prova dos quadris, 2h44min04s atrás do líder.
 
Quanto à batalha pelo cobiçado título do Rali Dakar nos carros, o incrível ‘Monsieur Dakar’, Stéphane Peterhansel, desponta como grande candidato àquele que pode ser seu inacreditável 14º triunfo na história da competição. Com o abandono do compatriota Sébastien Loeb, o único adversário real de Peterhansel e do navegador, Jean-Paul Cottret, é ‘El Matador’ Carlos Sainz. O espanhol, bicampeão do WRC, mostrou sua força em trechos mais rápidos ao vencer a especial na chegada a La Paz ao lado do copiloto Lucas Cruz. A batalha pela vitória, caso a normalidade prevaleça nos próximos oito dias, está mesmo restrita à Peugeot, que se despede do Dakar nesta edição.
Stéphane Peterhansel e Jean-Paul Cottret seguem rumo a mais um título do Dakar (Foto: Marcelo Maragni/Red Bull Content Pool)
Vai ser a disputa entre o cerebral Peterhansel contra o agressivo Sainz pelo título dos carros. O francês tem uma vantagem razoável contra o companheiro de equipe, de 27min10s. Na sequência, aparecem três Toyota, mas que estão a mais de uma hora de atraso em relação ao líder. 
 
Chama a atenção a bela performance de Bernhard Ten Brinke e do seu navegador, o experiente Michel Perin, que já venceu o Dakar com Nani Roma. Nasser Al-Attiyah é sempre agressivo e veloz, porém se mostra um tanto inconstante neste ano. Mesmo tendo vencido duas especiais, é o quarto da classificação geral ao lado de Matthieu Baumel, enquanto Giniel de Villiers e Dirk Von Zitzewitz, campeões do Dakar em 2009 com a Volkswagen, fecham o top-5. A Mini X-Raid, ao contrário, vem sendo uma grande decepção. Mikko Hirvonen não se encontrou no deserto e só andou bem nos trechos estilo WRC na chegada à Bolívia, enquanto Nani Roma abandonou. E o melhor colocado é o polonês Jakub ‘Kuba’ Przygonski, sexto no geral, porém 2h25min16s atrás de Peterhansel.
Nikolaev põe à prova a dinastia da Kamaz e o 'exército russo' nos caminhões (Foto: Dakar/Twitter)
Eduard Nikolaev, por sua vez, tem tudo para deixar a América do Sul com mais um título para o ‘exército russo’ da Kamaz. Depois da aposentadoria do ‘Czar do Dakar’, Vladimir Chagin, Nikolaev surge como grande sucessor do compatriota na disputa dos caminhões e vem fazendo um belo rali em 2018. Rumo ao tricampeonato, Nikolaev tem como grande rival o argentino Federico ‘Coyote’ Villagra, principal piloto da Iveco com a ausência de Gerard de Rooy, que chefia a equipe do sul-americano.
 
A vantagem de Nikolaev na liderança da prova é de confortáveis 52min40s para Villagra. Já o terceiro colocado, Siarhei Viazovich, de Belarus, está ainda mais atrás: 2h24min42s.
 
Por fim, nos SxS, nova nomenclatura dos UTVs no Dakar, o Brasil volta a fazer ótimo papel. Se em 2017 o país comemorou seu primeiro título com Leandro Torres e Lourival Roldan, desta vez a chance está com Reinaldo Varela e Gustavo Gugelmin, que lideram a classificação geral da modalidade após seis dias de disputa. Com ampla experiência de sete participações no Dakar, inclusive na África, Varela guia o UTV da Can-Am rumo aquela que pode ser a maior conquista de uma carreira já laureada com títulos no Mundial de Cross-Country e no Rali dos Sertões.
Reinaldo Varela e Gustavo Gugelmin vêm brilhando nos SxS (Foto: Marcelo Machado/photosdakar.com)
A diferença para a tripulação vice-líder dos SxS, formada pelos peruanos Juan Carlos Uribe Ramos e Javier Uribe Godoy, é de 32min07s, enquanto o conjunto liderado pelo francês Patrice Garrouste e navegado pelo suíço Steven Griener aparece em terceiro, 1h24min13s. A distância para o UTV que vem em quarto, de Claude Fournier e Szymon Gospodarczyk, é de mais de três horas, o que indica uma disputa entre os três primeiros.
 
Depois do duríssimo trajeto no Atacama e na chegada à Bolívia, o Dakar retoma os trabalhos neste sábado, quando a prova completa uma semana de duração. Nesta chamada ‘segunda perna’ da competição, pilotos e navegadores vão encarar especiais mais longas, passando dos 400 km nas etapas de sábado e domingo. Atenção também para a especial da próxima quinta-feira, entre Belén e Fiambalá, já na Argentina, um trecho complicadíssimo em razão das dunas que os competidores vão voltar a enfrentar, além do extremo calor, tendo sequência na sexta-feira, a caminho de San Juan, onde a navegação vai ser fundamental.
 
A edição 40 do Rali Dakar ainda nem está na sua metade, mas promete momentos surpreendentes e emocionantes para os próximos oito dias até à meta definitiva em Córdoba, diante do apaixonado público argentino.
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