Peterhansel e Loeb alcançam marcas históricas e fecham temporada 2012 soberanos no rali mundial

O GRANDE PRÊMIO traz a retrospectiva off-road na temporada 2012. Os pilotos e navegadores franceses viraram heróis com conquistas épicas ao longo do ano nas principais competições do rali mundial. O esporte fora de estrada no Brasil teve alguns motivos para comemorar e muitos a lamentar

Nesta segunda-feira (17), o Grande Prêmio relembra tudo o que aconteceu de mais importante no automobilismo off-road em 2012. O terceiro capítulo da retrospectiva aborda as principais competições do rali mundial e também reserva espaço para o que aconteceu de melhor no Brasil. Destaque para o Dakar, prova que abre a temporada do automobilismo, passando pelo WRC e pelo Rali dos Sertões. Todas elas tiveram em comum o domínio de pilotos e navegadores franceses, que alcançaram marcas históricas neste ano que está a se encerrar.

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Por aqui, o esporte teve alguns motivos para comemorar, como o Rali Internacional de Erechim, o Sertões, o projeto XRC e a Mitsubishi Cup, mas o Campeonato Brasileiro de Rali de Velocidade sequer conseguiu fechar a temporada, evidenciando uma fase das mais difíceis no Brasil.

Peterhansel chega ao décimo título no Dakar; Brasileiros dão exemplo de fair-play

Pela primeira vez desde que aportou na América do Sul, em 2009, o Dakar teve um percurso linear, ou seja, iniciando em uma cidade e finalizando em outra. As novidades não pararam por aí. Mar del Plata foi o palco de abertura da lendária prova, idealizada por Thierry Sabine. Já o Peru, pela primeira vez, fez parte do trajeto da competição, que durou entre 1º e 15 de janeiro.

O início do 33º Dakar da história, no entanto, não foi de muita festa. Jorge Martínez Boero, de 38 anos, sofreu uma queda na primeira etapa da competição e teve um forte traumatismo no tórax, mas não resistiu aos ferimentos e morreu a caminho do hospital. Foi o 21º competidor a perder a vida durante o Dakar.

Mas a prova precisava seguir. Carros, motos, quadriciclos e caminhões tinham como desafio maior cruzar o deserto mais árido do mundo, no Atacama, Chile, antes de chegar a Lima. Durante a travessia de quase 9 mil km pela América do Sul, dois episódios envolvendo espírito esportivo chamaram a atenção.

Foram 15 dias de disputa entre Argentina, Chile e Peru (Foto: Dakar/Facebook)

Na passagem pelas dunas de Fiambalá, ainda no lado argentino do deserto, Guilherme Spinelli e Youssef Haddad enfrentaram problemas com a bateria do Mitsubishi Lancer. no km 95 da especial. Não havia condições de seguir. Até que a dupla recebeu a ajuda da equipe de apoio para substituir a peça, sendo possível assim a chegada até o destino final, com quase sete horas de atraso.

O regulamento do Dakar é bem rígido e não permite ajuda externa por parte da equipe de apoio, apenas de outro competidor. Em teoria, uma situação como essa passaria despercebida pela organização da prova, com tantas coisas para cuidar em uma competição gigantesca como é o Dakar. Mas Spinelli abriu o jogo de maneira que surpreendeu o presidente do corpo dos comissários do rali, Josep Besoli. O duo brasileiro foi desclassificado, mas ganhou destaque no mundo inteiro pelo fair-play.

Dias depois, já do lado chileno do Atacama, entre Copiapó e Antofagasta, um verdadeiro lamaçal foi o grande obstáculo para os pilotos de moto. Vários deles ficaram presos por lá: Zé Hélio Rodrigues, David Casteu, Hélder Rodrigues, Paulo Gonçalves e Cyril Després.

Ocorre que Després, preso ali naquele monte de lama, recebeu a ajuda do luso Gonçalves, que também ficou atolado no mesmo setor do francês. Graças à ajuda do português, Cyril conseguiu se recompor e teve condições de seguir rumo a Antofagasta. Mas ao invés do piloto retribuir a ajuda ao colega, Després simplesmente saiu em disparada, deixando ‘Speedy’ Gonçalves desesperado e com um sentimento de injustiça. Sua atitude foi criticado por todo o mundo e foi um contrassenso com o gesto de Spinelli e Haddad.

Esportividades à parte, Stéphane Peterhansel, o mito, fez história mais uma vez no cross-country e conquistou sua décima vitória no Dakar, depois de encarar rivais duríssimos como Nani Roma, Nasser Al-Attiyah e Robby Gordon, que foi desclassificado por irregularidades no seu Hummer H3. Ao lado do inseparável navegador Jean-Paul Cottret, Peter alcançou várias marcas históricas: dez títulos no Dakar — o quarto nos carros —, o primeiro na América do Sul e também o primeiro triunfo da Mini no maior rali do mundo.

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Ao lado de Cottret, Peterhansel conquistou o décimo título do Dakar (Foto: X-Raid)

Nas motos, o eterno duelo entre Marc Coma e Després teve o polêmico francês como vencedor, chegando ao título do Dakar pela quarta vez na carreira. A competição também marcou a bela estreia de Felipe Zanol, que terminou em décimo com uma moto KTM. Pentacampeão do Rali dos Sertões, Zé Hélio Rodrigues encerrou sua jornada no Peru e abandonou as competições de moto.

Coube a Gérard de Rooy, com Iveco, quebrar a supremacia da russa Kamaz, que estava invicta no Dakar na competição dos caminhões. Ao lado de Darek Rodewald e Tom Colsoul, o piloto holandês repetiu, 25 anos depois, o feito do seu pai, Jan de Rooy, campeão com um peso-pesado DAF. Nos quadriciclos, o triunfo ficou, pelo segundo ano consecutivo, com Alejandro Patronelli, que derrotou o irmão Marcos, campeão em 2010, com larga vantagem.

No retorno a Monte Carlo, Loeb chega ao nono título e anuncia novos rumos

O Mundial de Rali em 2012 começou com algumas novidades. A principal delas foi o retorno do Rali de Monte Carlo, berço da modalidade e uma das mais tradicionais provas do automobilismo mundial. A edição não poderia ser mais histórica: foi a sua 80ª. Na pista, Sébastien Ogier deixou a Citroën para abraçar um projeto promissor na Volkswagen, mas visando 2013, sendo substituído por Mikko Hirvonen. A Ford, em decadência, aproveitou que Petter Solberg estava solto no mercado e contratou o último campeão antes da dinastia Loeb para guiar o Fiesta WRC como companheiro de equipe de Jari-Matti Latvala.

No fim das contas, eram todos contra um: Sébastien Loeb, o homem a ser batido mais uma vez. Contudo, com um regulamento com poucas mudanças em relação a 2011, o casamento perfeito entre Seb e o DS3 e a ausência de Ogier como potencial adversário, parecia improvável que alguém poderia superar o incrível francês, que iniciou sua caminhada com vitória justamente em Monte Carlo, que voltava a brindar o amante do rali com a especial de Col de Turini, uma das mais desafiadoras em todos os tempos.

Nova temporada, velha imagem: Loeb celebrando a vitória (Foto: Citroën)

A princípio, o grande adversário de Loeb foi Latvala, que deixou a vitória escapar por conta de uma falha em Monte Carlo, mas triunfou nas trilhas de gelo da Suécia. Gelo, diga-se, nunca foi o habitat de Sébastien, que sempre se deu melhor na terra e, principalmente, no asfalto. Só que, na etapa seguinte, no México, Loeb subiu novamente no lugar mais alto do pódio e mostrou que era o grande nome na luta pelo título, mais uma vez.

Depois de León, Seb abandonou em Portugal, mas conquistou cinco vitórias consecutivas, praticamente assegurando a taça. Latvala venceu em Gales, mas já não havia mais chance de título graças aos seus constantes erros. Nisso, Hirvonen, se não brilhou, se destacou bastante pela sua regularidade.

Mas diante do seu público, na Alsácia, Loeb conquistou mais uma vitória e, ao lado do parceiro Daniel Elena, chegou ao nono título mundial. Foi a cereja do bolo depois de ter anunciado que 2013 será seu último no WRC, mas apenas disputando corridas esporádicas pela Citroën: Monte Carlo, Suécia, Argentina e França. Como bem disse Loeb na premiação dos melhores do ano da FIA, em Istambul, “é o fim de uma bela história”.

O Brasil foi representado por três competidores. Pela primeira vez na história do Mundial de Rali, uma dupla nacional disputou a temporada completa da categoria. O feito coube a Paulo Nobre, o folclórico Palmeirinha, e seu navegador, Edu Paula. O duo competiu com um Mini John Cooper Works de número 14, devidamente pintado com as cores do Palmeiras, verde e branco. Candidato à presidência do Verdão, Nobre vai interromper sua carreira no rali.

Daniel Oliveira, baiano de 27 anos, trocou de carro para esta temporada: mudou de Mini para Ford Fiesta. Embora não tenha participado de todas as provas de 2012 — ficou de fora em Monte Carlo, Suécia e México —, ‘Flecha’ alcançou o melhor resultado de um brasileiro desde a década de 80: foi 12º no Rali de Portugal, em Faro.

Rali dos Sertões comemora 20 anos com Peterhansel e Zanol fazendo história

A 20ª edição do Rali dos Sertões foi especial do início ao fim. Entre 18 e 28 de agosto, a principal competição do cross-country brasileiro — e uma das mais importantes do mundo — cruzou seis estados e dez cidades, num percurso de quase 5 mil quilômetros entre São Luís, no Maranhão, e Fortaleza, capital cearense.

O Grande Prêmio cobriu in loco a competição e trouxe histórias de vida de muita gente que fez o espetáculo por lá. Desde Cristiano Teixeira, que entrou para a história ao ser o primeiro piloto amputado a disputar o rali, passando pela musa Helena Soares, entre tantos outros nomes, mais ou menos famosos, mas que trilharam o sertão brasileiro de tantas belezas e tantos contrastes.

Na competição em si, Stéphane Peterhansel e Jean-Paul Cottret vieram ao Brasil como convidados especiais, trazendo o Mini All4Racing da forte equipe alemã X-Raid. E o duo francês confirmou o favoritismo, vencendo o Rali dos Sertões. Guilherme Spinelli e Youssef Haddad, tetracampeões da prova e que disputaram a prova com o Mitsubishi Lancer, fecharam em segundo, com o cearense Riamburgo Ximenes, ao lado do potiguar Flavio França, completou o top-3.

Felipe Zanol brilhou no sertão brasileiro e conquistou venceu a prova pela primeira vez (Foto: Theo Ribeiro/Fotoarena)

Depois de dois vice-campeonatos consecutivos, Felipe Zanol finalmente teve a oportunidade de mostrar o que aprendeu com Cyril Després e Marc Coma e, fazendo sua primeira prova pela Honda, conquistou o Rali dos Sertões. A prova, aliás, foi amplamente dominada pela montadora japonesa, que colocou os mineiros Dário Júlio e Nielsem Bueno no rol dos três primeiros.

Guido Salvini, carioca que disputou seu 11º Sertões, chegou à incrível marca de seis títulos conquistados ao triunfar na categoria Caminhões Pesados. Natural de Niteroi, o experiente piloto subiu na rampa da vitória, em Fortaleza, celebrando o êxito ao lado de Flavio Bisi e Fernando Chwaigert com um Mercedes Atego. Mas na classificação geral dos ‘brutos’, a vitória ficou com o veterano Carlos Policarpo, vencedor na categoria Caminhões Leves com um Ford F-4000 4×4 tendo como parceiros de time Rômulo Seccomandi e Davi Fonseca.

Marcelo Medeiros, da equipe Maranhão no Sertões, conquistou a vitória nos quadriciclos. Outra novidade foi a competição dos UTVs, que entrou na prova como categoria experimental. Foi um Sertões duríssimo para as ‘gaiolas’: quatro delas tiveram problemas na bomba de gasolina e pegaram fogo. No fim das contas, triunfo de Bruno Sperancini e Thiago Vargas, que usaram a disputa como preparação para o Dakar 2013.

Altos e baixos no rali brasileiro

O ano de 2012 foi de sentimentos distintos para os praticantes de rali no Brasil. Por um lado, a Mitsubishi Cup, principal categoria do cross-country nacional, se consolida cada vez mais como formadora de talentos, tanto de pilotos quanto navegadores, o rali de velocidade perdeu seu principal certame: a Copa Peugeot foi encerrada neste ano.

O rali de velocidade, no fim das contas, agoniza. Nem mesmo a última etapa do Campeonato Brasileiro, agendada para Curitiba, foi realizada, sendo cancelada pela CBA. Os únicos alentos no ano foram o desenvolvimento do XRC, carro desenvolvido com a proposta de alcançar custos menores, e o eterno Rali Internacional de Erechim, que consegue reunir grande público a cada edição.

No Mundial de Cross-Country da FIA, destaque para o título conquistado pelos experientes Reinaldo Varela e Gustavo Gugelmin na classe T2.

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