Opinião GP: Tragédia em oval de terra envolvendo astro da Nascar é reflexo de violência nas pistas dos EUA

 FOI UMA TRAGÉDIA o que aconteceu na noite de sábado em um oval de terra na pequena Canandaigua, cidade do interior do estado de Nova York, nos Estados Unidos. Mas não dá para classificar o fato como fatalidade.

Com ou sem a intenção de Tony Stewart — a polícia local não encontrou evidências —, o jovem piloto Kevin Ward Jr. morreu após entrar na pista com a corrida em andamento para reclamar de uma disputa e ser atropelado pelo tricampeão — e uma das principais estrelas — da Nascar.

Kevin, que sonhava em um dia chegar pelo menos perto do que Stewart conquistou na principal categoria do automobilismo norte-americano, começou a carreira da mesma forma que boa parte dos pilotos estadunidenses: em pequenos ovais de terra ao longo do país. E, nessas corridas, tem ganhado destaque no noticiário histórias de brigas entre competidores que praticamente transformam as provas em dérbis de destruição.

Sonhos de Ward foram interrompidos precocemente (Foto: Reprodução)

“Provas nesses precários ovais de terra são perigosas e repletas de acidentes. Neguinho vive se arrebentando. E essa história de descer do carro para reclamar do adversário no meio da pista é, infelizmente, normal por lá”, escreveu Flavio Gomes, diretor-geral do GRANDE PRÊMIO e da AGÊNCIA WARM UP, em seu blog.

“Todos se acham valentões, gesticulando e atirando capacetes nos adversários. Andei postando aqui, também, pancadarias em provas de outras categorias nesses ovais, com piloto jogando carro em cima do outro como num dérbi de destruição. Violência o tempo todo, é o que vemos por aí”, acrescentou Gomes.

Há cerca de um mês, dois pilotos saíram presos da pista de Bowman Grey depois de transformarem seus carros de corrida em carrinhos de bate-bate e passarem alguns minutos se acertando enquanto a prova teve de ser paralisada. No mesmo circuito, uma semana depois, o xerife precisou entrar na pista para conter dois pilotos que fizeram a mesma coisa.

Mas esse tipo de comportamento não se restringe aos eventos regionais. Esse tipo de coisa acontece na própria Nascar — e o mesmo Stewart já foi protagonista de um momento que, como não terminou em tragédia, pode ser classificado como bizarro.

Na segunda corrida disputada em Bristol naquele ano, envolveu-se em um acidente com Matt Kenseth, sendo que não gostou nem um pouco da postura do adversário. Esperou o #17 passar pelos boxes e atirou seu capacete contra o carro em movimento.

Tony Stewart também é conhecido por ter a cabeça quente (Foto: Daniel Shirey/Getty Images)

Outro caso de polícia na Nascar teve Nelsinho Piquet na história, que se desentendeu com Brian Scott após uma prova em Richmond, e os dois foram às vias de fato. Pior: após a prova, mecânicos do norte-americano atacaram Piquet no estacionamento.

Claro que há exemplos mais bonitos de gente entrando na pista, como foi nas 500 Milhas de Indianápolis de 1989, quando Al Unser Jr. fez um sinal de positivo para Emerson Fittipaldi depois de bater enquanto disputava a vitória com o brasileiro. Fez questão de dizer ao bicampeão da F1 que a batalha fora limpa.

Mas, mais dia, menos dia, algo muito errado iria acontecer por causa desse tipo de coisa. Aconteceu com Ward, cujo sonho de se tornar um grande piloto se encerrou precoce e tragicamente.

Mais do que apontar culpados no que aconteceu em Canandaigua — mas que poderia ter ocorrido em qualquer outro oval de terra norte-americano —, é preciso tirar uma lição. Fala-se muito da violência que há no futebol, vinda de atletas e torcedores, mas é preciso podar esse mal também no automobilismo, onde são os astros do espetáculo que acabam protagonizando cenas lamentáveis que, dentro do contexto do esporte, tornam-se extremamente perigosas.

Tony Stewart atropela e mata piloto Kevin Ward… por sitegp

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