No início, Hinchcliffe imitava Räikkönen e era prefeito de ‘cidade própria’. Agora, é ele mesmo e quer ser dono de Indy

James Hinchcliffe não é nenhum novato, nenhum garoto, mas é quase como se fosse. Vítima de um acidente impressionante durante as atividades do ano passado no IMS, o canadense chegou a ficar com a carreira por um fio, mas se recuperou, foi se readaptando aos poucos e, ao cravar a pole-position para a 100ª edição da Indy 500, deu claros sinais de estar totalmente de volta. 

 

Mas Hinchcliffe é muito mais que apenas um piloto que sofreu um grave acidente e voltou meses depois. Aliás, seu companheiro na Schmidt Peterson, o russo Mikhail Aleshin tem história parecida, já que bateu forte nos treinos livres em Fontana no fim de 2014 e só foi voltar na prova final de 2015. O que diferencia Hinch de quase todos os pilotos do grid – e do mundo – é o seu senso de humor apurado e o carisma, o comportamento fora do cockpit.

Muito antes de sonhar com a pole na Indy 500, lá por 2007, Hinchcliffe fazia sucesso com vídeos no YouTube. Em gravações curtas, de cerca de três minutos, o garoto canadense projetava corridas e fazia rir com comentários engraçados e imitações impagáveis. 

 

Abaixo, Hinchcliffe dá seus palpites para o GP da Espanha de 2007 e aponta Kimi Räikkönen como favorito. Após seus comentários, simula como seria a entrevista coletiva vencedora do finlandês.
 

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Nove anos depois, Hinch segue bem longe de se parecer um robô como a grande maioria dos pilotos das principais categorias. O canadense já não é mais um garoto, mas manteve sua essência e sua aptidão para ter boas sacadas. Logo após cravar a pole neste domingo, por exemplo, Hinch brincou com a situação de Josef Newgarden que passou boa parte do treino em primeiro e foi perder justamente no último instante.

 

"Eu já perdi a pole duas vezes aqui por milésimos. Eu sinto muito por Josef – nem tanto assim, vai", disse em tom de brincadeira afinando a voz no fim.

 

Brincalhão e cheio de criatividade, James "fundou" alguns anos atrás a Hinchtown, cidade do Hinch no português. O canadense se autoplocamou prefeito e vira e mexe fala de sua cidade imaginária nas mídias sociais.

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Nas pistas, Hinch já viveu fases melhores. Após bons anos de Indy Lights e uma ótima temporada de estreia na Indy pela Newman/Haas, o canadense ganhou espaço na Andretti e era um potencial campeão da categoria. Com três anos medianos e apenas três vitórias, todas em 2013, incluindo aí nessa lista uma na antiga etapa de São Paulo, o canadense foi para a Schmidt Peterson.

 

Hinch até começou 2015 bem, venceu uma prova estranhíssima em Nova Orleans, mas seu ano obviamente será sempre lembrado pelo acidente fortíssimo antes das 500 Milhas de Indianápolis.

 

No meio de um festival de capotamentos nos treinos livres, Hinch foi a maior vítima, tendo a bacia perfurada, perdendo muito sangue e passando perto da morte. A recuperação foi extremamente lenta, mas também cheia de aparições em outros eventos da categoria e de momentos em que o bom humor prevaleceu. A foto com Will Power empurrando sua cadeira de rodas na saída do hospital é um exemplo.

 

Hinchcliffe, então, teve de lutar para voltar. Recuperar a forma, se readaptar ao carro, às pistas, à categoria. Teve duas provas ruins logo de cara e não se deixou abater. Do oitavo lugar em Long Beach para cá, o canadense só melhorou. Antes da pole para a Indy 500 teve até pódio no misto do IMS e, claro, muita emoção pela volta por cima.

 

Não é segredo para ninguém que o público não estava torcendo por uma série de voltas brilhantes de Hinch neste domingo. É claro, o pole seria Newgarden, a grande esperança norte-americana na Indy. Ainda assim, do jeito que foi, depois de tudo que passou, é difícil imaginar que alguém tenha ficado triste ou indiferente com o feito do canadense de 29 anos.

Hinch realmente completou sua volta por cima, provou que está melhor do que nunca e, tão ou mais importante: nunca deixou para trás seu espírito espontâneo e brincalhão. Bom dentro e fora das pistas, Hinchcliffe é para Indy o que Daniel Ricciardo é para a F1. É desse estilo que o automobilismo precisa cada vez mais. 

 

E o piloto não quer parar por aí. Questionado após a prova se saberia medir a importância da pole para o automobilismo canadense, Hinchcliffe respondeu totalmente ao seu estilo. "Não, mas vou ter muito tempo para pensar nisso quando eu me aposentar. Até lá, espero ainda ser alguma coisa".

 

Sim, o que ele quer ser é dono de Indianápolis no domingo que vem.

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