Na Garagem: Ribeiro vira primeiro brasileiro após Fittipaldi a vencer na Indy

Há 20 anos, André Ribeiro fazia história no oval de Loudon. O então novato na Indy, depois de ter largado na pole-position, venceu as 200 Milhas de New Hampshire e virou o primeiro brasileiro depois de Emerson Fittipaldi a triunfar na categoria. De quebra, deu à Honda e à equipe Tasman as respectivas primeiras vitórias na Indy

As 22 primeiras vitórias do Brasil na Indy vieram pelas mãos de Emerson Fittipaldi. Isso só mudou com o triunfo de André Ribeiro nas 200 Milhas de New Hampshire em 20 de agosto de 1995. O paulistano venceu a 14ª das 16 etapas do seu campeonato de estreia, no ano que antecedeu o rompimento entre Cart e IRL, no oval curto de Loudon, no nordeste dos Estados Unidos.

Ribeiro não teve uma carreira estelar no automobilismo: depois de três vice-campeonatos paulistas de kart entre 1986 e 1988, o menino André foi terceiro no campeonato brasileiro de F-Ford no ano seguinte. Em 1992 e 1993, o brasileiro disputou a tradicional F3 inglesa, faturando quatro pódios e a quinta posição na tabela ao fim do certame no segundo ano na terra da rainha.

Em 1994, Ribeiro cruzou o Atlântico para disputar a Indy Lights, categoria de acesso à Indy, maior campeonato de monopostos dos Estados Unidos. Apesar do começo de temporada vacilante, o brasileiro conseguiu quatro vitórias nas oito últimas etapas do campeonato, conquistando o vice-campeonato, atrás apenas do britânico Steve Robertson — que hoje é agente de Kimi Räikkönen.

Em seu melhor certame na carreira, ele ficou à frente de Greg Moore — o canadense seria uma das sensações da Cart nos anos seguintes até sua trágica morte, em 1999.

Com a boa temporada em 1994, André subiu para a Indy com a Tasman e conseguiu um contrato para disputar a temporada da Cart em 1995. Apesar de promissor, o conjunto não era muito confiável: Ribeiro abandonou 10 das 16 etapas daquele ano e finalizou apenas quatro das corridas na zona de pontuação.

André Ribeiro vencia em New Hampshire há 20 anos. E fazia história (Foto: Indycar)

Ribeiro subiu ao pódio em apenas uma dessas etapas, a 14ª corrida, disputada em New Hampshire. O oval de 1,058 milhas, inaugurado em 1990 e localizado em Loudon, também era conhecido pela alcunha de Magic Mille, a milha mágica.

O pacote da Tasman ainda carecia de desenvolvimento: Ribeiro foi o único a alinhar em New Hampshire com o conjunto formado por chassis Reynard, motor Honda e pneus Firestone. O desempenho do novato no fim de semana em Loudon foi uma enorme surpresa — o time ainda não tinha condições de competir com gigantes da categoria como Newman-Haas, Penske e Forsythe-Green, por exemplo.

Porém, o brasileiro superou as expectativas ao garantir a pole-position. A partir da posição de honra, André sempre andou entre os primeiros no oval curto naquele domingo. Teo Fabi tomou a ponta logo após a largada e liderou até a volta 42, com as 10 primeiras voltas ocorrendo em bandeira amarela. Michael Andretti liderou as 57 voltas seguintes e Ribeiro tomou a ponta na volta 100, metade da corrida.

A corrida foi atípica para os padrões da categoria à época, com a bandeira verde predominando durante 146 voltas seguidas (entre os giros 53 e 198). Com isso, a prova foi decidida na estratégia de pit-stops. Ribeiro assumiu a ponta entre as voltas 100 e 122 e deixou a liderança para ir aos boxes. Com a parada de Andretti, o brasileiro retomou a liderança na volta 128 e de lá não mais saiu até a bandeirada.

Com o acidente entre o brasileiro Marco Greco e o norte-americano Buddy Lazier, Ribeiro não poderia mais ser ultrapassado por Andretti.

Foi a primeira vitória de André Ribeiro e também a primeira vitória do motor Honda na Cart. A conquista representou o primeiro triunfo da equipe Tasman. Uma vitória que poderia ter vindo antes, nas 500 milhas de Indianápolis, com o canadense Scott Goodyear. O canadense liderava a mais tradicional de todas as corridas da Indy na última relargada, mas cometeu um erro clamoroso ao abrir demais e ultrapassar até mesmo o pace-car. Com a trapalhada, a vitória caiu no colo de outro canadense, Jacques Villeneuve.

Ribeiro foi o primeiro brasileiro a vencer na Indy depois de Emerson (Foto: Indycar)

Numa temporada polarizada entre Villenueve e o norte-americano Al Unser Jr. da Penske, o brasileiro terminou 1995 em 17º lugar dentre os 34 pilotos que pontuaram.

O ano de 1995 marcou a ‘invasão’ brasileira na Indy: além de Ribeiro, Christian Fittipaldi e Gil de Ferran se juntaram à armada tupiniquim formada por Emerson Fittipaldi, Maurício Gugelmin, Raul Boesel e Marco Greco na categoria norte-americana.

As transmissões do SBT ajudaram a popularizar a Indy em terras brasileiras no momento em que a F1, no ano após a morte de Ayrton Senna, estava em baixa.

Promissor, o conjunto Reynard-Honda-Firestone desenvolvido pela Tasman logo cairia nas graças da Indy e se tornaria dominante na categoria. Em 1996, Jimmy Vasser ganhou o título com essa mesma combinação correndo pela Ganassi. Alessandro Zanardi, seu companheiro na Ganassi, seria campeão em 1997 e 1998. Juan Pablo Montoya ganhou o título da categoria em 1999, também pela Ganassi. Gil de Ferran faturou o bicampeonato com a Penske em 2000 e 2001. Esse domínio só foi rompido em 2002, quando Cristiano da Matta faturou a taça pela hoje extinta Newman-Hass com um Lola-Toyota.

Ribeiro conquistou mais duas outras vitórias na categoria, em 1996: a histórica Rio 400, no saudoso autódromo de Jacarepaguá, e nas 500 Milhas de Michigan, ambos circuitos ovais. Depois de correr na Tasman até o fim de 1997, André assinou contrato para correr na equipe mais tradicional da Indy em 1998, a Penske. Mas sem contar com um pacote competitivo, o piloto ficou longe de mostrar um bom desempenho na temporada. Ao fim do ano, Ribeiro surpreendeu ao anunciar sua aposentadoria das pistas para tocar os negócios de Roger Penske no Brasil.

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