Coluna Rookie Text, Vitor Fazio: O peso de não ser campeão

Will Power passou por uma transformação para ser campeão da Indy, aprendendo a andar bem em ovais. E Helio Castroneves, vai conseguir se reinventar para conquistar o seu título? A cada dia que passa, fica mais difícil para ele

A Indy conheceu o campeão de 2014 na madrugada do último domingo. Will Power, ex-lamentação em ovais e ex-eterno vice, quebrou todos os paradigmas e, após uma temporada digna de aplausos, levou a taça sobre o veteraníssimo Helio Castroneves. Assim, os papeis se invertem: já é o quarto vice do brasileiro que, após quase vinte anos de automobilismo ianque, ainda não parece saber vencer campeonatos, apesar de todo o seu protagonismo.

Helio é um dos grandes nomes da Indy, isso não se discute. É um piloto estabelecido na mais ilustre equipe da categoria, a Penske, e constantemente briga por campeonatos. Claramente é um dos que estão acima da média, tanto que venceu a corrida mais famosa do mundo, as 500 milhas de Indianápolis, três vezes. Feito raríssimo. Mais do que um campeão do mundo como Emerson Fittipaldi conseguiu, por exemplo.

Mas parece que lhe falta algo mais. No longo prazo, o brasileiro não consegue manter sequências de pódios e vitórias. As últimas cinco provas de 2014 mostram isso, onde Helio não conseguiu um mísero top-10. No ano todo, apenas uma vitória, contra três de Power. Algo imperdoável para um piloto de ponta num campeonato com um total de dezoito etapas.

Castroneves vai conseguir se reinventar para enfim ser campeão? (Foto: Divulgação/IndyCar)

Não que Castroneves seja ruim. Longe disso. Dos brasileiros que não correram na F1, talvez seja o melhor de todos – o que não é pouco. Mas é inconstante, não consegue manter um bom desempenho ao longo de meses. É um problema difícil de contornar quando se disputa um campeonato com margem mínima de erro – mesmo chassis para todos, motores com rendimentos semelhantes. Ao contrário da F1, onde é muito difícil vencer as Red Bull e  as Mercedes, Penske e Ganassi não são tão imbatíveis assim. Um dia ruim significa ficar muito atrás dos outros, o que não ocorre na categoria europeia.

Certamente essa é uma parte importante dos problemas de Helio, mas não é só disso que se fez a derrota. Power fez um campeonato primoroso, melhor de sua já longa carreira nos Estados Unidos, conseguindo corrigir seus problemas crônicos em ovais e se mantendo um piloto excelente nos mistos. Fez o que precisava para passar a sina de vice ao companheiro de equipe e se transformar em um campeão.

Se um dia Helio vai passar pela mesma transformação e ganhar um campeonato? É um pergunta inevitável após mais um vice, o segundo em sequência. Teoricamente, a cada ano, suas chances diminuem: o paulista completa quarenta anos em 2015. Pouco a pouco, seus reflexos vão piorando, seu ritmo vai se perdendo, assim como os resultados. Ninguém escapa disso, essa lei vale para qualquer esportista desse mundo. E se o brasileiro já tinha problemas para manter ritmo aos trinta, o que esperar de um piloto quarentão?

Creio que Castroneves terá que se acostumar com o fato de não ser um campeão da Indy. Está ficando muito tarde para um certame tão competitivo. Mas o cenário não é tão ruim assim. Para os americanos, vencer as 500 Milhas é um feito mais reconhecido do que vencer o campeonato. É estranho, já que estamos falando de uma parte do todo, mas a tradição centenária de Indiana tem um peso imensurável.

Helio não perderá o sono por não vencer o campeonato, mas talvez tenha que lidar com um desconforto pessoal para o resto de sua vida. Como se tivesse dúvidas sobre ser tão bom quanto todos pensam, como se faltasse algo na sua carreira vitoriosa.

Bem, será pelo menos mais uma temporada inteira lidando com esse peso nas costas. Em 2015, quem sabe?

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