Coluna Indy Rocks, por Hugo Becker: Os prós e os contras de 2013

É sempre legal ver uma categoria se reinventar. Quando se tentam mudanças radicais, sempre saem bons resultados – ainda que, de cara, não pareçam tão bons. Nem tudo, no entanto, foi belo e supimpa no campeonato que se encerrou. A Indy precisa rever com urgência alguns conceitos que mais afastam do que agregam fãs dentro e fora da América

 
A temporada 2013 da Indy, encerrada no último sábado (19) com as longas 500 Milhas de Fontana, foi um tanto quanto confusa e alternou inúmeros altos e baixos, mas é inegável que foi, também, muito saborosa e repleta de fatos interessantes – muitos novos, alguns revisitados, outros tão repetitivos que nem surpreendem mais, mesmo marcando.
 
É sempre legal ver uma categoria se reinventar. Quando se tentam mudanças radicais, sempre saem bons resultados – ainda que, de cara, não pareçam tão bons. A conta é simples: o que for considerado acerto será mantido, e o que for visto como erro, eliminado. A nova administração da Indy fez apostas altas e inovadoras e, em um plano geral, a maior parte delas deu certo. São os casos das extenuantes porém decisivas rodadas duplas: duas delas modificaram por completo o campeonato de 2013. Em Toronto, com duas vitórias, Scott Dixon virou postulante a um título que parecia já destinado a Helio Castroneves. Três meses depois, em Houston, o brasileiro da Penske sofreu o primeiro e único revés na temporada e viu a taça escorrer pelos dedos rumo às mãos do rosáceo neozelandês da Ganassi, que no fim das contas, cravou o tricampeonato.
 
A única visita da Indy fora da América do Norte, em São Paulo, também foi um sucesso – desta vez, absoluto. A prova foi uma das mais memoráveis do ano e, em termos técnicos, provavelmente só perde para as 500 Milhas de Indianápolis: diferente de outros anos, foram disputadas milha a milha na base do raciocínio puro e da pilotagem soberba daqueles que estiveram na briga pela vitória até as voltas finais. O retorno de Pocono, com seu aspecto retrô e suas características totalmente particulares, também foi outra tacada certeira e rendeu um bom GP, culminando na única trifeta de 2013, com a Ganassi.
Etapa em SP foi um dos maiores acertos da Indy em 2013 (Foto: Carsten Horst/Fotoarena)
Entre os pilotos, como não achar legal o primeiro triunfo de um japonês na categoria, conquistado pelo carismático Takuma Sato em Long Beach? Como não achar um grande barato a consolidação de uma figura como o jovem James Hinchcliffe como um dos pilotos de ponta da Indy? Como negar a flagrante evolução de Simon Pagenaud como provável futuro campeão na América? E a estranha evolução de Will Power em ovais? E a outrora inconcebível regularidade de Marco Andretti, que pouco errou e muito acelerou nesta temporada? São todas novidades muito bem-vindas, sem exceção. O mesmo vale para as boas atuações dos sempre questionados Sébastien Bourdais e Justin Wilson, para o genial pódio de Simona de Silvestro na corrida 1 em Houston e para um pirralho Carlos Muñoz que, pelo que andou em Indianápolis e Fontana, deixou a impressão de que pode dar muito trabalho lá na frente, ao menos nas provas em circuitos ovais.
 
Por falar em Indianápolis, a primeira e sonhada vitória de Tony Kanaan por lá valeu muito mais do que a inscrição de seu graúdo focinho no Borg-Warner: eleito o piloto mais popular da série em 2013, o brasileiro assegurou, ao triunfar na Indy 500, o passaporte para um terceiro estágio em sua longa carreira, agora na Ganassi, atual campeã da categoria. O tricampeão Dixon e o amigo tetra Dario Franchitti certamente não terão paz.

Lado B

Nem tudo, no entanto, foi belo e supimpa no campeonato que se encerrou. A Indy precisa rever com urgência alguns conceitos que continuam mais afastando do que agregando fãs dentro e fora da América. A proposta das heat races em Iowa, por exemplo, não é de toda ruim, mas precisa ser melhor elaborada para facilitar o entendimento do público sem que seja necessário um manual de instruções ou um gráfico horrendo e confuso para explicá-la.

 
As constantes modificações de horários, porcamente anunciadas pelo Twitter, também precisam acabar, bem como as largadas paradas, que embora até sejam interessantes, não são uma característica da Indy. O mesmo vale para o uso de pistas urbanas medonhas e esburacadas como as de Baltimore e até mesmo Houston – local onde é mais viável realizar uma etapa do Mundial de Rali do que de qualquer categoria de monopostos. Os riscos são enormes, os acidentes se tornam frequentes e podem ser perigosos – Franchitti e o povo das arquibancadas do Reliant Park que o digam… – e a disputa acaba inevitavelmente nivelada por baixo, em uma categoria que não preza exatamente pelo alto nível técnico dos pilotos da maior parte do grid. 
 
Aliás, esta questão em si acaba se tornando algo curioso. Afinal, como explicar que até Charlie Kimball tenha vencido uma corrida em 2013? Ou mesmo o desempenho de Power, que foi destaque positivo por seu súbito bom rendimento em ovais mas também se tornou atração negativa nos mistos, com atuações caóticas como as de Toronto e Baltimore? Até Ryan Hunter-Reay teve momentos de pura barbeiragem no ano da defesa de seu primeiro título. Tristan Vautier acabou como o 'Rookie of the Year', mas pela excelente forma como apareceu na primeira metade da temporada, deixou bastante a desejar na metade final, com atuações apagadas e repletas de erros bobos, dignos de pilotos inábeis. E não há nada que justifique um piloto da Andretti como Ernesto Viso fechar o ano em 15º, sem nenhuma atuação digna de nota… O venezuelano pode acabar dançando para 2014.
 
E o que dizer de Castroneves? O brasileiro poderia aparecer na metade de cima do texto, é claro. Um vice-campeonato não é um resultado desprezível, longe disso. Sua pilotagem também não foi ruim ao longo do ano. O problema é que para quem pretendia ser campeão, faltou fibra e um pouco mais de raça. Helinho não perdeu o título ao dar o azar de arrebentar a suspensão e o câmbio em Houston, ou ao ter perdido uma volta em Fontana após trocar o bico danificado de sua Penske. A taça escapou em boa parte das 16 etapas anteriores, quando ele abriu mão de uma ultrapassagem a mais, de frear uns metros além do limite para ganhar mais décimos em uma volta rápida, quando preferiu cochilar na zona de conforto. Ninguém vence jogando pelo empate. Na retranca, o risco do gol é sempre iminente. Castroneves tomou o gol da virada aos 45 minutos do segundo tempo e mandou o time inteiro para o ataque nos acréscimos do juiz. Aí, meu amigo, não tem milagre. Prova disso é que Power, companheiro de equipe do cara que mais uma vez liderou praticamente todo o campeonato, fechou o ano com mais vitórias e mais poles que o brasileiro. No frigir dos ovos, como diria a saudosa tia Nena, Dixon mereceu muito mais o título, porque jogou para ganhar. Ficou o preço alto pela omissão de sempre. 
 
Em suma, foi uma ótima temporada. E em 2014, com o novo calendário, mais compacto, com Chevrolet e Honda construindo as carcaças dos carros de suas equipes-cliente e provocando um cenário de independência aerodinâmica entre elas, com a volta de Juan Pablo Montoya depois de anos no Medida Certa fora da categoria, a estreia de Kanaan na Ganassi e o provável crescimento de caras como Hinchcliffe e Pagenaud, o campeonato deve ser ainda melhor, mais disputado e mais equilibrado, com muito mais emoção.
 
Faltam cinco meses e oito dias. Não torcemos por ninguém, mas contamos juntos.

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