Coluna Indy Rocks, por Hugo Becker: No caminho certo para um novo auge

Categoria norte-americana vem se reinventando desde 2008, mas parece ter encontrado o ponto ideal para, enfim, voltar a ser o que era no início dos anos 90: uma concorrente à altura da F1. Falta um ídolo, mas Hinchcliffe tem todas as credenciais para ser um 'herói'

 
Confesso que nunca havia nutrido grande simpatia pela Indy.

Sou parte de uma geração que nasceu e cresceu no período mais próspero da história do Brasil na F1 – algo que, como se sabe, fez a categoria europeia se tornar febre por aqui.

 
Como quase todo garoto dos anos 80, a primeira coisa que quis ser na vida foi piloto. Meu pai me acordava cedo, ou mesmo de madrugada, para ver as corridas. Não perdia uma.
 
A Indy veio através do meu avô.

A primeira lembrança que tenho na memória é de uma tarde qualquer de domingo, depois do ritual clássico do almoço em família. Estávamos reunidos na sala, quando meu avô me deu uma enorme miniatura de um monoposto branco e vermelho, patrocinado pela mesma marca de cigarros que, na época, também bancava a McLaren.

 
Mas aquilo não era uma McLaren. O formato do carro era diferente, alguns patrocinadores também, e o número do carro era o 20. Ninguém na McLaren usava o #20 em 1989.
 
Fiquei um pouco frustrado, aquilo me parecia uma imitação barata. Mas antes que eu perguntasse qualquer coisa, meu velho avô ligou a TV da sala, uma Philco-Hitachi revestida com madeira e com botões de metal, com canais do 2 ao 13, das populares emissoras em VHF. Se você tem menos de 20 anos, talvez não saiba o que é VHF, nem o trabalho que dá arrumar a antena no telhado.

Enfim.
 
Estava passando uma corrida com a tal 'réplica' da McLaren, e o número 20 estava lá, e estava indo bem. 
 
Parecia F1, mas não era. Eles corriam em círculos, achei sem graça, mas os carros eram bonitos e coloridos. E, no fim das contas, o tal do carro #20 que, na minha mente, imitava o carro sennístico e prostístico, ganhou. 
 
O narrador estava empolgado, tal qual costumava ser o tal do cara que narrava, no 'cinco', as corridas que eu realmente gostava de assistirMeu avô também sorria de leve por baixo de seu saudoso bigodão grisalho. Concluí devia ser mesmo uma vitória importante. 
 
O presente dado horas antes passou a ter significado.
 
Não sei onde foi parar minha miniatura da Penske, e, depois da vitória de Emerson Fittipaldi nas 500 Milhas de Indianápolis de 1989, durante muitos anos, também não sabia onde tinha ido parar aquela Indy que eu havia aprendido a gostar. 
 
A Indy de Emmo, Mansell, Al Unser Jr., Bobby Rahal, Michael Andretti…
 
O torneio cresceu demais no começo dos anos 90, chegou a fazer frente à F1 em importância e audiência e ganhou ares de campeonato mundial. Mas a cisão entre Cart e IRL , anunciada no fim de 1995, interrompeu o avanço da categoria, que perdeu espaço até dentro de seu território, sendo superada em relevância pela Nascar.
 
A Indy voltou a ser uma só apenas em 2008. Foram 12 anos de inferno astral. Pode-se dizer com segurança, portanto, que o que vimos até 1995 começou totalmente do zero há apenas cinco anos. O conceito é o mesmo, mas a categoria ainda é nova demais.
 
É consenso que a maior parte dos fãs da Indy é formada por pessoas que acompanharam a primeira fase, interrompida há distantes 18 anos. Portanto, ainda há pelo menos três gerações a serem conquistadas.
 
Mas é gratificante perceber que tudo se encaminha para isso, cada vez mais. A categoria, hoje, conta com carros de verdade, guiados por pilotos de verdade, construídos e trabalhados por gente de verdade. Mecânicos de bermudão e camiseta, boxes abertos, pilotos acessíveis, circulando numa boa entre fãs e jornalistas, sem nenhum tipo de afetação. Quase igual na F1, só que não.
 
Desde 2008, o que ainda faltava à Indy, na verdade, era: 1) um calendário menos centralizado nos EUA e mais próximo de um mundial de verdade; 2) corridas boas – e com "corridas boas", me refiro à GPs onde há disputas em alto nível de pilotagem; e 3) um ídolo nato, com carisma e talento acima da média.
 
A primeira parte ainda precisa de ajustes, já que São Paulo e Toronto continuam sendo as únicas cidades fora do território estadunidense a participarem do calendário. 
 
Em relação à segunda parte, as quatro primeiras provas deste ano não deixam dúvidas de que o nível mudou: ao menos três destas etapas foram sensacionais, com a SP Indy 300 sendo um verdadeiro thriller, de tirar o fôlego e entrar para a história.
 
O terceiro e mais importante item, porém, ainda está em aberto. Mas creio que seja por pouco tempo. Há, desde 2012, um certo canadense meio xarope que honra a linhagem dos pilotos de seu país – em talento e personalidade –, e que tem tudo o que é preciso para ser um herói da categoria.

É preciso lapidar Hinchcliffe, mas não falta tanto assim. E já são duas vitórias em 2013.

 
A Indy, em resumo, está no caminho certo. E é preciso admitir: americanos sabem fazer corridas e entretenimento como poucos. 
 
Tenho razões para crer que estamos vendo o início de uma nova era na Indy. O futuro dirá.

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