Coluna Indy Rocks, por Hugo Becker: A Mansell o que é de Mansell

Oras, sejamos justos. O cara foi muito mais do que um bobão atrapalhado que ganhou títulos com carros insuperáveis, tanto na F1 quanto na Indy. Senna e Schumacher também fizeram isso. A história do 'Leão' é fantástica e seu talento, idem. Esportes, heróis, vitórias e títulos não existem só para compor rankings. Existem para compor o imaginário popular.

 
Muitos fãs de automobilismo subestimam a história e o talento de Nigel Mansell. Britânico da pequena Upton-upon-Severn, Worcestershire (Inglaterra), o velho e malemolente ex-bigode conseguiu façanhas incríveis como ser campeão da F1 em 1992 e, no ano seguinte, conquistar o título da Indy, precisando de apenas duas temporadas para unificar a coroa das duas principais categorias de monopostos do planeta.
 
Na competição europeia, foram 31 vitórias, 32 pole-positions e 59 pódios em 187 largadas. Já nos EUA, o 'Leão' triunfou em cinco oportunidades, largou na posição de honra do grid em dez e chegou no top-3 por 13 vezes em apenas 31 participações.
 
Mesmo assim, há quem insista em contestar seu talento e sua história. Por quê?
 
Nigel não era, de fato, um piloto que primava pelo apuro técnico e pela capacidade de leitura de uma corrida. Não era cerebral e nem tinha, também, muito preparo no momento de resistir a pressões emocionais – principalmente as que ele mesmo se impunha. No entanto, foi um dos pilotos mais rápidos que o automobilismo já viu, em termos de velocidade absoluta, e também um dos mais corajosos e arrojados.
 
Tinha, acima de tudo, um dom que é inerente ao talento para a pilotagem: a rapidez de adaptação. Em um primeiro momento, isso é extremamente necessário para que o tempo de resposta seja o menor possível em uma equipe ou até mesmo em uma categoria.
 
Esta característica contribuiu muito para que o inglês, que estreou na F1 em 1980, vencesse por quase todas as equipes pelas quais passou enquanto esteve lá. Triunfou em 1985, em seu primeiro ano de Williams – onde correu por pelo menos sete temporadas –, e venceu também pela Ferrari em 1988, logo no primeiro campeonato após sua transferência para o time italiano, do qual foi enxotado ao fim de 1990.
 
Em 1991, Mansell retornou à esquadra de Sir Frank Williams e venceu cinco provas na metade final do ano, ficando com o vice-campeonato. 1992, enfim, coroou seu talento com um título mundial que foi fruto de um carro projetado sobretudo para suas habilidades: velocíssimo, multifacetado e que se adaptava com perfeição aos excessos do 'Red Five'. Foram impressionantes nove vitórias, nove poles e 13 pódios em 16 etapas. O FW14B-Renault era perfeito, mas Nigel soube ser imbatível nele.
 
No ano de 1993, dispensado pela equipe de Grove, o 'Leão' desembarcou na América logo no cockpit da Newman-Haas, principal rival da Penske na época. Substituiria Michael Andretti, um dos maiores ídolos da história da Indy. O cenário poderia ser de pressão e fracasso iminente, mas o inglês inaugurou o "só que não" e fez o que sabia: acelerou.
 
Em uma categoria com menor exigência técnica e onde os resultados dependem muito  mais da pilotagem em si, Mansell destoou. Sem a menor cerimônia, enfiou seu bigode british-brown no meio do povo yes-sir e fez pole e vitória logo em sua primeira corrida. Nada menos que assombroso. 
 
Em Phoenix, seu primeiro oval, sofreu uma panca em um dos treinos livres logo após ter estabelecido o novo recorde da pista. Ficou de fora da prova e só retornou em Long Beach, onde voltou a ser pole e ficou em terceiro – mesma posição de chegada de Nigel em Indianápolis, este sim, seu primeiro GP completo em um superspeedway.
 
Seus resultados foram incontestáveis. Considerando que o britânico perdeu uma das corridas da temporada, foram incríveis cinco vitórias – quatro em ovais! –, sete poles e espetaculares sete pódios em 15 largadas. O título veio em cima da maior estrela da franquia naquela época: Emerson Fittipaldi.
 
Em 1994, Mansell seguiu na Indy, agora como o campeão a ser batido. Mas os bons resultados rarearam. Apesar das três poles, foram apenas três pódios e nenhuma vitória. O oitavo lugar no campeonato vencido por Al Unser Jr. não foi de todo ruim, mas a aventura estadunidense do britânico estava encerrada. 
 
Um novo convite de Sir Frank Williams – aquele mesmo que, dois anos antes, havia lhe dado uma chinela no bigode após o título da F1 – seduziu Nigel, que retornava, então, 'para casa'.
 
Mesmo como piloto-tampão – já havia antes participado do GP da França, entre as etapas de Cleveland e Toronto da Indy –, o agora 'Red Two', guiando o carro #2 deixado por Ayrton Senna após sua morte em Ímola e muito mal aproveitado pelo substituto David Coulthard , conseguiu ainda mais uma pole e mais uma vitória, em Adelaide, na Austrália.
 
Naquele fim de semana, no entanto, o mundo se preocupava mais com a decisão do título entre Damon Hill e Michael Schumacher do que com a 'coadjuvância' do derradeiro triunfo de Nigel e do fim definitivo de seu ciclo de glórias no automobilismo.
 
Por tudo o que foi relatado aqui, refaço a pergunta do começo do texto.
 
Por que ainda contestam sua história? Por ele só ter obtido títulos em carros considerados imbatíveis, tanto na F1 quanto na Indy? E por acaso, Senna e Schumacher foram campeões com carros medianos ou ruins? Que eu me lembre, não.
 
Oras, sejamos justos. A Mansell o que é de Mansell. O cara foi muito mais do que um bobão atrapalhado que ganhou títulos com carros insuperáveis. Foi um dos gigantes do automobilismo que tanto amamos. Sua história é fantástica e seu talento, idem.
 
Esportes, heróis, vitórias e títulos não existem só para compor rankings. Existem, principalmente, para compor o imaginário popular. 
 
Portanto, respeitem e relembrem sempre o 'Leão'.

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