Quanto a F1 realmente precisa voltar ao passado? A resposta está nesta década

Muito se diz que a F1 precisa voltar ao passado para recuperar a emoção e a competitividade, o que consequentemente acabaria com as críticas e faria os fãs se apaixonarem novamente pela categoria. OK, ninguém aqui é tolo para pensar que o Mundial vive um ótimo momento. Mas o passado ao qual ele precisa voltar está nesta mesma década

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A F1 precisa voltar ao passado. Antigamente que era bom. As corridas hoje são chatas. Só uma equipe ganha. O campeonato não tem graça nenhuma. A F1 precisa voltar ao passado. E por aí vai.

 
São muitas as críticas feitas ao atual momento do Mundial de F1, e é preciso concordar que a categoria não vive em 2015 os seus dias mais gloriosos. O resgate de elementos do passado é um dos anseios que mais se nota nas opiniões de quem gostaria de ver o Mundial revivendo os anos dourados das décadas de 1970 e 1980, principalmente.
 
Mas é este realmente o caminho a ser seguido? Ou melhor: se simplesmente o passado tão louvado das décadas de 1970 e 1980 fosse trazido de volta, as corridas continuariam imunes às críticas que são feitas pelas cabeças de hoje?
 
Este é um bom exercício que o leitor pode fazer para chegar a uma conclusão.

E o modelo que acredito que deve ser tomado como exemplo é bem mais recente. Mora nesta mesma década.

Este grupo de pilotos nos propiciou um campeonato excelente há apenas três anos (Foto: Red Bull/Getty Images)
Deixemos o foco em cima das corridas, não é de bastidores que quero falar. Reclama-se do domínio da Mercedes, do campeonato que está centrado em dois pilotos, das provas pouco movimentadas. Mais recentemente, os pneus se tornaram alvo da discussão. São ruins, não deixam os pilotos atacar. O consumo de combustível também obriga a levantar o pé para que seja possível alcançar o final da prova. Fora que os carros são lentos, fáceis de guiar e não fazem barulho. 
 
Quando Felipe Massa falou, na semana passada, que a F1 do tempo de Ayrton Senna “era muito pior do que é hoje”, ele pode ter exagerado no “muito”, porém não deixa de estar certo. E ele citou alguns aspectos hoje criticados, mas que eram realidade no fim dos anos 1980: “A diferença na classificação era de 1s5 para o terceiro, o terceiro levava volta toda corrida. Então a diferença era muito maior do que é hoje. Mas, quando você fala com as pessoas, todo mundo diz que o passado é incrível”.
 
Números: em 2014, a Mercedes quebrou o recorde de vitórias de uma equipe em uma mesma temporada ao vencer 16 de 19. A marca anterior pertencia à McLaren de Senna e Alain Prost, com 15 de 16 taças de primeiro lugar em 1988. A diferença entre Senna e Prost na classificação para o GP de Mônaco daquele ano foi de 1s4, e Gerhard Berger, terceiro com a Ferrari, foi 1s2 mais lento que o francês.
 
Às corridas em si. Com poucas voltas de GP da Áustria, no último fim de semana, já se reclamava da falta de emoção. Ora, não é toda corrida que vai ser inesquecível, mas esta foi realmente ruim? Líder do campeonato perseguindo o vice-líder, um forte acidente envolvendo dois campeões mundiais, Valtteri Bottas fazendo boas ultrapassagens para chegar em quinto, manobras fora da zona do DRS, Massa se defendendo do tetracampeão Sebastian Vettel até o último metro para garantir o pódio. Em um circuito ótimo, apesar de curto, no qual os pilotos tiveram enorme dificuldade para acertar as voltas do início ao fim durante os três dias, e depois de uma batalha bem boa pela pole-position no sábado.
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Foi histórico o duelo entre Prost e Senna em 1989, e o peso dos personagens torna aquela batalha uma das maiores de todos os tempos. Mas com os olhos de quem quer se divertir vendo uma corrida, a briga entre Hamilton e Rosberg na mesma Suzuka, debaixo de chuva torrencial, foi muito pior? Ou é a torcida que fala mais alto? (Fotos: Getty Images)
Mas “no tempo do Senna” que tudo era bom, claro. Em 1988, a primeira vez que Senna e Prost duelaram frente a frente pela vitória foi no GP do Canadá, a quinta corrida. Alguns pegas foram memoráveis, é verdade, como no GP da Hungria. Ou, no ano seguinte, no GP do Japão: uma perseguição feroz até que houve o toque mais polêmico de todos os tempos.
 
Claro que Hamilton e Rosberg não são exatamente Senna e Prost, nem têm uma rivalidade tão acirrada quanto aquela, mas as disputas deles em corridas como a do Bahrein, de Mônaco, do Japão ou dos Estados Unidos em 2014 perdem tanto assim em termos de qualidade? O show por eles protagonizado foi de fato inferior? Eu não acredito nisso.
 
Outros dados mostram como a desigualdade também era enorme no grid daquela fase da F1: Senna largou para 161 GPs entre 1984 e 1994. Apenas um deles terminou com ao menos dez pilotos na mesma volta do líder, o GP da Austrália de 1991, que durou apenas 14 giros. Ou, citando a emoção e o equilíbrio dos campeonatos, podemos lembrar que, entre 1987 e 1993, nenhuma temporada foi decidida na última corrida.

Dia desses, Nico Rosberg ainda falou algo bem interessante do consumo de combustível: "O artifício do 'lift and coast' é a forma mais eficiente de poupar energia. Era feito nos anos 1980. Eu lembro do meu pai fazendo isso quando corria com Alain Prost na McLaren, eles tinham de poupar gasolina porque todo mundo ficava sem durante as corridas. Então nada mudou desde então, apenas se tornou mais profissional, mais apurado e mais detalhado". (Na mesma época, Senna reclamava horrores do beberrão V6 turbo da Lotus Renault…). E Lewis Hamilton corroborou dizendo que é mais fácil dar uma volta voadora do que saber economizar combustível.

 
Enfim.
Você lembra por que viu esta cena? Foi porque Senna ficou sem gasolina na última volta (Foto: Getty Images)
Se esta foi a sua impressão até aqui, não: o objetivo deste texto não é encher de críticas a F1 “do tempo do Senna”. Embora não tenha vivido a F1 daquela época, sou um grande fã, de verdade, Já vi e revi muitas corridas, e algumas disputas eram excelentes. Senna, Prost, Mansell, Piquet, Lauda, Schumacher, todos pilotos fora de série. Mais Berger, Rosberg, Boutsen, Capelli e seus shows, Nannini, e por aí vai.
 
Concordo que é preciso mudar o regulamento e tornar os carros mais atraentes para o público em geral. Está evidente que há um enorme interesse nisso.
 
Mas não é voltar à década de 1980 que vai fazer a F1 ficar interessante outra vez, tampouco promover outra guerra de pneus ou fazer carros “mais perigosos” ou “fisicamente exigentes”. Fernando Alonso disse há pouco tempo que não se sente fisicamente desafiado na F1 desde 2004. Kimi Räikkönen já deve ter repensado sua afirmação depois do acidente do último domingo, e convenhamos que é mais interessante ter pilotos inteiros no fim da prova dando 100% de si do que perdendo ritmo porque estão cansados. 
 
O romantismo da década de 1970 e o ouro dos anos 80 ficaram para trás. A F1 deveria mesmo é trazer de volta o que se viu em 2012. Sim, 2012. Um passado que mora na mesma década que nós, do presente.
 
Foi um campeonato que começou com sete pilotos e cinco equipes vencendo nas sete primeiras corridas do ano e viu disparar na liderança um Fernando Alonso em uma Ferrari muito inferior. Teve Mark Webber, Lewis Hamilton e Sebastian Vettel surgindo em diferentes momentos como os principais concorrentes do espanhol. Hamilton poderia muito bem ter sido campeão, mas a rápida McLaren quebrava com frequência, e assim Seb emendou quatro vitórias seguidas para se colocar no jogo outra vez. Pastor Maldonado venceu uma vez e a Sauber pegou quatro pódios!
 
Tudo foi coroado com uma final espetacular – com todas as letras – no GP do Brasil, em Interlagos, que terminaria com um novo tricampeão do mundo.
Em uma corrida espetacular, Schumacher passou o trono da F1 para Vettel no fim de 2012 (Foto: Getty Images)
“Ah, mas os pilotos não eram bons como Lauda, Senna, Prost, Piquet, Mansell e cia.”. Isso é uma asneira enorme. Seis campeões disputaram a temporada 2012: Vettel, Alonso, Hamilton, Kimi Räikkönen, Jenson Button e Michael Schumacher.
 
Os pneus Pirelli, hoje chamados de “ruins”, contribuíram muito para o equilíbrio do campeonato, como também iam fazendo no início de 2013 – até uma crise envolvendo a segurança estourar e levar a mudanças que deixaram os compostos mais duradouros e previsíveis. Não foi coincidência que, há dois anos, Vettel emendou aquelas nove vitórias depois que a borracha mudou no meio do ano.

Que se dê um jeito nos motores e no visual dos carros de uma forma inteligente para dar um jeito, principalmente, nos custos. O grid está magro e não dá para se dar ao luxo de perder mais equipes.

 
A F1 precisa mudar para voltar a viver tempos gloriosos. Só não é preciso voltar tanto assim para encontrar um ótimo campeonato no qual se espelhar. E se nada, mas nada do que está acontecendo dentro da pista neste ano lhe interessa, talvez seja necessário repensar seu interesse nas corridas.

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Posted by Grande Prêmio on Quarta, 24 de junho de 2015

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