Opinião GP: Volta do México ao Mundial tira F1 do artificialismo e resgata catarse popular. Como numa partida de futebol

Há tempos a F1 não presenciava tamanha vibração nas arquibancadas de uma prova do Mundial. Pois o retorno do GP do México ao calendário trouxe de volta uma atmosfera incrível nas dependências do Autódromo Hermanos Rodríguez, comparável ao que se viu no Brasil nos bons tempos com Ayrton Senna, Rubens Barrichello e Felipe Massa. Mas a paixão do povo mexicano pela F1 proporcionou algo além de um clima parecido como o de um jogo de futebol: devolveu um pouco de alma ao esporte

 
DEPOIS DE MAIS DE DUAS DÉCADAS de espera, o GP do México finalmente voltou em grande estilo ao Mundial de F1. E já é possível dizer que o regresso da prova fez um bem danado à categoria. Resgatou um apelo popular poucas vezes visto no esporte, ainda mais em tempos em que Bernie Ecclestone busca levar seu ‘brinquedinho’ a países milionários, mas sem o menor apelo e carregados de artificialismos, como Rússia, Bahrein, Cingapura ou mesmo a cidade de Abu Dhabi. O México, como o Brasil e a Itália, exala paixão pelo esporte. Paixão esta que ficou ainda mais latente com a presença de um conterrâneo no grid: Sergio Pérez. Foi a pimenta mexicana que faltava para o enorme público local explodir em catarse e saudar o retorno da F1, que retribuiu e mergulhou de vez na cultura asteca ao longo de toda a semana.
 
Foi sensacional ver, desde o começo da semana, pilotos e equipes envolvidos de forma intensa com o México. Muitos estavam ali pela primeira vez. Então foi a grande chance de desfrutar não apenas da interessante e apimentada culinária local, mas principalmente de curtir cada momento em um país de costumes bem peculiares e distintos ao que a maioria do grid da F1 está acostumada. A imagem de Lewis Hamilton participando de uma mini ‘lucha libre’, ainda que promovida pela Puma, patrocinadora da Mercedes, é dessas que ficará por um bom tempo na mente dos fãs do piloto e da própria F1. O próprio Lewis demonstrou que gostou demais do México ao posar, sempre que podia, com um sombrero. Sobrou até mesmo para seu cachorro de estimação, Roscoe. 
O GP do México teve um ótimo público em todo o fim de semana (Foto: Getty Images)
Envolvidos pela euforia e fanatismo do público mexicano, ávido por ver novamente a F1 acelerando no Hermanos Rodríguez, os pilotos procuraram retribuir de forma recíproca a tamanha torcida apaixonada. Muitos tiraram fotos com máscaras de ‘lucha libre’, uma grande atração local. Outros se dividiram entre tacos, fajitas e burritos nos restaurantes da Cidade do México. E Nigel Mansell, último vencedor do GP do México antes deste hiato de 23 anos até 2015, chegou a cantar com os mariachis em evento que visou integrar a F1 e os fãs do esporte às vésperas da corrida.
 
O cenário era propício para a realização de um grande espetáculo no fim de semana, quando os carros finalmente voltaram a acelerar no Hermanos Rodríguez, desta vez sem a lendária curva Peraltada, mas com um trecho que, se não acrescenta nada do ponto de vista técnico, ao menos traz o fã para bem perto das máquinas. Foi uma sacada genial adaptar as arquibancadas do antigo Foro del Sol, o estádio de beisebol localizado na parte interna do circuito. Já era uma solução adotada nos tempos em que o circuito recebeu a Indy (CART), no começo dos anos 2000, mas tudo passou a ter um impacto muito maior com a volta do México à F1.
Sergio Perez foi um dos responsáveis por atrair milhares de pessoas ao Hermanos Rodríguez no fim de semana (Foto: Toro Rosso)
E melhor ainda foi a decisão dos organizadores do GP do México em posicionar o pódio não próximo aos boxes, como costuma ser nas outras pistas do calendário, e sim justamente em frente ao estádio, aproximando ainda mais os pilotos ao público. Outro baita acerto.
 
Tudo isso acabou por proporcionar uma atmosfera marcante que ganhou intensidade ao longo de cada dia do fim de semana. Na sexta-feira, tudo foi um pouco novidade para o público local, outrora acostumado a ver a F1 apenas pela televisão ou em exibições esporádicas na Capital Federal. Mesmo com a chuva que ia e vinha, o público foi excelente para uma sexta-feira: 90 mil pessoas, como informa os promotores do Hermanos Rodríguez. Em um dia em que costumeiramente a F1 não costuma reunir muitos espectadores, era um sucesso e tanto.
Lewis Hamilton viveu noite de gladiador de telecatch na Arena México no começo da semana (Foto: Reuters)
Sem chuva e diante da abertura de um fim de semana prolongado, o sábado, dia do terceiro treino livre e da sessão classificatória, teve um público ainda melhor, digno de final de Copa do Mundo: nada menos que 111 mil torcedores lotaram as dependências do circuito. Mas cabia mais, e o melhor estava reservado para o domingo.
 
A longa espera pela realização de uma corrida de F1 no México finalmente teve fim no domingo, dia que mostrou o quanto o mexicano abraçou novamente a categoria. Desde que Sergio Pérez voltou a colocar novamente o país no grid, em 2011, o desejo local por uma corrida do Mundial aumentava a cada instante. No começo, chegou-se até mesmo a cogitar uma prova nas ruas de Cancún, mas não havia outro lugar que não o Hermanos Rodríguez, no coração do México, para trazer de volta toda a essência da F1 de volta ao país. E graças ao relativo sucesso de ‘Checo’ e, principalmente, ao impulso financeiro do bilionário Carlos Slim e do apoio de Bernie Ecclestone, finalmente a espera terminou. Era o sonho que virava realidade.
 
Com direito à torcida cantando efusivamente o Hino Nacional Mexicano e um bandeirão digno de estádio de futebol nas arquibancadas, a atmosfera para a corrida estava formada. A prova em si não foi lá grandes coisas, é verdade — valeu mais por ver Nico Rosberg voltar a vencer e tentar resgatar o respeito perdido na F1 com as seguidas derrotas para Hamilton —, mas chamou a atenção ver tantos pilotos falando sobre suas impressões a respeito do que viram no fim de semana.
O 'mexicano' Rosberg comemorou a vitória no "melhor pódio do ano" (Foto: Getty Images)
Tricampeão mundial de F1, Hamilton disse que jamais havia visto algo parecido antes em toda a carreira, comparando o ambiente ao de um jogo de futebol. Rosberg foi além e disse que o pódio do GP do México foi o melhor do ano, não apenas pela sua vitória em si, mas também por toda a energia compartilhada com a multidão à sua frente no estádio. Toto Wolff, diretor-esportivo da Mercedes, endossou a opinião dos seus pilotos e destacou o ambiente visto no México: "Provavelmente, o melhor que eu já vi". Definitivamente, trazer de volta o México ao calendário foi um grande acerto da F1, como se comprova nos números deste domingo, quando nada menos que 134.850 espectadores acompanharam a prova, totalizando 335.850 em todo o fim de semana.
 
O desfecho do GP do México serve como alento ao fã da F1 cansado de acompanhar uma enormidade de corridas recentes realizadas em arenas suntuosas como em Xangai, Yeongam, Nova Délhi e mesmo em Abu Dhabi ou Cingapura. Muito luxo, mas pouca alma. 
 
E a volta do México ao Mundial finalmente trouxe um pouco daquilo que a F1 precisava: menos artificialismo e um pouco mais de alma.
VIU ESSA? HAMILTON SOBE NO RINGUE E VIRA LUTADOR NO MÉXICO

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