Opinião GP: Ferrari ousa se trouxer Räikkönen de volta e deixa Massa com um único caminho na F1

Monza, após o GP da Itália deste domingo (8), ferveu em especulações sobre o futuro de Felipe Massa e de Kimi Räikkönen. Dois importantes meios de comunicação da Alemanha já dão como certa contratação do finlandês para 2014, que, se for confirmada, revela uma rara ousadia por parte da Ferrari. Massa, por outro lado, tem na Lotus seu único caminho de permanecer na F1

PARA OS IMPORTANTES EFEITOS, o GP da Itália foi uma nulidade. Como Sebastian Vettel havia jogado a pá de cal no campeonato, sua nova vitória – surpreendente para o próprio e para a Red Bull que não via seu carro bem moldado à característica única de Monza – serviu para que dois oponentes arremessarem oficialmente a toalha longe, Lewis Hamilton e Kimi Räikkönen, e ainda não tirou as esperanças do terceiro, Fernando Alonso, porque a leitura dos livros samurais e de auto-ajuda não lhe permitem desistir até que haja uma chance. E pelo que indicam fortes informações, não mudaria a cabeça da Ferrari em tirar Felipe Massa de seu quadro de titulares para 2014 nem se tivesse vencido.

Face ao que vinha apresentando nas últimas corridas, Massa teve neste domingo um desempenho digno. Largou bem, como de costume, passou Nico Hülkenberg e Mark Webber sem muitos problemas e quase dividiu a freada da chicane com Vettel para tentar atrapalhá-lo e/ou ajudar seu companheiro. Logo abriu passagem para Alonso, seguiu ali de perto e só nos boxes perdeu a terceira colocação e o lugar naquele que poderia ter sido seu último pódio diante dos tifosi. Horas depois, dois meios de comunicação alemães asseguraram que a Ferrari já estava fechada com Räikkönen para o ano que vem. A RTL disse na TV e em seu site que o contrato foi assinado na quarta-feira. A revista ‘Auto Motor und Sport’ também confirmou o acordo e revelou que Massa vai saber da história numa reunião com a cúpula do time daqui dois dias.

Nas primeiras horas desta segunda no horário europeu, a revista 'Der Spiegel' juntou-se às colegas alemãs e não só corroborou a informação como deu dois detalhes adicionais: o de que a volta de Räikkönen representa uma "medida educativa" aplicada por Luca di Montezemolo sobre Alonso, cujo empresário foi negociar com a Red Bull abertamente em meio às atividades do GP da Hungria, no fim de julho; e o de que a Shell, patrocinadora da Ferrari, topou bancar o salário de Kimi, avaliado em € 20 milhões.

Felipe Massa conversa com o chefe Stefano Domenicali durante os treinos em Monza (Foto: Getty Images)

Se assim for, não é das coisas eticamente mais corretas de se fazer. Não está em questão, aqui, a qualidade de Massa ou o serviço que tem prestado, mas não é honroso Stefano Domenicali, Luca di Montezemolo ou qualquer cacique sair falando aos quatro cantos que nenhuma decisão foi tomada e que só depois do tal encontro é que há de vir uma definição. Felipe é da casa desde que entrou na F1, basicamente, e deixou de ser ‘terceirizado’ em 2006. Fez bem o seu papel no seu primeiro ano de F1, ganhou duas vezes no Brasil, disputou um título e chegou a ser campeão por segundos, arrebentou-se por causa daquela mola na cabeça, voltou, muitos dizem que não voltou o mesmo, mas nunca foi um mau funcionário. Vestiu a camisa vermelha como poucos. Merecia mais respeito.

Agora, no âmbito esportivo, exibe um cenário inimaginável. Com alguma precaução, o empresário de Felipe já deve ter feito seus contatos ali fora. A vaga óbvia que se abre é a da Lotus – e parece ser a única que satisfaça um Massa que já declarou não ter interesse em andar em equipe mediana ou que preencha grid. Para tal, passaria pelo mesmo calvário que Rubens Barrichello enfrentou em seus últimos anos nos monopostos, também considerando a Indy: o de levar patrocínio. A Lotus, mesmo com esse fundo árabe, está com um chapéu na mão e o pires na outra. O que poderia salvá-la seria a volta da Renault, fato que tem sido estudado. A Renault na parada poderia ajudar Felipe por um grande fator: o mercado brasileiro é de suma importância para a montadora, que é presidida por um compatriota. Do contrário, Massa iria à luta longe de ser favorito ao cockpit.

Porque é óbvio que, se assim for, Hülkenberg vem com toda a força do mundo. O problema de Hülk, no entanto, seria o mesmo de Massa: chegar sem o dinheiro da gorjeta. Se retirar o fator financeiro, Nico ganha. É seis anos mais jovem, tem um talento que salta aos olhos e está sempre na ascendente. Casa bem com o projeto da Lotus. Nada impede, também, que Hülk e Massa sejam companheiros. Resta saber o que vão fazer de Romain Grosjean, outro que teima em dizer a que veio.

Voltando à Ferrari, se confirmada, ter uma dupla entre Räikkönen e Alonso espanta pela ousadia. É certo e sabido o quanto a equipe prezou ter um #1 e um #2 declarado desde os tempos de Michael Schumacher. Da mesma forma, a equipe acompanhou como foi colocar alguém de mesmíssima qualidade como companheiro do espanhol: 2007, McLaren, e conseguiram perder o título para a própria Ferrari e o próprio Räikkönen. E há um adendo: a Ferrari vai assumir e desfazer um erro cinco anos depois de ter pagado para que Kimi deixasse o time para ter Alonso. É a cartada arriscada que a Scuderia dá para desbancar a Red Bull e o tetracampeão Vettel. É a rasteira que se passa na Mercedes, que teoricamente tem a dupla mais equilibrada dentre as pioneiras com Hamilton e Nico Rosberg. É a expectativa que põe desde já para que este Mundial já decidido acabe e que o próximo venha.

Kimi Räikkönen pode ser uma grande cartada da Ferrari para 2014 (Foto: Getty Images)

Mas o torcedor brasileiro mais ferrenho há de acompanhar com alguma agrura este tempo até que saiba realmente se vai ter pelo menos um representante no campeonato. Se não for Massa, só pode ser Felipe Nasr. Que chegou a conversar com a Toro Rosso. Mas ontem mesmo, o conselheiro Helmut Marko já decretou que o substituto de Daniel Ricciardo será alguém do programa de pilotos, o que aponta todas as setas para Antonio Félix da Costa. E quando se chega a este ponto, fatalmente se olha para o que tem sido feito aqui no Brasil em termos de automobilismo e desenvolvimento – e a resposta vem rapidamente resumida nas quatro simples letras que formam 'nada'.

2014, assim, pode ser um ano simbólico. O ano em que a F1 vai ver todos os seus grandes pilotos num mesmo pé de igualdade lutando pelo título sem que a bandeira brasileira apareça grudada naquele painel sem emoção do pódio.

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