Opinião GP: Deliberado ou não, toque evitável de Rosberg em Hamilton exige atitude da Mercedes

A Mercedes tem de se preocupar, ainda, em não deixar a guerra, que nem em Mônaco esteve tão iminente, fugir dos limites. Gerenciar os egos dos pilotos está sendo tarefa complicadíssima e que Wolff, Lauda e Paddy Lowe não estão conseguindo executar com perfeição

FAZ ALGUM TEMPO QUE A RIVALIDADE entre Lewis Hamilton e Nico Rosberg está ocupando o noticiário da F1 — mas o assunto deve tomar proporções nunca antes vistas nas próximas semanas. Até porque, neste domingo (24), o pouco que restava do que um dia foi uma boa relação desapareceu de vez graças a uma ocorrência igualmente nunca antes vista: um toque entre os dois.

Depois de perder a ponta na largada, Rosberg atacou o companheiro de Mercedes de maneira tão intensa quanto desnecessária. Tentou ultrapassá-lo por fora, na segunda volta, na curva Les Combes. Jamais chegou a ter vantagem sobre o inglês durante a tangência, mas, mesmo assim, tentou executar a manobra em um espaço que inexistia.

A olho nu, coisa de corrida. Tanto que os comissários decidiram não punir nem um, nem outro. Uma ironia danada que quem pune tanto optou por não aplicar nenhuma sanção — e, de fato, foi compreensível.

A primeira análise era óbvia de se fazer: uma colisão que Rosberg poderia ter evitado sendo mais cauteloso. A dobradinha da Mercedes no GP da Bélgica não ficaria comprometida, tampouco as chances de vitória. E é claro que Toto Wolff e Niki Lauda tinham motivos para ficarem irritados com os pontos desperdiçados.

Os fatos que se tornaram públicos depois é que mudam todo o panorama. E, escolha de palavras à parte, uma coisa está clara: Rosberg deu em Hamilton. Se entrou na curva disposto a acertá-lo ou se simplesmente não se preocupou em evitar o contato é um mero eufemismo. No fundo, quem adota essa última postura está disposto a ver o circo pegar fogo. Usando um vocabulário ainda mais popularesco, jogar no ventilador.

Rosberg queria provar que tinha razão, como relatou Hamilton e ratificou a Mercedes. Razão em que, não se sabe — as declarações não chegaram a esclarecer esse ponto, mas, diante de acontecimentos recentes, dá para imaginar que o alemão estava disposto a mostrar que, se ele não levanta o pé, não é Hamilton que vai se preocupar em evitar o acidente. Só que isso já é entrar no campo das especulações. De informação, o que se sabe é que Rosberg realmente não se esforçou para evitar a colisão. E isso por si só já exige uma atitude por parte dos dirigentes da Mercedes.

Há tempos que Wolff falava que, cedo ou tarde, Lewis e Nico bateriam um no outro. E o que deu para notar, pelo discurso de Lauda, é que tivesse esse toque acontecido no fim de uma corrida em que eles tivessem passado mais de uma hora duelando, até haveria certa compreensão. Não com esse tipo de incidente ocorrendo na segunda volta da prova.

O toque entre Hamilton e Rosberg na Bélgica mudou a história da corrida  (Foto: AP)

Um profissional que, conscientemente, toma uma decisão que vai contra os interesses da empresa — e sem ter direito a usar o contra-argumento de que pensou no aspecto esportivo envolvido com a F1 — tem de ser punido. Falar em desligamento do funcionário — ou do piloto — não chega a ser nenhum absurdo — embora, claro, difícil imaginar que algo assim aconteça antes do fim do campeonato. Termina-se o campeonato e a relação, como aconteceu com Fernando Alonso na McLaren em 2007, ou com Alain Prost na mesma McLaren em 1989. 

A Mercedes tem de se preocupar, ainda, em não deixar a guerra, que nem em Mônaco esteve tão iminente, fugir dos limites. Gerenciar os egos dos pilotos está sendo tarefa complicadíssima e que Wolff, Lauda e Paddy Lowe não estão conseguindo executar com perfeição — a ordem de equipe do GP da Hungria e a sequência de acontecimentos deste domingo são sinais disso. Estão dando abertura para mal-entendidos.

Em 2007, Hamilton e Alonso iam esboçando um domínio, mas perderam a mão em meio à briga interna da McLaren e o escândalo de espionagem, abrindo caminho para o título da Ferrari com Kimi Räikkönen. A situação é diferente porque a vantagem da Mercedes para as demais, em termos de carro, é gigante. É improvável que Hamilton e Rosberg sejam burros o bastante para permitir uma reação da Red Bull. Mas também é bom não bobear, principalmente porque Daniel Ricciardo está impecável e aproveitou as três chances que teve.

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