Há 25 anos, Senna e McLaren iniciavam parceria vencedora na F1 no finado autódromo de Jacarepaguá

O GP do Brasil de 1988 marcou o início de uma história multicampeã do Mundial de F1. Em Jacarepaguá, no dia 3 de abril, Ayrton Senna disputou sua primeira corrida pela McLaren, com a qual conquistou o tricampeonato de pilotos e quatro títulos do Mundial de Construtores. Prova também foi a primeira acompanhada ‘in loco’ como jornalista por Flavio Gomes, diretor-geral do GRANDE PRÊMIO e da AGÊNCIA WARM UP


Jacarepaguá, 3 de abril de 1988. Num domingo quente no Rio de Janeiro, o GP do Brasil abria a temporada do Mundial de F1 e marcava a estreia de Ayrton Senna na McLaren. Iniciando sua quinta temporada na elite do automobilismo mundial, o brasileiro chegava, enfim, à melhor equipe do grid, campeã de três dos últimos quatro campeonatos, para brigar pelo título. Seu novo companheiro de equipe era o francês Alain Prost, que seria seu grande adversário não só naquele ano, mas nos seguintes. Juntos, os dois protagonizariam a maior rivalidade entre pilotos da história da F1.

Aquele domingo era apenas o início de tudo. Nos meses anteriores, os testes de inverno deixaram evidente que, impulsionada pelos motores turbo da Honda, os melhores da época, a McLaren — que tinha Ayrton no lugar do sueco Stefan Johansson — retomaria o domínio da F1. Com propulsores TAG-Porsche, Prost ficou na quarta posição em 1987, atrás de Nelson Piquet e Nigel Mansell, da Williams, e de Senna, então na Lotus — todos tinham motores Honda. Nos bastidores, Prost, Senna e Ron Dennis atuaram firmemente nas negociações com os japoneses para que eles trocassem a Williams pela McLaren.
Senna largou na pole, mas foi desclassificado em sua estreia na McLaren (Foto: Getty Images)

Mas, para Senna, o primeiro fim de semana como piloto da McLaren foi cheio de altos e baixos e terminou negro. Já conhecido por sua velocidade nos treinos classificatórios, venceu Mansell por 0s5 na tomada de tempos para conquistar a 17ª pole da carreira. Prost ficou em terceiro. Tudo lindo, tudo perfeito, até a hora da largada. Após a volta de apresentação, o paulista parou o MP4/4 no lugar reservado ao pole-position, na fila de dentro do grid. Enquanto o pelotão se formava, começou a agitar os braços. Ele não conseguiria largar por causa de um problema no câmbio.

Da curva 1, o jornalista Flavio Gomes, então com 23 anos e repórter da ‘Folha de S.Paulo’, observava tudo de longe. Aquela era a primeira corrida de F1 que o hoje diretor-geral do Grande Prêmio e da Agência Warm Up cobria ‘in loco’ — como torcedor, ele já viajara algumas vezes para assistir à categoria em Jacarepaguá. “Eu não lembro se as rádios do Rio estavam transmitindo, também não estava ouvindo, mas ali estavam vários outros jornalistas e depois ficamos sabendo o que aconteceu”, contou Gomes, que viu dali o início da prova antes de retornar à sala de imprensa.
Senna fez sua estreia pela McLaren diante de uma multidão no Rio de Janeiro (Foto: Getty Images)

Após o gesto de Senna, a placa de 5 minutos foi levantada e a McLaren levou o piloto e o carro de volta aos boxes. Lá, decidiram que seria melhor colocar o carro reserva na pista. Fizeram-no, porém, depois da bandeira verde, ferindo o regulamento. Todos estavam conscientes de que a desclassificação viria, mas a punição demorou a sair. Deu tempo de Senna largar dos boxes e fazer uma série de ultrapassagens até, na 20ª volta, assumir a segunda posição, 30s atrás de Prost, que disparou tranquilo na liderança já a partir da largada. Foi só na 31ª passagem, depois de um desastroso pit-stop que o derrubou para sexto, que um comissário lhe mostrou uma placa com o número 12 junto da bandeira preta.

Mas a pauta de Gomes não era Senna. Eram outros dois estreantes que ele precisava acompanhar: Maurício Gugelmim, que fazia sua primeira corrida na F1 pela equipe March, e Nelson Piquet, já tricampeão do mundo, mas que corria pela primeira vez com a Lotus. Na edição de segunda-feira da ‘Folha’, as manchetes eram: “Piquet critica aerodinâmica, chassi e suspensão do Lotus” e “Caixa de câmbio quebra e impede Gugelmim de completar 1ª volta”. Além disso, Gomes também assistiu novamente à prova para fazer uma crítica da transmissão da TV Globo: “O editor de esportes, Nilson Camargo, queria que a gente fizesse as coisas pensando em como elas eram na TV, tanto é que a gente tinha que escrever o nome da equipe junto do nome do patrocinador, McLaren/Marlboro, que era como aparecia na TV. ‘É para o cara identificar de quem estamos falando!’”.
Piquet não estava nada satisfeito com o desempenho da Lotus no Rio (Foto: Getty Images)

Após 60 voltas e 1h36min06s857, Prost venceu com pouco mais de 9s de vantagem para Gerhard Berger, com a Ferrari número 28. Piquet completou o pódio após protagonizar um belo duelo com Derek Warwick e Thierry Boutsen e passar os dois de uma só vez no fim do retão na volta 46. Na corrida seguinte, a 300ª da McLaren na F1, Senna venceu pela primeira vez com o time, curiosamente no GP de San Marino, em Ímola. Foi o primeiro de seus 35 triunfos pela equipe. Quando se despediu de Woking no fim de 1993 para se juntar à tão sonhada Williams, Ayrton deixou para trás recordes: até hoje é o piloto que mais venceu e que mais largou na frente com carros da McLaren, que o considera o melhor com quem trabalhou.

“Com o Piquet saindo da Williams para a Lotus e a chegada do Senna à McLaren, a partir daquele GP do Brasil estava claro que o Senna seria o principal personagem do esporte no Brasil nos anos seguintes. O futebol estava em baixa e, no caso da ‘Folha’, que sempre tentava fazer coisas diferentes, a F1 passou a ser tratada como prioridade. Foi assim até a morte do Senna”, conta Gomes.

Também por isso que o jornalista se envolveu mais e mais com a categoria: “Eu gostava, já corria de carro e tudo, mas trabalhar com F1 não era a minha meta. A gente não tinha no jornal ninguém dedicado a essa cobertura e eu mesmo comecei a fazer em 1988 e 1989. Depois, virei editor e contratamos o Mário Andrada e Silva, que foi morar em Paris. Em 1991 ele voltou e trocamos de funções. Ele passou a comandar a editoria e eu comecei a ir para todas as corridas, a partir do GP do México”.
Senna e McLaren formaram uma das parcerias mais bem-sucedidas da história da F1 (Foto: Getty Images)

Gomes cobriu F1 para a ‘Folha’ até o GP de San Marino de 1994, quando pediu demissão. Ele continuou indo para as corridas pela Rádio Jovem Pan e, em 1995, criou a Agência Warm Up para enviar material direto dos autódromos ao redor do mundo para dezenas de jornais brasileiros. Foi a partir da agência que nasceu o site Grande Prêmio, anos depois, em 1999. Gomes também trabalhou na Rádio Bandeirantes e está, desde 2005, nos canais ESPN. Nos últimos dois anos, ganhou o Troféu Aceesp na categoria Apresentador de Rádio. Na conta, estão 228 GPs ‘in loco’ — se fosse piloto, seria o oitavo com mais corridas no currículo em todos os tempos.
 
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