Diários de Viagem: Hei Guibirou

Trabalhei feito burro nas três semanas que passei na Europa para cobrir os GPs da Espanha e de Mônaco, mas deu para conhecer lugares e pessoas interessantes e pensar um pouco na vida

Talvez esse Diário de Viagem fique um pouco diferente dos outros que já fiz para o site. A culpa é do Flavio Gomes, que enfim me deu ‘O Boto do Reno’ — para quem não sabe, é o livro que ele escreveu —, que eu trouxe para ler durante esta jornada de três semanas pela Europa Meridional.

Aprendi algumas coisas com esse livro.

Aprendi, por exemplo, que é trapaça escrever o Diário de Viagem depois da volta. Acontece que tive muito trabalho nos últimos dias e não sobrou tempo. Como não quero trapacear, estou escrevendo à mão no meu voo de volta ao Brasil, sentado na poltrona 41J de um Airbus da Alitalia que partiu de Roma. Era para ser a 41G, mas uma senhora sentou nela para ficar ao lado do seu senhor. Não reclamei. Meu lugar novo é melhor.

Aprendi também que não preciso necessariamente falar das corridas. Posso só divagar e refletir sobre coisas que estão ocorrendo ao meu redor. Mas não acho que é inteligente fazer isso neste exato momento. Não sei se o cara que sentou ao meu lado está bisbilhotando o meu texto. Imagino que ele queira uma avant-première, dada a magnitude deste relato. Prefiro não dar a ele esse gostinho. Ainda bem que sou destro e estou tampando a página com o braço direito.

(Estava vendo Rush mais uma vez, mas bem quando largaram em Nürburgring, o negócio mudou para música clássica. Vou reclamar com os comissários. É revoltante.)

A viagem para os GPs deste mês de maio começou pela Espanha. Barcelona. Sant Andreu. Quase Santo André.

A pacata Sant Andreu foi minha casa por duas semanas em Barcelona (Foto: Instagram)

Lá conheci o Bruno, que mora com o Thiago, que foi o amigo que gentilmente me ofereceu casa, comida e roupa lavada por duas semanas — embora ele só tenha ficado lá seis dias. E o Bruno, que além de morar com o Thiago e também dividir teto com o João, outro cara gente boa pacas, me perguntou num daqueles dias o que sinto quando cubro uma corrida de F1. Se fico deslumbrado, se é normal, se fico realizado, se muda o jeito como vejo as coisas.

Nem lembro direito o que respondi, mas não foi uma grande resposta. Coitado do Bruno, me recebeu tão bem e nem uma resposta decente eu dei para retribuir.

Até que cheguei a Mônaco na quarta-feira seguinte e a pergunta me veio na cabeça mais uma vez. Lembrei quando era uma criança, e de tudo que vivera até ali. E decidi entrar de vez naquela… Não, pera, isso é Renato Russo. Foco.

Mas lembrei mesmo de quando era uma criança e estava começando a saber o que era a F1 e a gostar do negócio. Sempre ficava mais ansioso do que o normal para duas corridas: o GP de Mônaco e o GP do Brasil. Aliás, a primeira imagem de F1 que consigo pescar na memória é do pelotão contornando a Loews — não me recordo o ano.

Minha preferência por Mônaco nunca foi por se tratar do GP mais badalado e chique do ano. Só porque sempre achei muito foda ver os carros andando num circuito tão diferente, apertado, difícil. E também foi, por algum tempo, o único circuito de rua onde a F1 corria, outra coisa que me atraía.

Comecei a pensar nisso no trem que me levava de Nice a Mônaco na quarta-feira passada. Não cheguei a ficar deslumbrado, porém foi, de fato, especial estar em um lugar onde sempre quis estar e que é um dos motivos por gostar tanto desse negócio.

Foi minha segunda viagem para cobrir F1 e o meu quinto GP, e é ótimo ter essa oportunidade de pegar o avião e conhecer novos lugares, novas pessoas, novos amigos, ver de perto os carros, os personagens do espetáculo. Fazer parte de uma roda de prosa com Niki Lauda ou Alain Prost — jogar contra eles no videogame também me fez tomar gosto pelas corridas.

Em Barcelona, foram duas semanas em que mal parei de trabalhar. Primeiro, com o GP. Depois, com os testes. Ainda fiquei de plantão dando suporte para quem estava no Brasil e em Indianápolis no fim de semana seguinte, que teve um tanto de categoria andando por aí. Fui ser turista só no último dia, quando desisti de entrar na Sagrada Família por causa da fila — que dobrava o quarteirão — e do preço — 15 euros. Fui entrar no Camp Nou, que custava 23 euros, mas pelo menos não tinha fila. E é um estádio fodão. Vão ao museu do Barça quando forem a Barcelona.

Deu, também, para fazer aquele turismo não-convencional, guiado por quem conhece o lugar. Rendeu inclusive uma noitada com uma escalação de respeito e teve até Tomas Scheckter na história, mas acho melhor não contar essa passagem por aqui. E conheci um jogo que tem que fazer o Bruno ficar rico, o Hei Guibirou, que mistura futebol, vôlei e tênis. Invenção do Bruno, mesmo, e é um jogo bem engraçado. Vou introduzi-lo no Brasil e me tornar um novo Charles Miller.

Pelo menos deu para dar uma volta de bicicleta lá em Nice (Foto: Instagram/Renan do Couto)

Na Riviera Francesa, pude ver de perto uma região bem bonita, mas um pouco estranha. Onde já se viu uma praia de pedra e não de areia ficar cheia na segunda-feira?? Eu preferi foi alugar uma Vélo Blue, a versão de Nice daquelas bicicletas do Itaú e pedalar pela Orla. Fiquei 43 minutos com a bicicleta e atravessei uma dessas praias, chegando até a porta do aeroporto e voltando. É bom fazer isso — fiz muito na Alemanha, no ano passado.

Agora estou, depois de três semanas, voltando para casa. E, depois de ir para Mônaco, é esperar pela chance de ir pela primeira vez ao GP do Brasil, que é mais foda que a corrida do Principado.

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