Conta-giro: Com tempo escasso, Alonso vive momento decisivo da carreira com escolha de riscos nos dois rumos

Sem grandes resultados com a Ferrari em 2014, Fernando Alonso virou alvo da McLaren e dos rumores cada vez mais intrigantes sobre uma possível saída antes mesmo do fim do acordo com os italianos. O espanhol, aos 33 anos, está próximo de uma decisão que deve selar para o bem, o enfim sucesso, ou para o chamado mais do mesmo o fim de sua carreira

DE REPENTE, Fernando Alonso virou o centro do mercado de pilotos da F1 em 2014, agitando uma 'silly season' um tanto morna deste ano, especialmente porque a maioria dos grandes contratos se encerra apenas no fim da próxima temporada. E quem começou a curiosa movimentação foi a McLaren, que está prestes a reeditar a bem-sucedida parceria com a Honda — a fabricante japonesa vai patrocinar e fornecer motores à equipe inglesa a partir de 2015. A manobra do time britânico, entretanto, é ainda mais ampla, porque deve também ajudar a traçar o caminho que Alonso pretende trilhar até o fim da carreira na F1.

 
A esquadra de Woking não faz mais segredos sobre os planos para a temporada do ano que vem e deseja ao menos um nome forte para liderar a nova fase com os nipônicos. Sebastian Vettel e Lewis Hamilton foram cogitados, mas o sonho de consumo do time atende por Alonso — tanto a equipe quanto a fornecedora veem no asturiano o piloto perfeito para comandar o time na nova empreitada, e essa é uma informação que surgiu com força entre a danada imprensa inglesa nos últimos dias. E que faz muito sentido.
 
Só que, assim como as estrelas Vettel e Hamilton, o vínculo do espanhol com a Ferrari também segue até o fim de 2015. Apenas um novo elemento poderia mudar esse cenário. E isso surgiu por meio de uma cláusula até então não mencionada e que agora fundamenta a perseguição da McLaren.
Fernando Alonso (Foto: Ferrari)
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De acordo com reportagem da ‘Auto Motor und Sport’, o contrato do bicampeão possui um item relacionado à competitividade, que determina que, se o ferrarista estiver a 25 pontos ou mais do líder do campeonato até 1º de setembro, passa a estar automaticamente livre dos compromissos com a equipe italiana e pode, então, negociar com outros times.

 
Em 1º de setembro — mais conhecido como última segunda-feira —, a diferença entre Alonso, o quarto colocado, e Nico Rosberg, o líder do Mundial, continua em 99 pontos. Então, tomando as informações acima como verdade por um instante, é possível dizer que o asturiano está livre.
 
Apontado por muitos como o melhor piloto do grid, o espanhol recém-celebrou 33 anos e ainda continua com os dois títulos conquistados com a Renault, e isso foi há quase nove anos. O último piloto a esperar tanto por outro título na carreira foi Niki Lauda — entre 1977 e 1984. O austríaco tinha 35 anos quando conquistou o tricampeonato pela McLaren. Alonso, agora, é o recordista e até com certa folga. E essa é uma marca dura de se encarar. Por isso, a busca quase insana de Fernando em voltar a vencer. E rápido.
 
Depois das conquistas seguidas em 2005 e 2006, o asturiano passou pela mesma McLaren, onde teve uma experiência desastrosa ao lado de Hamilton, voltou para uma combalida Renault e aí resolveu apostar as fichas no projeto da Ferrari, que começou bem, é verdade, mas que não conseguiu evoluir a contento e atingir os objetivos, apesar do esforço de Fernando e da pilotagem acima da média em muitas ocasiões.
 
Muitos podem até comparar com a Era Schumacher, mas é justo dizer que o alemão tinha uma estrutura mais afiada ao seu redor e regulamentos que permitiam aos times de ponta uma evolução mais rápida e eficiente, especialmente por conta dos testes ilimitados. Alonso não teve os mesmos recursos. Ainda assim, conseguiu recolocar a escuderia de volta aos holofotes até com certa frequência.
 
Desde que passou a defender a Ferrari, em 2010, o espanhol foi vice-campeão duas vezes, no ano de estreia e em 2012, sempre perdendo o título na etapa final para Vettel e a Red Bull. Em 2011, não esteve perto da luta pela taça ou por vitórias constantes — isso porque a equipe austríaca aniquilou sem dó a concorrência naquele ano —, mas em 2014 o cenário é bem mais sombrio.
Fernando Alonso durante TL2 em Spa (Foto: Beto Issa)
A escuderia vermelha não acertou a mão mais uma vez, e a F14T parece frágil demais frente às principais rivais, assim como os motores V6 construídos em Maranello. E o desempenho ao menos das unidades de força não deve mudar muito daqui em diante, por conta das regras do congelamento do desenvolvimento. A tendência real é que o time continue ainda se batendo na busca de aperfeiçoar os próximos carros. Portanto, apesar de ser o primeiro piloto e desfrutar de todas as regalias dentro dos boxes vermelhos, a aposta na Ferrari continua altamente arriscada. E não é no bom sentido.
 
Ainda assim, o novo chefe da Ferrari, Marco Mattiacci, se mostra entusiasmado, otimista e confiante em fazer a equipe italiana voltar a vencer em um plano que estabelece três anos de prazo para que isso efetivamente aconteça. O mesmo executivo também assegurou a permanência de Fernando para o próximo ano.
 
O futuro, porém, se desenha diferente. Alonso não tem mais tempo, e é essa a verdade. Tudo vai contra. O espanhol sabe que o tempo urge e o seu está passando rápido demais para ficar assistindo de fora as desavenças de Hamilton e Nico Rosberg ou a ascensão eletrizante de Daniel Ricciardo. É quase como se visse seu talento ser desperdiçado, sua melhor pilotagem não ser reconhecida e usada para o título. Ao que parece, a hora chegou e a decisão que tomar agora deve também revelar o tipo de fim de carreira que pretende ter.
 
Se a escolha pela Ferrari parece ser o mais do mesmo, com a forte tendência de realmente ser o mesmo, a McLaren também se revela uma opção arriscada. Como tudo na F1, nada está garantido, apesar do histórico de sucesso da Honda. Mas a equipe inglesa não vem de temporadas fortes, ao contrário. A última vitória do time foi em 2012, no GP do Brasil. No ano passado, a equipe viveu a pior temporada em mais de duas décadas na F1. Mas o projeto em si não deixa de ser atraente. Poderia ser até uma espécie de vingança.
Os rumores e a McLaren
 
Em todo esse tempo de Ferrari, os rumores sobre uma possível saída nunca cessaram, mas agora também nunca estiveram tão fortes. É a primeira vez, inclusive, que se fala em oferta e cifras. Cifras altas, tão tentadoras quanto às estabelecidas pelo próprio Alonso para ficar na Ferrari pelos três próximos anos — também segundo a mídia italiana. Curioso perceber também que, no ano passado, quando o empresário do bicampeão andou sondando a Red Bull, a situação de Fernando era bem melhor no campeonato, existia a real chance de título. Mas agora não há.
 
Com pesada experiência na F1, Alonso permanece em silêncio total. O espanhol, sempre que questionado, despista e prefere voltar os olhos para o desenvolvimento do carro ferrarista. O perfil no Twitter vem sendo usado com cuidado, sem grandes frases de Samurais tão ao gosto do piloto, mas mais imagens do trabalho na Ferrari. Pode ser um indício de que as coisas tendem a permanecer como estão. Ou Alonso está tentando desviar o foco de si para que não se repita o caso de 2013.
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