Conta-giro: Ascensão meteórica se mescla com pressa e põe Verstappen em meio ao fogo que o pai sentiu

A Red Bull preparou tudo em menos de um mês, e Max Verstappen vai ser titular da Toro Rosso em 2015. O jovem holandês chega à F1 com muito mais pressa que o pai Jos, fator que foi decisivo para sua derrocada na categoria, com um grupo sabidamente inquisidor de talentos – como Jean-Éric Vergne, que vai ter de dar seu lugar, além de Antonio Félix da Costa e Carlos Sainz, que se veem deixados de lado

Johannes Franciscus mal tinha completado 22 anos quando recebeu a grande chance de correr na F1 ao lado de Michael Schumacher naquela temporada que se revelaria fatídica muito antes de seu início. Foi um acidente na pré-temporada que afastou o titular Jyrky JärviLehto e promoveu aquele holandês que diziam ser valioso tanto por seu título na F3 Alemã quanto pelo Masters no fim do ano anterior. Então 1994 começou em Interlagos, e enquanto Ayrton Senna tentava alcançar o alemão para buscar a liderança, o ‘João Francisco’ protagonizou a cena mais impressionante daquela corrida: na reta oposta, ao ser espremido por Eddie Irvine, perdeu o controle de sua Benetton e bateu no norte irlandês, acertando Martin Brundle e Éric Bernard.

Não seria aquele o momento mais lembrado de Jos Verstappen, que voltaria a guiar o carro de Lehto – defenestrado por Flavio Briatore por suas fracas performances – no meio do Mundial. No GP da Alemanha, em tempos em que o reabastecimento era permitido, os jatos de gasolina espirraram aos montes, e logo as chamas consumiram os boxes em Hockenheim.

Pouca gente lembra que o piloto conseguiu, em dez provas, dois pódios. Não deu tempo para muita coisa lá num time com um chefe tão inquisidor. Num período de dez temporadas e dois anos sabáticos, Verstappen se aventurou por Simtek, Arrows, Tyrrell, Stewart e Minardi. Não fez muito, e muito do seu mau desempenho foi atribuído pelo próprio ao noviciado e à pressa com que foi mandado às feras.

 
Em 1998, quando fazia sua transição do posto de reserva à condição de titular ao lado de Barrichello, Jos viu Max Emilian, seu primeiro filho, nascer. E o moleque, claro, foi acompanhando não só o pai na vida corrida, mas também a mãe. A belga Sophie Kumpem também era pilota – das boas, diziam. Tinha o avô, Paul Kumpem, que guiou muito tempo no endurance. E o irmão de Sophie, Anthony, corre até hoje no GT. 
 
Sem estar na F1, Jos tinha tempo suficiente para colocar Max para andar de kart. O primeiro título veio em um Rotax Max, na classe Minimax, na Bélgica. Com nove anos, o jovem já havia levado o campeonato holandês, a competição conjunta entre a Bélgica e a Holanda e a categoria cadete. Mais conquistas vieram nos anos seguintes, ampliando os horizontes para o continente europeu e, depois, mundial. 
Max Verstappen e o pai, Jos, no grid da F3 Euro na Alemanha (Foto: Red Bull)
Fenomenal, pulou para os monopostos em outubro do ano passado, guiando um carro da equipe Manor e, na sequência, da Josef Kauffman, ambas da F-Renault. Pois os tempos foram melhores que os então titulares. Pulverizando etapas, logo foi chamado pela Van Amersfoort para ser um dos titulares na campanha da fortalecida F3 Europeia.
 
Verstappen Jr. não começou muito bem o campeonato que de cara foi sendo dominado pelo francês Esteban Ocon, outro estreante que tem as costas protegidas, no caso pela Lotus. Mas aí sua habilidade começou a ficar em evidência. Num torneio que tem três corridas por fim de semana, chegou a uma sequência de sete vitórias com aparições exuberantes – sobretudo em Spa-Francorchamps, praticamente o quintal de sua casa. Diante de um Ocon que não empolga por sua personalidade intrínseca e tímida, Max tornou-se a estrela. O vídeo abaixo tem a corrida, e só o que ele faz na largada, como toma a liderança e o modo que se defende do rival são exemplos claros de suas qualidades.

E se é jovem e bom, está no radar de Helmut Marko e da Red Bull. O primeiro encontro público deu-se em Spielberg. Verstappen, depois de jogar Ocon  para fora após a largada, com certa contundência e na primeira da trinca de corrida, terminou em terceiro. Marko cumprimentou o garoto com um sorriso que já denotava alguma admiração. Horas depois, a direção de prova anunciava uma punição ao holandês, colocando 5 segundos em seu tempo de prova e o derrubando para o quinto lugar. Naquele fim de semana, especificamente, Max não foi bem, mas ao menos foi melhor que Ocon, ainda longe de fazê-lo se aproximar para tirar o título certo de Esteban.

 
Agosto chegou, e com o mês veio o anúncio que ergueu alguns olhos: o de que Verstappen deixava de amarrar laços com a Mercedes – que empurra seu Dallara na F3 – para ser membro do programa de desenvolvimento da Red Bull. Mas o espanto maior aconteceu seis dias depois: a confirmação de Max como titular da Toro Rosso já para o ano que vem.
 
É a ascensão mais meteórica da história da F1, se considerar que há uma série de degraus para se chegar à categoria – GP2, GP3 e World Series. Maior, portanto, que a de Daniil Kyvat. Foi-se o tempo que a F3 Europeia – ou mesmo Inglesa ou até a Alemã que catapultou Jos – era parâmetro para definir maturidade e talento. Max vai se tornar o piloto mais jovem da história, alinhando na Austrália, se tudo correr normalmente, aos 17 anos. E o ciclo se forma.
Max Verstappen é o atualmente o vice-líder da F3 Euro (Foto: Red Bull)
Porque se havia pressa para colocar Jos na F1, o caso de Max é sua hipérbole em progressão geométrica. E a Red Bull é tão queimadora de talentos quanto Briatore foi para o agora veterano holandês. Quem sai para a entrada de Verstappen é Jean-Éric Vergne, outrora um retumbante e habilidoso francês que teve até melhor desempenho que Daniel Ricciardo em 2013 e foi preterido à vaga que se abriu na Red Bull. Um Vergne que vem sofrendo com um carro pouquíssimo confiável, cujos problemas assumidos pela cúpula da equipe. Cúpula esta que falou há pouco tempo em esperar entregar a Vergne um equipamento que lhe permita mostrar do que é capaz. 
 
Mas o anúncio de Verstappen praticamente culpa Vergne pelo malogro. De quebra, tira qualquer chance de Antonio Félix da Costa.
 
Foi Félix da Costa quem deu a dica do que poderia vir ontem. Via Twitter, o lusitano prometeu ‘breaking news’. E depois da confirmação feita na TV da Red Bull, AFC praticamente jogou a toalha. Falou que nunca se sentiu tão feliz quanto neste ano, em que a Red Bull lhe arrumou uma vaga na BMW para correr o DTM, como uma espécie de consolação ou até mesmo uma prova para verificar suas habilidades. E o piloto completou dizendo que espera ficar lá por mais uns dez anos.
Tem ainda Carlos Sainz Jr.. O espanhol filho do famoso piloto de rali tem seu nome vinculado a uma vaga na Caterham ainda este ano. Mas se a Red Bull visse nele algo especial, já teria feito o que acabou de fazer com Verstappen. Não demorou para que Sainz também usasse as redes sociais para se manifestar/desabafar.

Da molecada que vem aí, Max é o mais exuberante. Pode não ser o melhor, mas certamente é o que mais encanta ver. Verstappen tem um fim de temporada a cumprir e tomar a superpílula do amadurecimento até sentar de vez em um carro de F1 – algo que denota uma facilidade imensa, coisa para criança. Ao menos, verá no pai seu grande professor. O rapazote já tem a ciência de que passos errados e mau serviço vão incinerá-lo na intensidade do fogo que Jos sentiu literalmente e na pele há 20 anos.

Max Verstappen celebra vitória na Alemanha na F3 Euro (Foto: Red Bull)

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