Coluna Warm Up, por Flavio Gomes: Bernie

Essa sua história de tomar o rumo do Oriente deu certo mesmo, Bernard? OK, é onde está o dinheiro, mas diga a verdade... É legal ver as arquibancadas de Sepang, Xangai, Yeongam, Sakhir, todas às moscas? Isso porque nem estou falando daquele pardieiro da Índia.


Vamos lá, fiz umas contas depois de ver o calendário que você e seu amigo igualmente baixinho Jean Todt divulgaram esta semana. São 22 GPs em 259 dias, contando a data inicial da primeira corrida, 16 de março, até a última, 30 de novembro. Um GP a cada 11,7 dias. Calculei até quanto todo mundo vai viajar no ano que vem usando um desses sites de mapas e rotas. Usei como ponto de partida, sempre, Silverstone. É lá que fica a Force India, a velha e boa Jordan. E no entorno tem um monte de outras equipes. Para o senhor entender o cálculo, sempre que há pelo menos uma semana entre uma corrida e outra, usei como critério a volta da turba à Inglaterra. O total foi de precisamente 189.617 km. Me deu um trabalho desgraçado. Veja bem: quase 190 mil km! Por terra, ar e mar. 
 
Pois bem, 22 corridas, sendo 9 na Europa, 8 na Ásia/Oceania, 1 na América do Sul e 4 na América do Norte. Portanto, das 22 etapas, teremos 40,9% de provas na Europa, a velha Europa, a delícia da Europa. E 36,3% na Ásia/Oceania (estou usando critérios geopolíticos do War, se é que o senhor me entende). 
 
Quando eu comecei a cobrir F-1, em 1988, o calendário tinha 16 etapas. De 3 de abril a 13 de novembro,  224 dias, uma prova a cada duas semanas, exatamente. Naquele ano, foram 10 corridas na Europa (62,5% do total), 1 na América do Sul, 3 na América do Norte e 2 na Ásia/Oceania. Não precisa fazer a conta, já fiz: 12,5% na Ásia/Oceania, região do planeta também conhecida como cu do mundo ou, numa definição um pouco mais popular e menos polida, na puta que pariu sem número. Ou, ainda, na casa do caralho.
 
Também calculei as distâncias, sim. Foda, trabalhão da porra: 118.225 km.
 
Não precisa pegar a calculadora, já fiz todas as contas. Em 2014, caso essas 22 corridas sejam mesmo realizadas, a galera vai viajar 60,3% mais do que se viajou em 1988. 
 
Meio exagerado, né não? Bem, tem três corridas aí com asterisco. Ou asterístico, como alguns falam por aqui: Coreia do Sul, Nova Jersey e México. Pelo que andei assuntando aqui e ali, as duas primeiras estão no calendário só para constar. Ninguém aguenta ir para aquele fim de mundo de Yeongam, e os caras de Nova Jersey não têm dinheiro. No México a coisa parece não ser tão complicada assim. Já tem autódromo, são dois chicaninhos correndo, grana não vai faltar. No fim, vamos ficar com 20 etapas e não se fala mais nisso.
 
Essa sua história de tomar o rumo do Oriente deu certo mesmo, Bernard? OK, é onde está o dinheiro, mas diga a verdade… É legal ver as arquibancadas de Sepang, Xangai, Yeongam, Sakhir, todas às moscas? Isso porque nem estou falando daquele pardieiro da Índia. Ah, mas Cingapura e Abu Dhabi são um sucesso, você vai dizer. Menos, né? Povinho mais sem graça, que vai ver essas corridas. Não sabem nem quantas rodas tem um automóvel. Fora que a pista de Abu Dhabi é um lixo. Toda lindona, cintilante e limpinha, mas uma porcaria. Vamos combinar que desse monte de circuito novo, o único que prestava era o da Turquia. E lá também ninguém ia ver o GP, acabou por falta de público. Uma lástima. 
 
Bem, não tenho nada com isso, o campeonato é seu, não sou piloto, não sou mecânico, parei de viajar faz bastante tempo atrás de todos os GPs, depois de 18 anos na labuta aérea e hoteleira, por mim tanto faz se as corridas acontecem em Barueri ou em Urano. No fim das contas, vou ver pela TV, mesmo. O que aborrece, mesmo, são os horários. Muita corrida de madrugada, Bernard, é duro segurar o sono. De qualquer forma, não ache que vai receber aplausos por esse calendário inchado e desmesurado. Por mais que compreenda sua incansável caça ao dinheiro, não me conformo de ver um Mundial de F-1 sem a França, sem Portugal, sem a Argentina, até sem Imola — para não falar de países muito legais que já tiveram seus GPs, como Suécia e Holanda. 
 
Tudo bem, pode parecer nostalgia boba, os tempos são outros, é preciso olhar para a frente. Beleza. Eu tenho mania de olhar para trás, fazer o quê? Aproveitando, entreguei ao seu amigo húngaro que cuida da corrida aqui do Brasil um desenhinho interessante para Interlagos. Olhando para a frente, mas um pouquinho para trás, também. Se puder, dê uma espiada com carinho. As coisas andam meio derrubadas aqui no Brasil quando se fala em automobilismo e em F-1. Não sei nem se teremos piloto no ano que vem. Pode ser que a única coisa atraente de Interlagos em 2014 seja justamente Interlagos.
 
Abraços, e beijos para a Fabi.
 
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