Coluna Superpole, por Victor Martins: O raro português

A rasteira que Félix da Costa leva mostra, desconsiderando qualquer acordo financeiro externo, uma decepção enorme por parte do conselheiro Helmut Marko. Algo do tipo cair fora imediatamente ou obrigar o gajo a ser campeão com cinco etapas de antecedência repleto de poles e vitórias.


Quando pingou o comunicado da Toro Rosso na caixa sobre a dupla de 2014, o negócio era apenas esperar que o pós-clique no e-mail confirmasse a chegada mais natural e previsível de António Félix da Costa ao maior dos mundos. Em vez disso, a surpresa geral arregalou os olhos ao ler o nome de Daniil Kvyat. A propagação da notícia gerou questionamento de mais de 78% dos leitores, aponta estudo, sobre quem era aquele moleque imberbe e meio mangolão, parecido com Sebastian Vettel e que “certamente está sendo apoiado por uma empresa de seu país”. “A Red Bull “é tosca”, “queimou o gajo”, “pobre Félix da Costa”, “vendidos”, bradaram por aí.
 
É natural que toda essa dúvida surja justamente por esperar que a vaga de Daniel Ricciardo tinha um destino mais que certo. O lusitano era o primeiro da lista da sucessão escolar da Red Bull. Kvyat vem de dois campeonatos paralelos de, teoricamente, médio porte nesta temporada: o da GP3, que disputa na íntegra, vê seu nome em segundo na tabela de classificação, ainda com chances de título; e o da F3 Europeia, que disputa como convidado e não marca pontos. Dados tais fatos e a própria admissão da terceira via, Carlos Sainz Jr., de que não está pronto para a F1, pronto, era o excelente Félix da Costa e segue a vida.
 
É um coitado, de fato: chegou a tuitar que estava “pronto para o mundo da F1” e teve de apagar rapidinho a mensagem minutos depois. No Facebook, foi mais emotivo e falou em frustração e decepção. Companheiro de quarto de Kvyat., ainda encontrou humor para brincar e dizer que estava em busca de alguém para passar a dividi-lo. Sem nenhuma ironia, é de dar dó. Só que o conteúdo da lata de energéticos da cúpula da Red Bull reduz ao mínimo a ação do coração.
 
Ao ‘roommate’ de AFC: das dez etapas em rodadas triplas que Kvyat. disputou na F3 Europeia, o russo participou de sete. Fazendo as contas de sua pontuação nestas provas todas, a mesma usada na F1, Daniil somaria 157. Tirando os pontos de todos os outros caso seu nome estivesse na brincadeira, o campeonato lhe apontaria uma interessante sétima posição – quatro pontos atrás de Jordan King e bem à frente de Tom Blomqvist, sueco que participa da temporada toda e que entrou este ano para o programa de pilotos rubrotaurino. Kyvat também acabaria superando o brasileiro Pipo Derani, que perderia 12 pontos nesta matemática e cairia dos seus 143 finais para 131. O campeão foi Raffaele Marciello, protegido da Ferrari.
 
Kvyat. teve 1 vitória – na primeira etapa em Zandvoort –, 1 pole e 7 pódios. Elimine os preconceitos iniciais e note: Kvyat. não é qualquer um.
 
Não é porque é russo que todo mundo é nível Vitaly Petrov. Bem longe: é um baita talento. Para quem há de ver Sergey Sirotkin na Sauber, a comparação entre os ex-soviéticos será óbvia – desde já, muito favorável a Daniil. De todas as alegações dadas pela cúpula tororossiana, uma é bastante verossímil: a de que vai dar calor a partir da metade da temporada em Jean-Éric Vergne. A Red Bull pôs para baixo do tapete a precocidade de colocar alguém com 22 voltas em um carro de F1 – com um erro incluso – e um teste aerodinâmico feito semanas atrás na Espanha em nome do risco de desenvolver aquele que julga internamente sua pérola na sua segunda equipe. E com um carro que terá o mesmo powerplant do time principal – conjunto Renault –, desenhado pelo geniozinho James Key, a proposta é se desenvolver com Kvyat concomitantemente.
Antonio Félix da Costa: um coitado (Foto: Xavi Bonilla/Grande Prêmio)
A grande questão, realmente, é que, essa racionalidade chegou a um ponto incomum na Red Bull: o de atropelar os passos das carreiras destes pilotos. Antes, a fritura se dava prioritariamente na F1; Christian Klien, Scott Speed, Sébastien Buemi, Vitantonio Liuzzi e Jaime Alguersuari estão aí para confirmar. E não se pode dizer que a temporada aquém do esperado de Félix da Costa na WSR tenha pesado tanto contra: nenhum dos pilotos que passou por lá e chegou à F1 foi campeão desta categoria. Tonico foi terceiro na classificação final. OK, longe do campeão Kevin Magnussen, mas ainda que tenha sido um mal ano numa visão holística, com alguns erros e muitos problemas, a rasteira que leva mostra, desconsiderando qualquer acordo financeiro externo, uma decepção enorme por parte do conselheiro Helmut Marko. Algo do tipo cair fora imediatamente ou obrigar o gajo a ser campeão com cinco etapas de antecedência repleto de poles e vitórias.
 
Não bastou a Félix da Costa ser uma das maiores promessas produzidas nos últimos tempos. Bem como não tem sido fácil encontrar quem fale português no grid da F1.

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Q1: Um, pelo menos, vai falar: Felipe Massa. Nosso grande Américo Teixeira Jr. cravou o acordo do brasileiro da Williams por cinco anos. E intramuros, se o Ameriquinho disse, é porque é.

Q2: E Helio Castroneves ficou mais uma vez sem título. A REVISTA WARM UP foi falar com o brasileiro, que perdeu para Scott Dixon, e fez grande reportagem a respeito. O que fica? Helio realmente se importa muito mais com a Indy 500. 

Q3: Falando em REVISTA WARM UP, a edição 42, anterior a esta de Helio, que retrata os podres de Brasília, ainda não acabou…

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