Coluna Superpole, por Victor Martins: Mudança de protagonista

Não é muito correto culpar – se é que é o termo adequado – culpar a fabricante italiana pela dependência que a própria F1 criou dela. A Pirelli exagerou na dose, de certa forma trazendo riscos quando se vê que seus pneus começam a explodir aleatoriamente e até criando uma imagem negativa de seus produtos, mas se o fez, é porque teve anuência de alguém


O termo ‘guerra dos pneus’ era associado no curto tempo em que a F1 resolveu abrir-se à competição entre as fabricantes e muitas das vezes depositava no rendimento dos compostos o bom desempenho da equipe A ou B. Mais recentemente, a disputa se concentrava entre Goodyear e Bridgestone (1997–1998) e Bridgestone e Michelin (2001-2006). A FIA acabou com o período ‘beligerante’ impondo que a categoria fosse monomarca muito em função daquela ocorrência em Indianápolis em 2005, quando os franceses de Bibendum pediram encarecidamente que seus 14 carros não corressem o GP dos EUA para não verem explosões seguidas de seus produtos no curvão.
 
A chegada da Pirelli em 2011 trouxe à baila a discussão de como se comportariam os pneus de uma empresa que havia parado no tempo da F1 por duas décadas e como os engenheiros deveriam produzir seus modelos em cima de pneus dos quais não tinham conhecimento algum. Evidentemente, a fornecedora italiana optou pelo conservadorismo – também para não arranhar seu nome – e não foi atuante naquele campeonato amplamente dominado por Sebastian Vettel.
 
Mas como o alemão e a Red Bull nadaram de braçada e a Pirelli já tinha dados claros de todas as pistas onde a F1 corria, as cabeças dominantes resolveram dar a esta um papel maior. Ao pedir que produzissem pneus de quatro níveis, colocando na receita um alto teor de desgaste e escolhendo a seu bel prazer quais tipos deveriam ser levados a cada corrida, o espetáculo proporcionou uma série de vencedores distintos em cadeia e fez o público sorrir e se empolgar com a ‘segunda temporada’ da nova série, encerrada do jeito que foi em Interlagos. Vilanizada por poucos – os pilotos e as equipes que não se entenderam bem com as borrachas –, a coadjuvante maior deixou para trás os artifícios da asa móvel (DRS) e do Kers. E a empolgação levou os diretores a pedirem que os pneus dessem novo chacoalho na temporada seguinte, isto é: pneus novamente distintos com altíssimo grau de degradação.
 
A coadjuvante se animou demais com o papel principal.
Os pneus em seu grande ato (Foto: Pirelli)
 
Já se ouviam vozes dissonantes na pré-temporada de que os pneus, mesmo em temperaturas baixíssimas, não duravam grande coisa. Os então atores principais iniciavam um muxoxo com a luz da nova protagonista. O brilho da Lotus na Austrália denotava que Ferrari e Red Bull não haviam lido direito o roteiro. Na Malásia, os taurinos decoraram todas as falas – só a de Webber que não; problema de coxia –, mas nas ocasiões em que não recebia os aplausos da forma que queria, resmungou. A Mercedes mostrou nas três provas seguintes que só fazia o primeiro espetáculo do fim de semana com impecável atuação, mas caía ao nível de Cigano Igor no segundo. Com o texto na ponta da língua, a Ferrari não teve do que reclamar, principalmente nas turnês da China e da Espanha. E nem a Lotus.
 
A Red Bull, então, liderou o movimento contra a sua antagonista e chegou, batendo a porta: “É isso mesmo, produção?”. De fato, o tanto que os pneus desgastavam provocava um mundo amplamente artificial nas corridas, levando às vezes os pilotos a quatro ou cinco paradas, além de diminuírem a ação dos carros e até dos pilotos, que não podiam acelerar ao máximo sempre para serem pedestal das borrachas. As brigas por posições acabavam não existindo porque se sabia que não havia condições ou porque as táticas eram diferentes. A prova cabal aconteceu em Barcelona: Kimi Räikkönen sequer fez menção de se defender do ataque de Fernando Alonso no fim. Mas foi o pessoal de apoio que mostrou mais: os estouros de Paul di Resta, nos ensaios, e de Jean-Éric Vergne, na corrida, indicaram que, mesmo os pneus mais duros não resistiam, isso em temperaturas relativamente amenas. E justamente no fim de semana que a Pirelli já havia trazido uma quinta especificação mais resistente.
 
A direção da F1 controlou sua sanha e a atuação over da Pirelli. Se havia uma previsão de mudança para a Inglaterra, trataram de antecipá-las no script a partir do Canadá, resgatando as bases de pneus do ano passado. Não é muito correto culpar – se é que é o termo adequado – culpar a fabricante italiana pela dependência que a própria F1 criou dela. A Pirelli exagerou na dose, de certa forma trazendo riscos quando se vê que seus pneus começam a explodir aleatoriamente e até criando uma imagem negativa de seus produtos, mas se o fez, é porque teve anuência de alguém. É até justo trazer à tona os outros que fazem da F1 um show, mas nunca é normal que se mude o mocinho numa trama a pedido do próprio grupo e o transforme em bandido. Na evidência de uma ‘guerra contra os pneus’, quem havia se planejado ser o elenco de apoio sonhando em brilhar – Lotus, principalmente – acaba sofrendo as consequências.
 
As respostas hão de vir logo dos espectadores. Se a F1 cair de produção com as alterações previstas, o público sabe onde mirar para tacar os tomates.
 
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Q1: Nada que vá mudar o dólar ou o euro, mas a Marussia vai ter de fazer uma decisão importante: ser McLaren ou Ferrari nesta vida. A equipe é associada ao time inglês, mas tem um piloto na equipe, Jules Bianchi, que vem da casa de Maranello e pode indicar um acordo com os motores italianos para 2014, com a saída da Cosworth. Só que o grupo de Martin Whitmarsh, como anunciado nesta quinta, será Honda a partir de 2015.
 
Q2: Tem Pole Day da Indy 500 no fim de semana, um dos momentos mais legais do ano do automobilismo. E a Indy vive um momento bem legal, com Sato na liderança e Hinchcliffe no posto de novo astro da categoria. James que imita Räikkönen muitíssimo bem e tem guiado como o finlandês.
 
Q3: Falando em termos nacionais, CBA… tá tudo bem na Federação do DF? Mesmo?
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